No WTCC, o fim de semana macaense já tinha um campeão do mundo, o francês Yvan Muller. Tinha também outros pilotos que lutavam para um lugar de honra no campeonato, que queriam vencer nas suas categorias ou fazer um brilharete. Mas havia um piloto em particular que corria não pelo resultado em si, mas por alguém. Era André Couto, um português radicado há muitos anos em Macau.
No final da década passada, Couto era uma das esperanças portuguesas para chegar à categoria máxima do automobilismo. Foi o primeiro local a ganhar a corrida de Formula 3, em 2000, no mesmo ano em que andou na Formula 3000, ao lado de Sebastien Bourdais. No ano anterior, tinha sido companheiro de Stephane Sarrazin. Actualmente, corre no Super GT japonês, mas sempre que o WTCC corre em Macau, ele arranja um carro.
Contudo, a sua vida sofreu um abalo no final do ano passado quando lhe diagnosticaram uma rara leucemia ao seu filho Afonso. Os apelos para que se encontrasse um doador foram fortes, e imensa gente correu para dar sangue. Mas o tratamento agressivo a que foi sujeito lhe deixou debilitado, e uma infecção no inicio de Outubro acabou por o matar a 3 de Novembro, tinha apenas sete anos de idade.
Mesmo assim, poucos dias depois de enterrar o filho, decidiu que a sua melhor terapia era... correr. Na SR-Sport, a mesma de Tiago Monteiro: "É melhor entrar no carro de que ir a um psicólogo ou psiquiatra", justifica-se o piloto.
"As emoções são muitas... Não sei bem como explicar o que se passa na minha cabeça. A SR-Sport é mais do que uma equipa, pois foi a primeira a fazer campanha pelos dadores de medula óssea. Ajudou desde o início a causa do Afonso. Foi uma verdadeira bola de neve que envolveu pilotos como o Tiago Monteiro e o Gabriele Tarquini. Corri com esta equipa aqui, o ano passado, e ficou uma relação muito especial. Por isso e pelas circunstâncias que estou a viver, este é, de facto, um Grande Prémio especial". disse na passada sexta-feira, numa entrevista ao jornal "A Bola" nas boxes de Macau.
"Correr pelo Afonso, sempre! Independentemente dos resultados, a corrida é sempre para o Afonso. E a equipa vai correr toda para o Afonso", garantiu.
Foi por isso, aliado ao conhecimento da pista, que ele conseguiu um bom décimo tempo na qualificação para as corridas macaenses. Contudo, isso acabou na primeira curva, quando o BMW de Andy Prilaux se despistou e causou uma carambola. Mas nem tudo foi mau, pois o seu compatriota e amigo Tiago Monteiro conseguiu um terceiro lugar, subindo ao pódio, e não esqueceu de o dedicar ao filho de André Couto: "Foi um bocado em memória do Afonso e foi bastante emocionante, sobretudo quando eu vi que o André teve um acidente no início e não sabia o que se tinha passado e por isso este pódio é dedicado ao Afonso", disse depois.
Sempre tive simpatia pelo André. Agora, então, mais ainda. Meus melhores pensamentos e força mental ao André e à memória do pequeno Afonso. Abraços! (LAP)
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