sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Grand Prix (numero 46 - Gran Premio de España - III)

17 de Abril de 1970, Jarama, Espanha.

A reunião fora agitada. Com o director de corrida a explicar a situação, e as equipas a barafustarem, especialmente as mais pequenas, a unica coisa que tinham de fazer era aceitar a situação e dar o seu melhor, sabendo que tinham mais um obstáculo para poder competir calmamente dali a dois dias em paragens espanholas.

Após a reunião, houve a primeira sessão de qualificação. AS coisas até andaram sem grandes novidades, excepto o facto de Pierre de Beaufort ter-se despistado no treino devido a problemas de travões. O drama nem era tanto por aí, mas sim porque isso aconteceu mal saiu das boxes e não marcou qualquer tempo, o que adicionou mais drama à situação. O campeão do Mundo com possibilidades de nem sequer alinhar na corrida? Esse seria um grande drama!

- Sacré Bleu! Vocês tentam matar-me? Eu não ponho os pés no carro enquanto não puserem travões novos!
- Tem calma, Pierre. É defeito de fábrica, vamos montar uns veios novos até amanhã e podes treinar-te à vontade, afirmou o director desportivo, Jean Miquelon.
- Não tenho jeito nenhum para ser mártir. Já na Africa do Sul pensava que iamos ganhar sem problemas, mas no final, tivemos um problema mecânico. Mas isso não está resolvido?

- Essa parte está, mas sabes como é um carro novo: resove-se um problema, aparece outro. Este será resolvido a tempo de amanhã. Basta marcares um tempo com calma e sem problemas e no Domingo ganhas.
- Domingo serão 90 voltas. Esta coisa aguenta?
- Acreditamos que sim. O Gilles andou no carro sem problemas.

- Espero que sim. Não sei se sabes, mas temos mais um obstáculo à frente. E deste tipo de obstáculos, já nos basta o Mónaco. - Eu sei, confia em nós.

Algumas dezenas de metros mais adiante, um grupo de jornalistas e fotógrafos estavam perante o carro da Eagle, fotografado com as novas cores e apresentado com pompa e circunstância por Pete Aaron, o presidente do Real Automóvel Club da Sildávia, Jorge Saboga, e pelo seu piloto Alexandre de Monforte. Ao lado, no muro da boxe, a equipa via a cerimónia. Os manos O'Hara, Pam Aaron, alguns mecânicos e outros membors de outras equipas que, entre o curioso e o intrigado, querem saber o que se passava. Depois dos discursos de circunstância, os jornalistas fizeram algumas perguntas:

- Quais são as suas perspectivas para esta temporada?
- Aprender o mais que posso, porque este ano estou virado para a Formula 2.

- E o que espera aí?
- Vencer o campeonato. Há boa concorrência e espero batê-la.
- E aqui, quem acha que vai ganhar o campeonato?
- Está tudo em aberto, que o melhor vença.
- Poderá fazer outras provas?
- Se o calnedário permitir, sim, claro. O meu unico compromisso é com a Tecno, na Formula 2, que me paga a época. Aqui, sou eu e a federação, claro, que sustentam esta minha aventura na Formula 1, com a assistência da Apollo, do senhor Pete Aaron.

- Sr. Aaron, considera-o como um bom piloto?
- Certamente, Mr. Barros. E pelo que vi, quer na Formula 2, que há uns dias em Brands Hatch, que é um piloto a seguir nos próximos meses, senão no ano que vem. Veremos como a temporada decorre.

- Poderá dar um chassis Apollo ainda este ano?

- Talvez, quem sabe? Veremos. Agora minha senhoras e meus senhores, a conferência terminou. Agora voltamos a Madrid, que amanhã teremos um dia longo. Muito obrigado.


A pequena multidão dispersou-se, com alguns grupos a falarem uns com os outros sobre vários assuntos. Pete ficou com Alexandre, no muro das boxes, com os Manos O'Hara e Teddy Solana sentados à sua frente, com os mecânicos à volta dos seus carros como pano de fundo.

- Seja bem vindo ao grupo, Alex, afirmou John O'Hara, estendendo a sua mão.
- Muito obrigado, mas vocês já me conhecem.

- Eu sei, mas agora és dos nossos, retorquiu.


Sinead saltou do muro e estendeu também a mão para que Alex pudesse apertar. Este durou alguns segundos, de forma normal, até que ele apertou um pouco, com forma de dizer:

- Que idade tens, John?
- Fiz 29 há pouco tempo, porquê?

- E que idade tem a tua irmã?

- Até há pouco tinha 24...
- Caramba... por pouco.
- Porquê?
- Faço 24 este ano. Já vi que fizeste...

- ... em Fevereiro. E tu fazes?
- Em Julho. Dia 1, para ser mais preciso.

- Suspeito que estejas a atirar à minha irmã, interrompeu John.


Alexandre soltou uma gargalhada e disse:

- A tua irmã é bonita, e confesso que gosto de raparigas como ela: cabelo escuro e olhos claros. Mas... confesso que não quero ninguém neste momento.
- Porquê?
- Até encontrar alguém em contrário, estou casado com o automobilismo. Acreditem, é verdade.

Todos ouviram isso com atenção. Era algo novo, da parte deles, pois fora das pistas, todos tinham a sua vida. Pete era casado com uma pessoa que suportou as suas angustias e perigos. A maior parte dos pilotos que ali andavam eram casados ou tinham namoradas fixas. Teddy Solana, por exemplo, casou-se aos 16 anos, com a autorização dos seus pais e os dela, na Cidade do México, e já eram pais de um casal. Raramente Débora Solana era vista nos circuitos, mas da última vez que apareceu, veio acompanhado do seu filho mais velho, que já tinha uns respeitáveis doze anos.

E Teddy tinha trinta.
John era diferente. Saltava de namorada em namorada, e já começava a ter fama de "playboy", mas desde há meio ano que namorava com uma jovem americana da mesma idade, que aparecera em Watkins Glen para tirar fotos aos carros. Pediu um autógrafo a ele e desde então estavam juntos. Naquele fim de semana não podia ir vê-lo, mas iria aparecer na prova seguinte, no Mónaco.

O sol deslizava lentamente no horizonte da meseta espanhola. Aquele local, que quase trinta e dois anos antes vira decorrer uma das mais encarniçadas batalhas da Guerra Civil Espanhola, repousava agora naquela paz dos cemitérios, tipica de um país sob um regime de um autocrata já envelhecido, do qual algums começavam a contar os dias para que o tempo levasse o Generalíssimo do seu Palácio do Pardo para o Vale dos Caídos, no pensamento de uns, e para o Quinto dos Infernos, no pensamento de alguns outros, que por medo não expressavam o que sentiam. Pelo menos no interior das suas fronteiras.


Mas em Jarama, as pessoas que estavam dentro do circuito, mecânicos, pilotos, jornalistas e demais estavam mais ocupados em ter os carros prontos a tempo para a qualificação do dia seguinte. Faziam-no em tendas e barracas improvisadas, ao mesmo tempo que alguns outros faziam a longa viagem rumo a Madrid e aos hotéis. Os mecânicos em sitios mais modestos, os pilotos e patrões na Gran Via. Aquela sexta-feira terminava calmamente, mas Sábado seria para algums pessoas, o dia do tudo ou nada.


(continua)

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