Ao longo da sua carreira com mais de trinta anos, Adrian Newey transformou-se num dos mais bem sucedidos desenhadores de chassis na história da Formula 1, com uma carreira sem paralelo, comparado com nomes como Colin Chapman, na Lotus, Gordon Murray, na Brabham e McLaren, John Barnard, na McLaren e Ferrari, ou Ross Brawn, na Ferrari e Brawn GP. Conseguindo desenhar alguns dos carros mais brilhantes desde o inicio da década de 90, as suas criações conseguiram vencer sete títulos de Construtores, primeiro na Williams, depois na McLaren e agora na Red Bull. Na véspera do seu 52º aniversário, e quando se comemora o seu mais recente título com o Red Bull RB6, falo sobre o chassis no qual venceu o seu primeiro título mundial: o Williams FW14.
Após ter sido contratado à March em Agosto de 1990, Newey comaçou a trabalhar no desenvolvimento do chassis do ano seguinte, que em principio seria uma evolução do FW13. Mas habituado a trabalhar numa equipa com recursos limitados, como a March, com os recursos superiores, Newey aproveitou a situação para colocar as suas ideias, acabando por fazer um chassis mais radical que o anterior, no sentido de dar à Williams e à Renault, a fornecedora de motores, um chassis vencedor.
Os esboços iniciais foram mostrados a Frank Williams, que usou isso como “arma de isco” para atrair à sua equipa um Nigel Mansell que, então com 37 anos, estava determinado a retirar-se da Formula 1, depois de dois anos frustrantes na Ferrari. O chassis, construído em fibra de carbono, era mesmo avançado para o seu tempo, pois estava artilhado de eletrónica: uma caixa de velocidades semi-automática, controlo de tracção e suspensão activa. Era um carro tão sofisticado e tão fácil de guiar que Mansell disse certa vez que “qualquer macaco era capaz de guiar este carro”.
Com Mansell a bordo da equipa, a substituir o belga Thierry Boutsen, que tinha rumado à Ligier, e tendo como companheiro de equipa outro veterano, o italiano Riccardo Patrese, o carro esteve pronto a tempo de correr na primeira prova do campeonato, o GP dos Estados Unidos, em Phoenix. Nessa prova, Patrese e Mansell partiram da segunda fila, mas ambos desistiram devido a problemas na caixa de velocidades, algo que os iam perturbar nas primeiras corridas dessa temporada. Problemas esses aproveitados por Ayrton Senna, no seu McLaren, que ganhou as quatro primeiras corridas do ano. Nesse periodo, o melhor que os pilotos da Williams conseguiram foram dois segundos lugares, em Interlagos (Patrese) e no Mónaco (Mansell).
Só no México é que o carro alcançou a sua primeira vitória, e através de Riccardo Patrese. E poderiam ter conseguido antes, no Canadá, caso Nigel Mansell não tivesse colocado a sua caixa de velocidades em ponto morto a meia volta do final, entregando de bandeja o primeiro lugar a Nelson Piquet...
Mas isso significava que os problemas de juventude tinham sido resolvidos, e o carro poderia mostrar todo o seu potencial. Mansell aproveitou para vencer três provas seguidas, umas das quais em Silverstone, onde ficou famoso por ter dado boleia a Senna na sua volta de desaceleração, após o carro do seu rival ter ficado parado por falta de gasolina. A partir dali, Mansell e Williams lutaram pelo título contra a McLaren e Ayrton Senna, mas um parafuso mal apertado no Estoril e um despiste à décima volta do GP do Japão, em Suzuka, fizeram com que o título caisse nas mãos do piloto brasileiro, bem como o título de Construtores ter ido parar à McLaren. Mas o chassis ainda tinha imenso potencial para dar, e a Williams decidiu continuar com ela para a temporada de 1992, enquanto que o FW15 não estava pronto.
Na pré-época de 1991/92, a Williams melhorou todos os aspectos eletrónicos do carro, desde a caixa de velocidades semi-automática até a suspensão activa, passando pelo ABS e o controlo de tracção, transformando-o num carro cada vez mais controlado eletronicamente, facilitando a vida dos dois pilotos, Patrese e Mansell.
E foi uma temporada dominadora. Mansell venceu as primeiras cinco provas do ano, quatro delas em dobradinha com Patrese, aniquilando a concorrência e quase transformando a temporada de 1992 num facto consumado. Senna somente venceu no Mónaco, somente porque Mansell teve um furo lento a sete voltas do fim e quando voltou, estava atrás de Senna. Somente as ruas estreitas do Principado impediram-no de passar o brasileiro até à bandeira de xadrez.
Mansell conquistou o título na Hungria, em inicios de Agosto, a cinco provas do fim, e o desenho e a filosofia do FW14 tornou-se num guia para as outras equipas, até que a FIA decidiu banir certas ajudas eletronicas no final da temporada de 1993. Quanto à equipa, a dupla de sonho desfez-se no final do ano quando Mansell soube que Frank Williams tinha contratado Alain Prost para a equipa na temporada de 1993. Com a sua má experiência na Ferrari ainda latente, Mansell decidiu ir embora da Williams e da Formula 1, aceitando a proposta da Newman-Haas para correr na CART e alcançar o título de 1993.
Quanto ao FW14, este foi substituido pelo FW15C, que deveria ter corrido em 1992, mas a eficácia do chassis anterior fez adiar a sua estreia por um ano.
Ficha Técnica:
Chassis: Williams FW14
Projectista: Adrian Newey e Patrick Head
Motor: Renault V10 de 3.5 Litros
Caixa de Velocidades: Williams semi-automática se seis velocidades
Pilotos: Nigel Mansell e Riccardo Patrese
Corridas: 32
Vitórias: 17 (Mansell 14, Patrese 3)
Polé-Positions: 21 (Mansell 16, Patrese 5)
Voltas Mais Rápidas: 19 (Mansell 11, Patrese 8)
Pontos: 289 (Mansell 180, Patrese 109)
Títulos: Mundial de Construtores de 1992, e de Pilotos (Nigel Mansell)
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