sexta-feira, 30 de julho de 2010

O piloto do dia - Patrick Depailler (5ª parte)

(continuação do capitulo anterior)

Depois da corrida, a Tyrrell ganhou esperanças de uma excelente temporada, mas a estreia do Lotus 79, o carro de efeito-solo, praticamente destruiu quaisquer ambições e esperanças da Tyrrell de ir longe. Mas não foi o chassis idealizado por Colin Chapman que impediu Patrick Depailler de continuar a lutar pelo título. Problemas mecânicos nas quatro provas seguintes, Zolder, Jarama, Anderstorp e Paul Ricard, impediram de marcar pontos.

Pelo meio, Depailler participou mais uma vez nas 24 Horas de Le Mans, a bordo de um Alpine-Renault, modelo A443, e desta vez ia correr ao lado do seu amigo Jean-Pierre Jabouille, agora seu rival na Renault. Ambos fizeram o tempo mais rápido nos treinos e eram os claros favoritos à vitória, tão ambicionada pela marca francesa, que queria conseguir antes de se concentrarem nas operações da Formula 1. Na partida, Jabouille ficou com o primeiro turno, mas após uma hora entregou a Depailler. O carro sofria com problemas de vibração, o que fez cair até ao quarto posto, mas após algumas passagens pelas boxes, o problema foi resolvido.

Quando isso aconteceu, a noite caia em Le Mans, e Depailler fez um tremendo esforço para chegar à frente da corrida, algo que conseguiu pelas 23 horas. Com a regular troca de pilotos, ambos tinham conseguido no inicio da manhã uma vantagem nada desprezível de nove voltas sobre o segundo classificado, o outro Alpine-Renault tripulado pela dupla Didier Pironi/Jean-Pierre Jassaud. Jabouille ainda teve a força de fazer a volta mais rápida no processo.

Contudo, perto das dez da manhã, as esperanças de uma vitória por parte dos dois pilotos foram destruídas quando o motor explodiu nas Hunaudriéres. As esperanças de Depailler em ganhar a mítica prova francesa, pouco mais de um mês após a vitória no GP do Mónaco esvaiam-se. E Pironi herdou a vitória, significando quase de imediato o encerramento das actividades da marca na prova de Endurance.

Depois disto, voltou à Formula 1 e à Tyrrell. Só em Brands Hatch é que marcou os seus primeiros pontos, um quarto lugar, numa corrida bem disputada, onde fez mais uma das suas típicas corridas de recuperação após um furo num pneu. Em Hockenheim, a sua corrida acabou nos primeiros metros, ao envolver-se numa carambola com o Arrows de Rolf Stommelen e o McLaren de Patrick Tambay. Mas na prova seguinte, na Áustria, as coisas seriam completamente diferentes.

Apesar de nos treinos, Depailler não tenha ido mais longe do que o 14º posto na grelha, no dia da corrida, o tempo estava instável. Na partida, Depailler esteve soberbo, subindo rapidamente até ao terceiro posto, mas na sétima volta, os céus se abateram sobre Zeltweg e a prova foi interrompida, quando seguia na segunda posição.

Após um compasso de espera, a prova regressa à activa, com os carros alinhados nas posições em que estavam quando a corrida parou, e os tempos das duas corridas iriam ser somadas. Na partida, Depailler tomou momentaneamente o comando, mas logo a seguir, foi superado por Ronnie Peterson. Depois mudou para pneus slicks e envolveu-se numa batalha com o Shadow de Hans Stuck e o Ferrari de Gilles Villeneuve, mas no final, Depailler levou a melhor e subiu ao pódio.

Parecia que as coisas iriam melhorar, mas na Holanda, voltou tudo ao mesmo: desistência devido ao rebentamento do motor, na volta doze. Em Monza, Depailler terminou, mas paenas no 11º posto, numa corrida marcada pela carambola da partida e os ferimentos mortais do sueco Peterson, seu colega na Tyrrell no ano anterior.

Por esta altura, era considerado como hipótese em algumas equipas, nomeadamente na Ligier. Guy Ligier aproximara-o para saber se estaria interessado em guiar para ele, pois iria alargar a equipa para dois carros e iria alinhar ao lado do seu compatriota e amigo, Jacques Laffite. Depois de algum tempo em reflexão, Depailler aceitou o convite da Ligier e assinou para a temporada de 1979. Até lá, conseguiu um quinto lugar no GP do Canadá, que naquele ano estreava o circuito de Notre-Dâme, em Montreal. No final da temporada, Depailler tinha conseguido 34 pontos e o quinto lugar de um campeonato que tinha começado de forma tão prometedora, mas que no final sairia numa desilusão.

Em 1979, a Ligier preparava uma máquina que poderia ser avassaladora no pelotão. O chassis JS11 era um carro bem construído em termos de aproveitamento do efeito-solo, e aparentemente, o duelo entre Depailler e Jabouille iria ser impiedoso, dado que Guy Ligier, seu patrão, tinha dito que ambos os pilotos iriam ter máquinas iguais e estatuto igual na equipa. Nos primeiros testes que ele fez com o novo carro, em Dezembro de 1978 em Paul Ricard, Depailler estava impressionado com o projecto elaborado por Gerard Ducarouge e afirmara que era um dos melhores carros que jamais guiara.

E era nesse estado de espírito que a Ligier ia para a primeira prova do ano, na Argentina. Desde o inicio do fim de semana que os Ligier estavam simplesmente perfeitos. Contudo, não conseguiu melhor do que o segundo lugar, batido pelo seu companheiro Laffite. Na partida, Depailler liderou as primeiras dez voltas, até que Laffite o passou. A partir dali, ambos os carros rodaram juntos até que Depailler começou a sentir problemas de motor, que o levaram às boxes, caindo para o quarto posto, lugar onde acabou quando foi mostrada a bandeira de xadrez. O seu companheiro Laffite foi o vencedor.

Em Interlagos, o filme foi o mesmo, onde Laffite voltou a vencer, e Depailler ficou atrás dele para complementar a dobradinha, a primeira da marca francesa. Ele tentara apanhar Laffite, mas problemas de direcção, complementadas com pilotos atrasados o impediram de assediar convenientemente o seu companheiro de equipa. Após duas corridas, Laffite tinha 18 pontos, contra os nove de Depailler.

Em Kyalami, Depailler bateu Laffite, mas aqui os Ferrari estreavam o seu modelo 312T4, e estes foram os melhores na alta altitude sul-africana. Partindo do quinto posto, a corrida de Depailler acabou na volta quatro, quando se despistou na Barbeque Corner, vitima de um despiste, pois tinha apostado em pneus secos numa pista ainda molhada devido a uma tromba de água no inicio da corrida, que tinha interrompido a prova.

Em Long Beach, os Ferrari estavam num excelente fim de semana, com Gilles Villeneuve a conseguir a polé-position, com Depailler a ser quarto. Na partida, ele saltou para o segundo lugar, onde entrou em luta com o Ferrari de Jody Scheckter. Mas cedo, ambos foram passados pelo Tyrrell de Jean-Pierre Jarier, e pouco depois, foi ultrapassado pelo sul-africano. Pouco depois, começou a sofrer alguns problemas de travões, que o fizeram perder posições para o Williams de Alan Jones e o Lotus de Mário Andretti. No final, acabou no quinto lugar, beneficiando a desistência de Jarier.

Jarama era o palco do primeiro GP europeu, com os Ligiers de novo a brilharem na pista. Laffite e Depailler conseguiram o monopólio da primeira fila, e na corrida, as coisas iriam mostrar que aquele iria ser de novo o seu dia. Partindo melhor, deu tudo por tudo nas primeiras voltas, elevando o ritmo. O seu companheiro Laffite, na volta 16, falhou uma passagem de caixa e fez explodir o motor. Com isso, diminuiu o ritmo e controlou o andamento até à meta, conseguindo a sua segunda vitória na sua carreira. Ladeado por Carlos Reutemann e Mário Andretti, pilotos da Lotus, Depailler disse depois que “esta tinha sido uma vitória fácil”.

A prova seguinte era em Zolder, o GP da Bélgica. Depailler conseguiu o segundo tempo, sendo apenas batido pelo seu companheiro Laffite, mas estava confiante de que poderia fazer a mesma coisa que fez em Espanha. Na partida, conseguiu a liderança, com Jones e Laffite logo a seguir. Mas desta vez estes reagiram e na volta 19, Laffite passou-o, com Jones a fazer idêntica manobra três voltas mais tarde. Pouco depois, Jones ficou com o primeiro lugar, mas abandonou na volta 39. Por esta altura, os dois Ligiers combatiam entre si pelo primeiro posto, mas na volta 46, travou tarde demais numa das chicanes e abandonou logo ali. No acidente, iria magoar o pulso, o que colocaria dúvidas acerca da sua participação na corrida seguinte, o GP do Mónaco.

Na pista monegasca, já curado das lesões no pulso, conseguiu o terceiro melhor tempo e estava confiante de que as coisas iriam correr bem na corrida. Contudo, o resultado final iria ser algo frustrante, mas aqui, a culpa não seria dele. Na partida, Depailler perdeu o terceiro lugar a favor de Niki Lauda, no seu Brabham, mas o pior veio depois, quando na volta 19, um ultra-otimista Didier Pironi tentou ultrapassá-lo no gancho da Loëws, tocando-o com a roda traseira esquerda. O acidente fê-lo cair para o 14º lugar, estragando-lhe a corrida, mas a partir dali efectuou uma corrida de recuperação até ao quinto lugar, altura em que ficou bloqueado atrás do McLaren de John Watson. Quando finalmente o passou, a oito voltas do fim, marcou a volta mais rápida e iria conseguir pontos quando o seu motor explodiu na última volta, caindo para o quinto lugar, numa corrida onde os Ferraris fizeram dobradinha.

Depailler tinha agora 22 pontos, e estava nos lugares da frente do campeonato. Estava confiante que com desenvolvimento adqequado, poderia ser mais eficaz do que os Ferrari. Como faltava ainda um mês até à próxima corrida, o GP de França, aproveitou esse tempo para praticar desportos ao ar livre ao pé da sua casa. E foi aí que o sonho virou pesadelo.

(continua)

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