Há já algum tempo que, confesso, não leio nada que seja diferente ou radical, se perferirem. Há demsaiada "oferta" e uma pessoa, inevitavelmente, perde-se. Eu mesmo confesso que o blog se ressente disso. Só que nesta terça-feira de manhã espreito o Autosport português e ele me fala de algo que nos passa pela cabeça de vez em quando, mas nós a apagamos, por acharmos ser de ficção cientifica, como o teletransporte, a eterna juventude ou o homem em Marte. Mas o Mike Lawrence pensou na ideia: a Ferrari precisa da Formula 1 ou a categoria máxima do automobilismo passaria melhor sem a Scuderia de Maranello?
O contexto do artigo escrito tem a ver com a contestação de Luca di Montezemolo sobre o tipo de motores que a Formula 1 vai ter a partir de 2013, os motores 1600 Turbo de quatro cilindros em linha. A Scuderia de Maranello contesta essa decisão por uma razão simples: comercio. Acha que um motor dessa cilindrada é mais apropriado a um modelo Fiat do que uma marca de supercarro que é a Ferrari, fundada em 1947 na cidade de Modena por Enzo Ferrari, um ex-piloto e diretor desportivo da Alfa Romeo nos anos 20 e 30.
E apesar de fazer parte do Grupo, o que a Ferrari quer, ao tentar alterar, adiar ou cancelar os planos de Jean Todt e da FIA - que foram aprovados por unanimidade em dezembro do ano passado - é mostrar que a razão da Ferrari estar na Formula 1 é que aquilo é a elite. A Ferrari vence, logo, tem de vender ao seu cliente que ter um carro desses na sua garagem significa ter algo vindo da categoria máxima do automobilismo, algo único e exclusivo e não aquilo que vê num carro de todos os dias.
Ao ler atentamente o artigo, vejo várias coisas. A primeira é uma lição de História: mesmo quando houve a limitação da cilindrada a 1500 cc, entre 1961 e 65, a marca de Maranello construiu vários tipos de motores, entre os V6 Dino e os V8, somente apostando nos V12 quando a Formula 1 passou para os 3 litros. E há também outra pequena história que conta: a Ferrari esteve prestes a comercializar, algures nos anos 60, um carro com um motor de um litro e com carrocaria desenhada por Giotto Bizzarrini.
Ferrari deu a luz verde, mas a meio do projeto, decidiu que o melhor era continuar a fabricar suercarros, em vez de fazer um Abarth mais caro. Se a coisa tivesse ido adiante, talvez a história da Scuderia fosse diferente, mas o Commendatore lá tinha as suas razões e decidiu manter a sua marca como algo exclusivo, da mesma forma que Ferruchio Lamborghini decidiu que os seus carros nunca participariam na Formula 1 enquanto mandasse por lá, no final dos anos 60 - teria sido fascinante ver isso, acreditem.
Em suma, tudo isto tem a ver com o exotismo da questão, e também porque sabe que os contrutores vão e vêm. Tirando a excepção Mercedes, porque tem a tradição da competição nos seus genes, nenhum construtor fica mais do que sete a dez anos, em média. Ganhe ou não, ao fim de algum tempo recolhe as suas coisas e vai embora. E é um pouco por isso que a Ferrari ficou na história: no meio das entradas e saídas, é uma referência incontornável. E claro, acha que tem uma palavra a dizer, mas fá-lo como se fosse o dono do jogo, o que não é, apesar de ter um ex-funcionário seu no topo da FIA.
Só que a Ferrari desconhece - ou não quer saber - que a mudança de motores na Formula 1 é uma maneira de se mostrar ao mundo. Fazer motores pequenos, de 1600 cc Turbo, é mais económico e mais ecológico do que ter um motor de 2.4 litros como temos agora. hoje em dia, com o preço da gasolina no topo e o nosso planeta cada vez mais superpovoado e poluido, o que as pessoas querem é ter um motor que seja o menos poluente possivel, o menos bebedor possivel, mas que mantenha, ou aumente a potência. Hoje em dia na nossa sociedade, os carros pequenos voltaram a ser moda. Smart, Twingo, Yaris, 500... são tudo modelos de baixa cilindrada, muito económicos e pouco poluentes, abaixo das cem gramas de CO2 por quilómetro. Mostrar preocupação com o ambiente à volta é o que Jean Todt quer mostrar, e é aquilo que fala sempre que é entrevistado pela imprensa internacional.
Colocadas as peças em cima da mesa, o artigo coloca uma questão pertinente: qual dos dois está mais dependente? a Formula 1 ou a Ferrari. A Ferrari, como marca, precisa da Formula 1? Claro que sim. A Formula 1 sobrevive sem a Ferrari? Claro, mas não seria a mesma coisa. É o chamariz de muita gente, embora isso esteja diluido nos últimos tempos por causa de outras marcas que andam por aqui. A Mercedes está aqui há mais de 15 anos e vai continuar por alguns mais, e há exemplos do passado que mostram a sobrevivência da Formula 1 mesmo sem marcas míticas como a Brabham, Lotus, BRM ou Alfa Romeo. Em suma, acho que isto tudo é mais "fogo fátuo" para que uma das partes mostre que numa competição igual, há um "primus inter pares" mais igual do que os outros.
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