domingo, 24 de abril de 2011

Grand Prix 1972: A escola de condução (II)

(continuação do capitulo anterior)

Ao longo do tempo, enquanto que De Villers, Monforte e Nel estavam na fábrica para afinar e modificar o novo chassis para 1972, testando por ambos os pilotos, em Brands Hatch, no Kent inglês, Kruger chegava ao circuito para a sua primeira lição na “Brown Racing School Academy” no sentido de dar o seu melhor para superar os rapazes. Tinha de ter paciência para domar a sua impetuosidade em correr na pista, pois as primeiras lições eram meramente teóricas, e para piorar as coisas, ela nunca tinha sido uma excelente aluna e tinha um pavio relativamente curto.

Para piorar as coisas, os dezanove homens que estavam lá na mesma aula olhavam-na de esguelha, entre o espanto e o desprezo. Era bonita, logo, ninguém acreditava que ela conseguisse guiar. E claro, todos insinuavam que estava ali por outra coisa do que pelos resultados. Um dos seus colegas, apesar do passar dos dias, continuava espantado por ver uma coisa daquelas por ali, pois na sua terra não tinha visto nada assim. O seu nome era Roberto Assis, e vinha do Brasil.

Tinha uma personalidade divertida, fora do circuito, e um verdadeiro pé de chumbo dentro dele. Tinha a mesma idade que o seu compatriota Pedro Medeiros, embora tenha nascido com quatro meses de diferença e em cidades diferentes (Pedro em São Paulo e Roberto em Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais) e era o mais velho naquela classe. Estava ali para ver se conseguia aprender mais alguma coisa em termos de condução, apesar do seu palmarés no Brasil. E a Grã-Bretanha era a sua primeira oportunidade de o fazer, pois depois de ter visto a ascensão meteórica de Medeiros rumo à categoria máxima do automobilismo, sabia que não poderia perder o comboio.

Mas na escola de condução de Jonathan Scott-Brawn, o exotismo não acabava em Assis ou Kruger. Outro dos alunos estranhnos naquela turma tinha vido de um pais muito distante, mas conhecido no automobilismo: o Japão. Para Masahiro Kogure, ele vinha para ali com uma missão: ser o primeiro piloto do seu pais na Formula 1, e levava a aprendizagem muito a sério. Tão a sério que era o único dali que tinha um curso superior de engenharia mecânica, recém-tirado no seu pais.

Após as primeiras lições teóricas, que todos superaram com maior ou menor dificuldade, passaram para as lições práticas. Primeiro num passeio a pé, dpeois num carro normal, com Brown como instrutor, para os ver como se comportariam em condução e notar nos defeitos e vicios que eventualmente teriam adquirido ao longo dos anos de competição.

Quando foi a altura de passar para os monolugares, estes eram todos Formulas Ford. Em três lições, eles teriam tempo para que conhecer a pista, e depois as cinco lições finais eram um campeonato escolar. Primeiro, duas delas no circuito de Oulton Park, depois outras tantas em Truxton e a última em Brands Hatch, no primeiro fim de semana de uma das séries da Formula Ford, com os chassis da casa. Poderiam correr no resto da temporada, às suas expensas... exceto o vencedor. E esse era o "Grande Prémio", aquilo que Jackie, Roberto e Masahiro, bem como os restantes dezessete membros queriam, pois não tinham muito dinheiro para mais. Se ganhassem, julgavam todos, seriam o suficiente para saltar para a Formula 3 e quem sabe, o grande caminho rumo à Formula 1. E todos trabalhavam afincadamente para isso.

Ainda antes da primeira lição prática, Johnathan ficara impressionado com Roberto e Jackie, mas também gostara de ver o estilo de condução do japonês, e a maneira como ele conseguiu tirar partido do carro, quer em termos mecânicos, quer em termos de condução. tinha gostado do que viu quando era instrutor, ouvindo bem as recomendações dele, e depois ao andar a mexer no carro no sentido de o melhorar em termos aerodinâmicos. Nem todos faziam isso e "matavam-se" sem sequer mexer nas asas ou na mecãnica. Masahiro fazia metade do trabalho e era o que tinha o melhor tempo, seguido pelo piloto brasileiro. E Jackie.

Com isso, tinha ficado convencido que seria entre eles que se decidiria o campeonato. Eram três pessoas, três personalidades diferentes, mas ambos adoravam automobilismo e estavam convictos na sua escolha.

(continua)

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