Por esta altura, as pessoas fazem o seu balanço de 2010. Se foi bom ou mau, se poderia ter sido melhor, se, se, se... O que está feito, feito está, e espera-se que em 2011 prossigam ou melhorem os seus projectos, e que as coisas sejam mais positivas do que negativas, e que sejam otimistas para um futuro de crise que vivemos. Mas eu quero falar sobre uma coisa que aí vem na Formula 1 em 2011. E não fico admirado se em meados de 2011 teremos muitas saudades de 2010... não foi por falta de aviso.
Em 2011 será negociado um novo Acordo de Concórdia. Iremos ouvir e espalhar pela blogosfera os "soundbytes" de ocasião, vindos de personagens como Jean Todt, Max Mosley, Luca de Montezemolo, Frank Williams, Bernie Ecclestone, Flávio Briatore e Ron Dennis. A razão pelo qual estes velhos cães ladram já sabemos: dinheiro. A fatia do bolo que eles querem dividir pelas equipas, tirando de preferência da parte de Bernie Ecclestone (que tem direito a metade dela) vai fazer correr muita tinta e voltaremos a ouvir agitar o fantasma da separação ou da criação de uma série paralela, como aconteceu em 2009. Não ficaria admirado com o acordar da FOTA e as respectivas reivindicações em termos de dinheiro.
Talvez a grande diferença de 2009 seja que desta vez, Jean Todt esteja ao lado das equipas, e que todos pressionem Bernie Ecclestone para que ceda. Desconhece-se se o velho casmurro (mas genial a fazer negócios, não haja dúvida) irá ceder, mas isto tudo será o grande assunto de 2011. Mas não ficaria admirado se todos cheguem a um acordo, cujos pormenores poucos saberão, como das outras vezes. Mas também poderemos ver mais ajustes de contas por parte de personagens que podem estar vencidos, mas não convencidos. E é dessas personagens que mais tenho medo. A entrade de cena de um Max Mosley, tentando retomar ao poder é um cenário que muitos temem que seja suficiente para uma "guerra civil" e consequente separação da Formula 1 em duas categorias, ou a construção de uma série autónoma, onde as equipas possam gerir as finanças, sem ter de dar metade do dinheiro ao Tio Bernie...
Iremos ouvir, certamente, mais episódios da novela "Team Lotus" versus "Lotus Cars". Ver quatro carros, de cores diferentes, a usarem o famoso logótipo ACBC, as iniciais de Colin Chapman. Sabe-se que será em meados de 2011 (alguns falam de Agosto ou Setembro desse ano) que o caso chegará aos tribunais britânicos e dali sairá uma sentença. A História fala por si, e Tony Fernandes pode ter a razão do seu lado, mas os outros prometem não baixar os braços. Não baixam como irão gastar dinheiro com a miríade de projectos que anunciaram para transformar a Lotus em algo grandioso. Vai ser uma altura decisiva para saber se tudo isto não será a megalomania de um louco, que convenceu uma administração inteira a gastar o orçamento de um país... uma coisa é certa: vai ser outro assunto do qual se correrá muita tinta, e veremos quatro carros com o mesmo nome, mas a lutarem uns contra os outros.
Iremos também ouvir muitos "soundbytes", rumores e desmentidos da Hispania, a equipa mais na corda bamba de 2011. Noticias de que tem dinheiro, mas afinal não o tem, que fez um acordo com o piloto X, a troco de Y milhões de dólares, euros ou bolivares venezuelanos de personagens como Juan Ramon Carabante, Colin Kolles ou Juan Villanova, de alguns espanhois que atravessem pelo caminho, se existirem... outra novela cujos episódios irão correr ao longo do ano que aí vem, e cujas dúvidas só serão esclarecidas na devida altura.
Em suma, apesar dos bastidores, espero que oiçamos muito do que se vai passar pela pista. O meu maior temor é que este equilíbrio que aconteceu em 2010 possa ser quebrado por algum chassis dominador. Não acredito, mas pode acontecer. O conjunto de novas regras que vai entrar, com alguns regressos (o KERS) e outras saídas (fim do F-Duct e dos difusores duplos) poderá ser aproveitado da melhor maneira por algum dos génios presentes como Ross Brawn ou Adrian Newey. Afinal, foram as suas interpretações das regras que em 2009 conseguiram inverter o biónimo McLaren/Ferrari e vencer os dois últimos títulos mundiais.
O guião para o grande livro de 2011 na Formula 1 está a ser elaborado neste momento. A única coisa que não sabemos ainda é qual será a grande surpresa que poderá alterar a história. E aí, todas as apostas são válidas. Mas não adianta fazer futurismo. A melhor maneira é vivê-la para contá-la um dia aos nossos filhos e netos.
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