sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Grand Prix (numero 74 - Hockenheim, parte II)

(continuação do capitulo anterior)

Com o passar dos minutos, os carros estavam prontos para as primeiras voltas daquele dia no veloz circuito alemão. Ao sairem da boxe, os carros fazem uma curva à direita, que os coloca dentro da floresta que circunda a pista. Andam por quase um quilómetro, numa falsa curva, até chegarem à primeira chicane, onde reduzem a velocidade. Depois, voltam a acelerar, até chegarem perto dos 280 km/hora, onde fazem a Ostkurwe (Curva Oriental), num "relevê" invertido e voltam a acelerar em direcção da segunda chicane, onde cortam ligeiramente para a esquerda, ainda em alta velocidade. Depois, voltam a acelerar a fundo até chegarem ao Stadion, um complexo de bancadas onde as curvas são bem mais apertadas. Primeiro à direita, depois travam a fundo para virarem à esquerda. Depois aceleram à direita, onde tentam sair o melhor que podem para ganhar balanço até à meta ou até à curva à direita, para começarem a fazer nova volta.

Um por um, eles saem para fazer as suas melhores voltas. Não ficam mais do que dez carros de cada vez, tentando marcar um tempo que lhes permita ficar dentro dos qualificados. No topo da tabela de tempos, Ferrari e Matra estão lá, graças aos seus motores V12. Mais em baixo estão os "rookies" da jordan, pois tinham tirado as asas, na tentativa de conseguirem ganhar mais tempo nas rectas, mas as chicanes provaram ser um factor para que a eficácia desses carros fosse menor, para além de que estes ficariam mais instáveis. Primeiro Medeiros, depois Kalhola, colocaram as asas no seu devido lugar e melhoraram os seus tempos, ficando mais ou menos a meio da tabela. Assim salvou-se o dia na equipa Jordan.

Quando terminou o treino de sexta-feira, Philippe Charles de Beaufort era o melhor na tabela de tempos, mas Patrick Van Diemen vinha lá atrás. As duas posições seguintes eram uma repetição da primeira fila, com Carpentier a ser melhor do que Bernardini. A terceira fila nessa tinha Pieter Reinhardt ao lado de Alexandre de Monforte, e depois vinha Peter Revson e Bob Turner. E para finalizar o "top ten" estavam Teddy Solana e Anders Gustafsson, à frente dos Jordan de Pedro Medeiros e Antti Kalhola.

Poucos minutos depois do final da sessão, um reporter da TV alemã lhe perguntava a Alexandre sobre as suas impressões do circuito. Ele respondeu em inglês:

- É um circuito veloz, mas seguro. Aqui se vê que não aceleramos continuamente como em Monza, tem duas chicanes e o Estádio, onde podemos abrandar, logo, os motores não são tão castigados como no circuito italiano. Pelo que me contam, o circuito austriaco vai ser algo parecido, com barreiras de protecção e um asfalto novo, vamos a ver. Para já, estou a gostar de Hockenheim e espero que este seja um fim de semana sem incidentes.
- E os seus adversários de hoje, como os encara?
- Sabe, eu não sou um candidato ao título, sou mais um 'outsider'. Venho aqui para conseguir pontos e nada mais. Se amanhã der para melhorar o meu tempo, otimo. Se isso me der a pole-position, também seria excelente. Mas o que quero aqui são duas coisas: ganhar experiência e conseguir pontos. Nâo estou obcecado pela vitória, é o que lhe digo. Deixo isso para o Beaufort, o Reinhardt e o Van Diemen, concluiu, sorrindo.
- Obrigado, Alexandre, pelas suas palvras.
- Eu é que agradeço, respondeu.

Pouco depois, Teresa chamou-o para ir ter com um grupo de jornalistas do seu pais para lhes falar sobre aquele dia, mas em português, e dali a pouco, iria falar com mais um grupo de hispanicos, em espanhol. De facto, cada vez mais e mais pessoas deslocavam-se aos circuitos para fazer reportagens sobre um mundo cada vez mais mediático, e os pilotos tinham de se desdobrar em cada vez mais entrevistas, para dizer exactamente as mesmas coisas a grupos diferentes. Era um desporto que começava a ser cada vez mais mediático.

- Ufa, estou estafado - disse, ao entrar na caravana - nunca pensei que visesse o dia em conversar com as pessoas fosse tão extenuante como guiar um Grande Prémio.
- Não digas nada, e eu ainda tenho de controlar esta gente toda.
- Isto está cada vez mais e maior. Agora que começo a ganhar, vêm o pessoal todos de lá. Há uns meses eram meia dúzia, agora vão duas dúzias...
- E quando organizarmos o Grande Prémio...
- Isso demora. O Saboga quer aproveitar a estrada que estão a fazer à volta de Monforte para a converter parte dela em circuito. Seria algo parecido com Montjuich, mas mesmo assim, quer atravessar o centro da cidade. Eu por mim, era aproveitar tudo e deixar o centro. Escolhia-se uma área para as boxes e o "paddock" e pronto, já tinha o circuito dos seus sonhos, sem prejudicar o trânsito.
- Já falaste com ele?
- Não, não nos últimos dias. Está de férias, foi pescar espadartes ou coisa assim...
- Onde?
- Flórida ou Bahamas. É a segunda taradice desse homem: pesca desportiva. Nunca foste à casa dele, pois não?
- Não.
- Quando o meu avô conheceu, há uns quinze anos, ele o convidou para organizar as corridas em Monforte. Em troca, convidou-o para uma pescaria, porque o meu avô também gostava de pescar. Ele disse que preferia fazer isso do que caçar. Matam animais na mesma, mas enfim... só que o meu avô pescava no rio, enquanto que ele vai para o alto mar, para pescar tubarões, espadartes... pesca grossa, em suma.
- E então?
- Ele tem uma colecção de troféus que não podia imaginar. Concursos em Espanha, Bahamas, Cuba, Estados Unidos, Africa do Sul... é incrivel, e tem fotos de algumas das capturas. Já pescou espadartes de 250 quilos, tubarões tigre com seiscentos e tal... só vendo.
- E tu gostas da pesca?
- Não, nem isso, nem a caça. Gosto de desportos de sofá, onde posso caçar fêmeas como tu, afirmou enquanto se encostava a ela e beijava o pescoço. Teresa afastou-se delicadamente, afirmando:
- Adorava, mas tenho trabalho para fazer. Tenho de escrever o dia e guardar as fotos, pois só vou revelar isto tudo no Domingo ou Segunda-feira, na Grã-Bretanha. Porquê é que não vais andando para o hotel?
- Ainda não. Tenho de falar com o pessoal sobre o carro e só depois é que vou.

Nessa altura, batem à porta da caravana.

- Quem é? pergunta Teresa.
- É o Pete. O Alex está aí?
- Eu estou. Passa-se algo?
- Vamo-nos reunir agora.
- OK, já vou.

Alexandre deu-lhe um beijo na boca de Teresa e disse:

- Bom trabalho.

Abriu a porta e compôs o fato de competição. Fechou-o e ele disse:

- Que faziam?
- Nós? Descansávamos. E então?
- Temos de discutir as coisas para amanhã.
- Vão tirar as asas? Olha que não servem de nada...
- Não é isso...

(continua)

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