Uns chamam-no génio. Outros chamam-no de ditador. Muitos gostariam de o ver por detrás das costas, mas todos reconhecem que a Formula 1 nos últimos 40 anos não pode ser escrita sem esta personagem que afirma amar fazer negócios do que ganhar dinheiro. José Carlos Pace apelidou-o certa vez de "anãozinho tenebroso", e muito provavelmente é totalmente verdade, pois sempre que abre a boca, é para causar polémica. Mas parece que gosta e sabe que assim é o centro das atenções. Provavelmente devia ser esse o seu sonho. Na semana em que comemora 80 anos e não dá sinais de abrandamento, hoje falo de Bernie Ecclestone, um homem cujo sonho é fazer negócios e que não deixa ninguém indiferente.
Nascido a 28 de Outubro de 1930 em Londres, Bernard Charles Ecclestone nasceu em Bungay, no Suffolk inglês, tendo mudado em criança para o condado de Kent, não muito longe do circuito de Brands Hatch. Crescendo durante a II Guerra Mundial, apaixonou-se pelo motociclismo e descobriu também por essa altura o seu jeito para o negócio. Em 1946, aos 16 anos, abandonou a escola e foi trabalhar numa bomba de gasolina, para sustentar o seu hobby de correrdor de motocicletas. Em 1949, aos 19 anos, conheceu Fred Crompton e juntos fizeram uma companhia que vendia peças para motos, a Crompton & Ecclestone. Dois anos depois, interessou-se pelo automobilismo e comprou um Cooper 500, correndo no ano seguinte nas várias provas de "club tracks", que prosperavam após a II Guerra Mundial. Não era um piloto de ponta, mas ocasionalmente vencia corridas.
Contudo, um dia teve uma colisão forte com Bill Whitehouse que o fez voar para fora da pista. Milagrosamente, não ficou ferido, mas começou a ver o lado perigoso das corridas e começou a aparecer de forma mais espaçada. Em meados da década de 50, decidiu abandonar o lado competitivo devido aos seus crescentes interesses negociais. Começou a negociar em terrenos urbanos e foi aí que começou a construir a sua fortuna pessoal.
Em 1957, Ecclestone decidiu ser o manager de um promissor piloto chamado Stuart Lewis-Evans, e em consequência entrou no capital da Connaught, que tinha uma equipa de Formula 1. Ele também começou a acautelar os interesses de outros pilotos como Roy Salvadori, Ivor Bueb e Archie Scott-Brown, e também tomou conta da equipa na categoria máxima do automobilismo. No GP do Mónaco de 1958, até tentou, em desespero, colocar um dos seus carros na grelha de partida... assumindo o volante. Diga-se que ele não conseguiu, e foi a sua única experiência como piloto. Tentou a mesma coisa no GP da Grã-Bretanha, mas cedeu o carro para Jack Fairman.
Quando Lewis-Evans se mudou para a Vanwall, Ecclestone continuou a ser o seu manager, mas as suas hipóteses de o ver campeão do mundo sofreram um abalo quando este tem um acidente grave no GP de Marrocos, a última prova do ano. Lewis-Evans sofreu queimaduras graves e mesmo transportado para Londres, não resistiu aos ferimentos e acabou por morrer alguns dias depois. Isso foi o suficiente para que a Vanwall afastasse da Formula 1 e Ecclestone também se afastasse do automobilismo por algum tempo.
Contudo, manteve-se em contacto com Roy Salvadori. E quando este decidiu passar para o papel de "manager", este foi para a Cooper, onde em meados de 1964 acolheu um jovem austriaco, muito rápido e muito rebelde no trato chamado Jochen Rindt. Salvadori achou que ele deveria chamar o seu amigo Ecclestone para acautelar os seus interesses, e assim o fez. Ecclestone, para além de se tornar o manager de Rindt, tornou-se também num bom amigo, pois tinham interesses em comum.
No final dos anos 60, com a entrada dos patrocínios na Formula 1, para além do poder da televisão, que começava a transmitir em directo os Grandes Prémios para uma audiência cada vez mais vasta. Ecclestone e Rindt começavam a perceber o potencial e começaram a montar uma operação de "marketing" e "merschandising" à volta de Rindt: camisolas, bonés e um programa de TV na Austria. Era o "The Jochen Rindt Road Show". A coisa chegou ao ponto de, quando Rindt arranjou o seu capacete integral, a partir do GP da Alemanha de 1970, ele e Ecclestone colocaram autocolantes a dizer "este espaço está à venda"...
Ecclestone e Rindt tinham planos para o futuro próximo, após a sua retirada da competição. Tinham comprado parte da equipa na Formula 2 da Lotus, e a ideia era levar Emerson Fittipaldi no ano seguinte para a sua equipa. Contudo, a 5 de Setembro de 1970, Rindt morre nos treinos para o GP de Itália, e os seus planos são interrompidos. Até hoje, é a única coisa do qual Ecclestone não fala sem que se comece a emocionar.
Aos 40 anos, considera abandonar de novo o negócio da Formula 1. Mas poucos meses mais tarde, foi abordado por Ron Tauranac com o objectivo de saber se estaria interessado em comprar a Brabham. No ano anterior, Jack Brabham, então com 44 anos, abandona a competição e regressa à Austrália para gozar a reforma, vencendo a sua parte para o seu amigo projectista. A temporada de 1971, que correram com Graham Hill e Tim Schenken, não estava a correr muito bem, e Tauranac não conseguia concentrar-se acumulando as duas funções. Para piorar as coisas, começava a ter dificuldades em arranjar as cem mil libras anuais necessárias para manter a sua equipa de Formula 1, bem como as suas operações na Formula 2. Assim sendo, perguntou a Bernie se estaria disposto a comprar a equipa por cem mil libras. Bernie acedeu e Tauranac voltou à sua antiga função.
No inicio de 1972, já como "manager" da Brabham, e conhecedor da realidade da Formula 1, achou que era tempo dos construtores se unirem para defender os seus interesses perante os organizadores das provas e os proprietários dos circuitos. Em conjunto com Frank Williams (Williams), Ken Tyrrell (Tyrrell), Teddy Mayer (McLaren) Colin Chapman (Lotus) e... Max Mosley (March), fundou a Formula One Constructors Association (FOCA), e começou a reivindicar alterações nos circuitos, nos carros e uma fatia do bolo cada vez mais crescente dos direitos comerciais e televisivos. Por fim, Ecclestone começava a sentir-se como peixe na água.
Mas ele não descurava as coisas na sua equipa. Após um periodo de conflito com Tauranac, este despediu-se, no final de 1972, e Ecclestone arriscou ao apostar as suas fichas num jovem projectista sul-africano, de 26 anos, chamado Gordon Murray. Pouco depois, Ecclestone contratou outro jovem, Herbie Blash, para o lugar de "team manager" A parceria deu sucesso nas catorze épocas seguintes, vencendo por 22 vezes e conseguindo dois títulos de pilotos.
Ao longo dos anos 70, Ecclestone contratou pilotos de qualidade como Carlos Reutemann, José Carlos Pace, John Watson e Niki Lauda, mas também pilotos pagantes como Wilson Fittipaldi, Rolf Stommelen, Richard Robarts, Rikky Von Opel, os dois últimos de qualidade mais do que duvidosa... Em 1975, Ecclestone decide contrariar a tendência no pelotão de correr com os fiáveis motores Cosworth V8 para correr com os Alfa Romeo 12 cilindros, preparados pela Autodelta, de Carlo Chiti, cujos motores eram mais pesados, mais gulosos e menos fiáveis que os Cosworth. A parceria estreou-se em 1976 foi tortuosa: para pilotos e para Gordon Murray, que tinha de tentar achar um chassis suficientemente eficiente para compensar o peso e o consumo do motor italiano.
(continua)
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