Ele é o homem por detrás da criação do Rali Dakar, a mais famosa corrida de todo o terreno do mundo. Mas as pessoas tem pouca noção de que aquilo que o moveu a criar esta aventura no deserto foi uma experiencia no limite passada por ele em 1977, no deserto libio, onde no meio do desespero, admitou a beleza o deserto e respeitou a sua potência e a capacidade de derrubar os espiritos mais fracos. Mas o rali era a concretização do sonho de um homem que nasceu com o vicio do desporto e da aventura e foi por ela que teve o seu fim precoce. Hoje falo do francês Thierry Sabine.
Nascido a 13 de Junho de 1949 em Neully-sur-Seine, nos arredores de Paris, a sua paixão pelo desporto nasce cedo. Começa a fazer hipismo, chegando aos 14 anos a fazer parte da selecção francesa junior. Aos vinte, larga os cavalos e mete-se no rugby, mas foi uma aventura de curta duração, pois nessa mesma altura, descobriu o motociclismo, quando estudava marketing e comunicação na universidade.
Quando terminou o curso, vai tomar conta da estância de ski de Corbier, enquanto que também se torna no acessor de imprensa da Câmara Municipal de L'Touquetno Pas de Calais francês. Sempre inventivo, propõe ao presidente da câmara um evento que atraia turistas ao local nos meses de Inverno, batizando-o de "Enduro de L'Touquet", uma prova que é realizada nas dunas da vila com o mesmo nome. A prova realiza-se pela primeira vez em Fevereiro de 1975 e torna-se num sucesso e em poucos anos albergando no seu auge cerca de 1200 concorrentes e atrairá mais de trezentos mil espectadores, sempre que é realizada, na primeira semana de Fevereiro.
Sempre inventivo, cria pouco depois a Croisiére Verte, um percurso de enduro que liga de uma ponta à outra de França, de Touquét e Séte, perto da fronteira com o Mónaco. A prova torna-se também num sucesso, mas ele próprio é um viciado em adrenalina. Participa nas 24 Horas de Le Mans de 1976, num Porsche 911 Carrera de Grupo 5, com os seus compatriotas Jean Claude Andretut e Philippe Dragoeau, terminando no 13º lugar da geral, sexto da sua classe. Faminto por adrenalina, concorre em 1977 no rali Abidjan-Nice numa Yamaha XT500 com o objectivo de participar e de ver mais perto o Deserto do Sahara. As coisas correram-lhe bem até que o rali passa pela Libia e Sabine perde-se. As buscas são intensas, e ao fim de alguns dias, sem resultados positivos por parte das equipas de socorro, Sabine é encontrado vivo por acaso, pelo piloto de um avião a monomotor.
Contudo, durante esse tempo, e nessa experiência extrema, Sabine tem uma "epifânia". Atraído pelo deserto, promete que caso saia vivo, iria fazer algo semelhante, mas melhor equipado. Um projecto louco para muitos, mas ao qual Sabine dedicou boa parte do ano de 1978 a projectar o rali, a conseguir autorizações de passagem pelos vários países e a tratar das fornalidades de segurança, entre outros. A ideia era de sair da Praça do Trocadero, após o Natal, e chegar até Dakar em cerca de três semanas, levando os concorrentes através do deserto do Sahara e de regiões tão inóspitas como belas, como o Teneré.
A 26 de Dezembro de 1978, os primeiros loucos alinham à partida: oitenta carros, noventa motos e 12 camiões, ao todo eram 182 veículos, dos quais apenas 74 chegarão à meta em Dakar, a capital do Senegal. Vendo o sucesso da iniciativa, Sabine avisou os concorrentes para os perigos que enfrentariam: "Ainda estão a tempo. Depois, não podem voltar para trás, nem dizer que não os avisei [...] Podem morrer, e devem sabê-lo antes de partir". Mas a primeira edição tinha sido um sucesso e outras edições iriam acontecer.
Sabine era a "alma" da organização. Tratava das burocracias dos governos do Norte de Africa, fazia os controles e organizava a logistica de um rali que crescia a cada ano em termos de concorrentes, quer em termos de quantidade, quer em termos de qualidade. As equipas oficiais começavam a alinhar com os seus modelos, ao lado de carros excêntricos como um veículo de seis rodas ou um Rolls-Royce de seis rodas com um motor capaz de alcançar os 190 km/hora em linha recta... nesses primeiros anos, a aventura era o mote, apesar das motres que começavam a polvilhar nas edições. Mas apesar dos avisos feitos pelo organizador, era outra a frase de Sabine que os concorrentes retinham: "Um desafio para os que partem, um sonho para os que ficam".
Em 1986, a prova ia na sua oitava edição. Partia de Paris, até Marselha, onde embarcariam num "ferryboat" para Argel, e dali percorriam a Argélia, o Mali, o Niger, o Burkina Faso e o Senegal, até chegar a Dakar, três semanas depois. Mas logo no primeiro dia tinha havido um acidente mortal, quando o motociclista japonês Yasuko Keneko tinha sido vitima de uma colisão com um Peugeot 205, guiado por um condutor sob influência de alcool, perto do porto de Sête.
Sabine sempre teve consciência dos perigos deste rali. Algumas semanas antes, tinha dito num jornal francês que "sinto que se vai passar alguma coisa este ano. A prova terá uma dimensão dramática". O tempo diria que seriam palavras proféticas...
A 14 de Janeiro de 1986, o rali estava a fazer o percurso entre as cidades de Niamey, no Niger e Gourma, no Burkina Faso, e Sabine assistia a prova no seu helicóptero Ecreuil, para observar algum piloto em dificuldades. Perto do final do dia, tinha-se levantado uma tempestade e Sabine levantou o seu helicóptero à procura de concorrentes perdidos. Consigo iam o piloto, Francois-Xavier Bagnoud, o cantor Daniel Balavoine, um dos mais famosos de França e que o acompanhava numa missão de solidariedade com os povos que atravessavam no percurso do Dakar, a jornalista Nathalie Odent e o técnico de som Jean-Paul Lefleur, ambos da cadeia de rádio RTL.
O helicóptero tinha sobrevoado a região e preparavam-se para regressar à base, devido à fraca visibilidade devido à tempestade de areia e ao final do dia quando bateram com uma duna de areia, das poucas que existiam naquela região do Sahel. Os cinco ocupantes tiveram morte imediata, e Sabine tinha apenas 35 anos. As suas cinzas foram depois colocadas no local onde morreu, numa árvore que passou a ser chamado "a arvore de Sabine".
A perda do seu fundador foi um golpe profundo na organização, mas a prova seguiu o seu caminho, tornando-se numa organização cada vez maior e mais popular, apesar de hoje o Dakar só ser nome. Já teve várias partidas, passando de Paris para Granada e Lisboa, e quando foi cancelada À última da hora em 2008, por receio de ataques terroristas, é que esta passou para a América do Sul, com partida e chegada a Buenos Aires, com passagens pelo deserto do Atacama. Outras paisagens, e certo, mas o espirito é o mesmo.
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