Era uma Finlândia em estado de choque que via isto na tarde de sexta-feira, 2 de maior de 1986: a programação normal fora interrompida para dar lugar à noticia de que um dos seus finlandeses voadores, Henri Toivonen, morria na 18ª especial do Rali da Córsega, vitima de um despiste que o levou o seu Lancia Delta S4 para o fundo da ravina e explodisse, matando a ele e ao seu navegador, o italo-americano Sergio Cresto. Toivonen tinha 29 anos e Cresto 30.
Era o Gilles Villeneuve dos ralis, pelo seu estilo espectacular e agressivo na estrada. Correu em máquinas como o Talbot Sunbeam Lotus, Opel Ascona 400, Porsche 911 Turbo (foi o primeiro piloto contratado pela Prodrive) e por fim os Lancia 037 e Delta S4. Ao vencer o seu primeiro rali, em 1980, tornara-se no piloto mais novo de sempre a vencer no Mundial até que Jari-Matti Latvala o bater em 2009, quando venceu o rali da Suécia.
O seu acidente mortal foi marcante, pois significou o final de uma era nos ralis. Os carros do Grupo B, autênticas "penas" com um motor Turbo atrás (a relação peso potência era igual) feitos de fibra de vidro, tinham-se tornado de modo crescente em carros dificeis de controlar. No dia anterior à sua morte, afirmara em tom profético: “Este Rali é de loucos, apesar de estar tudo a correr bem para nós. Mas se cometer um erro, pode ser fatal”. E as suas últimas palavras públicas, á entrada da classificativa fatal, revelavam a mesma preocupação: “Hoje guiamos o equivalente a um rali inteiro. Começa a ser difícil controlar a velocidade”.
Quando Toivonen e Cresto morrem, é Bruno Saby que avisa do acidente á equipa Lancia. A conversa revela o desespero e incerteza da altura e depois a decisão da equipa de se retirar de imediato. A FISA, pela voz de Jean-Marie Balestre, age de imediato: os Grupo B são abolidos no final da temporada. O aviso de dois meses antes, em Portugal, quando o Ford RS200 de Joaquim Santos perdeu o controlo e matou três pessoas na Lagoa Azul, a primeira etapa desse rali e que levou à retirada das equipas de fábrica, demonstrava que os pilotos começavam a ter imensa dificuldade em lidar tamanha potência.
Poucos dias depois, o jornalista britânico Martin Holmes escreveu no seu tributo a Toivonen na revista inglesa Motor: “O rebelde dos ralies conseguiu, nos seus vintes (morreu quatro meses antes de chegar aos 30 anos), uma carreira muito mais rica do que os seus companheiros mais velhos, provando que os jovens talentos podem ser bem sucedidos”. Caso tivesse ganho aquele Mundial de 1986, teria sido o mais jovem piloto de sempre a alcançá-lo.
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