Confesso pessoalmente - e acho que muitos devem pensar como eu - que Bernie Ecclestone é uma personagem no mínimo inclassificável, pois nunca se sabe de que lado está e o que pensa verdadeiramente sobre certas coisas. Aprendi ao longo dos anos que sempre que ele fala, tem de haver uma segunda interpretação e que não se pode levar nada dele à letra. Seja quando elogia os ditadores (na realidade, está a dizer que o seu método é o único que dá lucro) seja quando quer meter o bedelho nos regulamentos (na realidade, não quer interferência nos seus negócios).
Agora, esta manhã, leio uma declaração dele no blog do James Allen sobre o Bahrein. Como é mais do que sabido, é uma decisão no mínimo incompreensível e do qual quase ninguém aprova. Só os que estão comprometidos com esse regime, como Jean Todt ou Jackie Stewart - hoje em dia mais um relações públicas muito bem pago do que outra coisa - é que aprovam a ideia. Todt diz que a decisão, aprovada por unanimidade, teve como base um relatório de um dos vice-presidentes da FIA, Carlos Garcia, em que dizia que estava tudo calmo no pequeno emirado do Golfo. Mas como diz hoje o Autosport português, foi também com base num relatório de um dos vice-presidentes da FIA que a USF1 foi considerada como "empresa viável"...
Mas voltando aos factos, Allen fala que Bernie Ecclestone decidiu colocar mais confusão no tema, afirmando que as equipas, até agora muito silenciosas sobre o tema, excepto a Red Bull e a Renault, com declarações muito pontuais na sexta-feira, poderão tomar uma decisão conjunta, sob o guarda-chuva da FOTA. E Ecclestone sugeriu, em entrevista ao seu canal favorito, o The Times, que eles pedissem à FIA uma nova votação.
“Da maneira como as coisas estão neste momento, não temos ideia do que poderá acontecer", começou por afirmar. "Seria melhor se mudassemos o Bahrein para o final da temporada e, caso as coisas estejam bem, nós pessamos ir. Se não estiverem, então não iremos e não haverá qualquer problema. Nós ouvimos o relatório da FIA afirmando que não há problemas, mas não é isso que oiço por aí, logo, temos de ser cautelosos", concluiu.
Uma interpretação que posso fazer, à partida, é que Ecclestone poderá estar a aproveitar esta polémica para cavar o fosso entre ele e Todt, que como todos sabemos, é uma relação muito fria, para não falar inexistente. Sabemos das declarações dele, estando contra os motores Turbo de 1.6 litros, e sabemos das declarações dele estando contra os novos regulamentos da Formula 1 a partir de 2013. E ao ver que Todt aprovou o regresso do Bahrein, provocando a fúria das equipas e do resto do mundo, Ecclestone poderá ter visto isto como a oportunidade de atacar Todt, levando à revolta das equipas e colocando-os do seu lado. Não é inocente quando ele pede uma nova votação da FIA, bem como aquela noticia que vos mostrei no domingo sobre os lucros futuros da Formula 1...
"Divide et imperas", dividir para reinar. O esquema até pode ser genial, mas tem uma falha: não foi ele um dos que torceu para o regresso do GP barenita já em 2011? Entender Bernie Ecclestone continua a ser um quebra-cabeças, confesso...
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