Sempre houve construtores privados na história do automobilismo. Pessoas com maior ou menor fortuna que compraram chassis de outros construtores e conseguiram obter vitórias com bons pilotos. Nos primeiros tempos da Formula 1, para além das equipas oficiais havia uma série de equipas privadas que usando vários chassis, conseguiam por vezes subir ao lugar mais alto do pódio. O mais famoso desses privados era gerido pelo herdeiro da marca de whisky Johnny Walker, cujos carros eram azuis com uma faixa branca, representando a sua Escócia natal.
Um apaixonado por automóveis desde a infância, hoje irei falar de Rob Walker.
Nascido em 1917, Rob Walker herda a fortuna do seu pai aos três anos. A sua mãe casa-se de novo, e o seu padrasto, para além de ser tão rico como o seu pai, era um apaixonado pelos automóveis e aos sete anos leva o seu enteado para Boulogne, para ver uma prova de automóveis. Este fica apaixonado pelos carros, algo que não o largaria para o resto da sua vida.
Ao longo da sua adolescência, arranja e corre com motos e carros à volta da sua propriedade. Preocupada, a sua mãe lhe disse que poderia ter o que quisesse, caso abandonasse os automóveis. Respondeu que queria um Rolls Royce. Quando foi para a Universidade de Cambridge, aprendeu a voar ao Esquadrão local, mas o automobilismo não andava longe. Depois de ter um Lagonda, arranjou um Delhaye onde foi correr as 24 horas de Le Mans na edição de 1939. Com Ian Connell a seu lado, acabaram a corrida num respeitável oitavo posto. Contudo, a II Guerra Mundial matou a sua carreira de piloto de automóveis e foi para a Rotal Navy como piloto.
Após o final do conflito, em 1945, voltou ao automobilismo em eventos locais, mas no final da década decidiu adquirir carros e contratar pilotos. O primeiro a ser contratado por ele foi o Tony Rolt, que na II Guerra Mundial tinha sido prisioneiro em Colditz, o equivalente alemão a Alcatraz, onde eram presos os militares que tentavam fugir de outros campos.
Após alguns sucessos no inicio da década, Rob Walker fundou a equipa com o seu nome em 1953. Com Rolt como piloto, a sua primeira participação foi na Lavant Cup de Formula 2 a bordo de um Connaught. Na corrida seguinte, em Snetterton, outro dos seus pilotos, Eric Thompson, foi o vencedor da corrida. Algumas semanas depois, Walker participa na sua primeira prova internacional com um promissor piloto chamado Stirling Moss. Foi em Rouen, numa prova de Formula 2, onde Moss participou num Cooper-Alta e acabou a corrida em quarto lugar na sua categoria. Poucas semanas depois, Tony Rolt leva o Connaught para o GP britânico, mas desiste.
Nos dois anos seguintes, Rob Walker participava esporadicamente em eventos na Grã-Bretanha e na Europa, especialmente na Formula 2 através de pilotos como Peter Collins e Tony Brooks. Em 1956 e 57, Walker começa a correr em Coopers, especialmente na Formula 2, com carros de motor atrás que se tornavam crescentemente competitivos às mãos de Brooks, Moss e o australiano Jack Brabham, que corria esporadicamente pela Rob Walker Racing.
Conscientemente de que estes carros poderiam ser o futuro da Formula 1, e que por fim eles iriam ter a motorização que mereciam (na altura eram motores de 2.5 litros), Walker encomenda um chassis Cooper e convence Stirling Moss, piloto da Vanwall, a participar na primeira prova do ano, o GP da Argentina. Como a prova era em janeiro e os Vanwall não estariam prontos a tempo, Walker aproveitou as facilidades concedidas pela organização para levar o seu Cooper, bem como a autorização concedida pela Vanwall para que Moss corresse por lá.
Quando os organizadores ficaram espantados com o carro que Walker trouxe, a principio ficaram zangados e houve criticas, mas ele seria o último a rir. Com um motor não muito potente, mas que consumia menos do que os carros com motor á frente, apostou numa estratégia sem paragens para pneus e reabastecimento... e resultou. Apesar dos esforços de Ferrari e Maserati, Stirling Moss deu à Cooper, ao motor traseiro e a Rob Walker a sua primeira vitória oficial na Formula 1. Era uma vitória marcante, que poderia não ter acontecido, pois a caixa de velocidades de Moss tinha-se avariado no inicio da corrida, e só voltou a funcionar quando uma pedra entrou na engrenagem, colocando-se de forma a fazer funcionar no resto da corrida.
Se alguns pensavam que a vitória tinha sido por acaso, a prova seguinte provou que isso não era assim. Às mãos do veterano francês Maurice Trintignant, o Cooper Climax inscrito pela Rob Walker vence nas ruas do Mónaco. O acaso passara a certeza, e todos sabiam que a Cooper era o futuro do automobilismo. Ao longo de 1958, Moss e Trintignant venceriam em diversas corridas extra-campeonato, e no ano seguinte, Jack Brabham venceria o campeonato do mundo com os Coopers oficiais. Assim começava uma nova era na Formula 1.
Nessa temporada de 1959, Walker inscreve dois carros para Moss e Trintignant, e o britânico vence duas corridas em Monsanto e Monza, enquanto que o piloto francês acabou por duas vezes no pódio, sendo terceiro no Mónaco e segundo na prova final do campeonato, na pista americana de Sebring. Fora das corridas oficiais, Moss venceu a Glover Trophy, que se disputou no circuito de Goodwood.
No ano seguinte, Rob Walker decide reduzir a sua equipa para um carro e troca de chassis, passando da Cooper para a Lotus. Mantêm a aposta em Stirling Moss, mas a época é marcada pelo acidente que o britânico tem no GP da Belgica, em Spa-Francochamps. Moss fica ausente por duas corridas e Walker não alinha durante esse tempo. Antes disso, tinha ganho o GP do Mónaco. Quando voltou, venceu a corrida final do campeonato, no circuito americano de Riverside.
Em 1961, a formula mantêm-se, mesmo com os novos regulamentos em relação aos motores, que tinha passado para os 1.5 litros. Moss é o piloto e vence na primeira prova do ano, no Mónaco, contra os Ferrari 156 Squalo, que eram os claros favoritos à vitória. Volta a vencer em pleno circuito de Nurburgring, na Alemanha, e termina o ano no terceiro lugar na classificação de pilotos, com 21 pontos. Algum tempo antes, Walker inscrevera o Ferguson P99 de motor à frente, mas com quatro rodas motrizes, guiado por Jack Fairman. Era o primeiro carro com essa tracção. Meses depois, Moss pegou nesse carro para o Oulton Park International Golden Cup e o venceu, sendo esta a unica vez que um carro com quatro rodas motrizes venceria uma prova de Formula 1.
Walker e Moss ficaram para 1962, esperando continuar com o sucesso, mas o britânico sofre um acidente grave em Goodwood e fica largos meses sem competir. Ainda com um Lotus 24, chama Maurice Trintignant para o lugar, mas não consegue marcar pontos. Para piorar as coisas, no final do ano, Walker contrata dois jovens pilotos, o mexicano Ricardo Rodriguez e o rodesiano Gary Hocking. Ambos tem acidentes fatais em provas no México e Africa do Sul, respectivamente.
Em 1963, Rob Walker contrata o sueco Jo Bonnier para um dos seus carros, agora um Cooper. Não foi uma temporada fabulosa, mas Bonnier cumpriu, e no ano seguinte, para além do Cooper, arranjou um Brabham BT7 que alugou a outros pilotos. Foi assim que deu a primeira hipótese de guiar um Formula 1 ao jovem Jochen Rindt e no final do ano acolheu outro jovem, o suiço Jo Siffert. Vai ser ele que lhe dará o seu primeiro pódio em quatro temporadas, um terceiro lugar no GP dos Estados Unidos.
Em 1965, alinha com Bonnier e Siffert, arranjando dois Brabham, num programa algo ambicioso, mas não consegue mais do que cinco pontos, todos ganhos pelo piloto suiço. E quando a Formula 1 começa a correr com motores de 3 Litros, decide ficar com Siffert. Começa o ano com o Brabham, mas depois passa para o Cooper, conseguindo apenas um quarto lugar em Watkins Glen. Em 1967, Siffert consegue mais dois quartos lugares, em Le Mans, palco do GP de França, e Watkins Glen.
Mas em 1968, Rob Walker compra um Lotus 49 com motor Cosworth e a sorte umda um pouco. Sendo o melhor chassis do pelotão, consegue, com alguma surpresa, vencer o Grande Prémio britânico, à frente do Ferrari de Chris Amon. Era a primeira vitória depois da era de Stirling Moss, e a primeira de uma equipa privada. Ainda consegue mais uma pole-position e duas voltas mais rápidas no campeonato, e doze pontos ao todo.
Aos poucos, as coias mudam um pouco, mas uma nova era vinha a caminho, e Walker sentia cada vez mais que as coisas começavam a ser puxadas para ele. Siffert continuou em 1969, conseguindo quinze pontos e dois pódios, mas este vai para a March em 1970 e no seu lugar vem o veterano Graham Hill e o patrocinio de Brooke Bond Oxo. Continuando com um chassis Lotus, primeiro um velho 49 e depois um modelo 72, Hill, que ainda recuperava do seu grave acidente no ano anterior em Watkins Glen, conseguiu apenas sete pontos. No final de 1970, Hill foi para a Brabham, e Walker depois de uma conversa com John Surtees, decidiu juntar as suas forças para se concentrar numa só equipa.
Walker ficou a ajudar Surtees, e ajudou a trazer Mike Hailwood, que lhe deu os melhores resultados de sempre da equipa em pista, com um segundo lugar no GP de Itália de 1972. A sua participação acabou em 1975, quando ajudou outro amigo seu, Harry Stiller, a comprar um chassis Hesketh para um jovem australiano de seu nome Alan Jones. Contudo, a aventura foi breve e no final desse ano, decidiu reformar-se, aos 57 anos.
Mas não ficou muito tempo afastado. Desde 1967 que costumava cobrir os Grandes Prémios como repórter da americana Road & Track Magazine e quando se retirou de forma ativa da Formula 1, continuou a andar pelos "paddocks" a cobrir os fins de semana de corridas, bem como vários artigos históricos. Contunuou a fazer esta tarefa até bem para lá dos anos 90, quando a velhice o começou a apanhar. Acabou por morrer em Abril de 2002, aos 84 anos, vitima de pneumonia.
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