(...) "Três voltas depois [da desistência de René Arnoux no GP de San Marino, na volta 44], o director da Ferrari, Mauro Forgheri, mandou um sinal a Didier Pironi e Gilles Villeneuve para que abrandasem o seu ritmo, já que eles trinham dúvidas que ambos os carros aguentassem o resto da corrida. Vileneuve abrandou, mas Pironi decidiu desobedecer às ordens, pois achava que, estando à frente no campeonato pessoal – só tinha um ponto, enquanto que Gilles não tinha nenhum – ele teria prioridade sobre o estatuto de segundo piloto que tinha na Ferrari… assim sendo, começou a batalha pessoal entre os dois, para delírio dos “tiffosi”.
Pironi e Villeneuve trocavam constantemente de posições até que na penultima volta, o canadiano estava na frente, e decidiu abrandar o ritmo, julgando que Pironi faria o mesmo. Contudo, Pironi não o fez, e passou de novo o canadiano. Villeneuve tentou reagir tentando ficar com o primeiro lugar, mas não o conseguiu. Na meta, ambos os carros cortavam a meta juntos, com Pironi a ganhar a corrida, deixando fulo o canadiano, que mostrou a sua zanga saindo do pódio assim que pode.
E porquê toda esta reação? Três anos antes, em 1979, Enzo Ferrari decidiu que o sul-africano Jody Scheckter, na altura à frente do Campeonato, seria o campeão do Mundo, apesar do canadiano ser mais rápido do que ele. No final da corrida de Monza, Enzo Ferrari chegou-se a Villeneuve e disse: “Hoje foi ele, mas da próxima, tu serás Campeão do Mundo“. Era essa promessa do “Commendatore” que foi aquilo que manteve o canadiano na equipa, apesar dos maus chassis que teve em 1980 e 81. A sua lealdade era uma das grandes qualidades que muitos apreciavam, a par da sua agresividade em pista. "(...)
(...) "Passada a cerimónia do pódio, as discussões continuavam. Pironi defendia-se das acusações afirmando que não tinha visto o sinal, enquanto que Villeneuve ameaçava abandonar a equipa no final da temporada, enquanto que o estatuto dentro da equipa não fosse definida. A discussão foi tal que na terça-feira, a Ferrari decidiu lançar um comunicado à imprensa defendendo o piloto canadiano. Mas para ele isso não bastava. No final dessa semana, foi entrevistado pelo seu amigo, o jormalista britãnico Nigel Roebruck, para a revista Motorsport. Aí afirmou a frase fatal: 'Pironi será a partir de hoje o meu adversário. Nunca mais falarei para ele no resto da minha vida'." (...)
Estes são alguns dos momentos que falo sobre os últimos dias de Gilles Villeneuve, entre as corridas de Imola e Zolder, bem como as circunstâncias que levaram ao acidente fatal do canadiano. As lutas de poder dentro da equipa, a hierarquia que Gilles julgava existir e que Didier Pironi simplesmente ignorou, num ano em que a Ferrari tinha por fim uma máquina vencedora, depois de dois anos penosos. Tudo isto está hoje no Pódium GP.
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