Que maravilha, que maravilha! Valeu a pena ter esperado mais de duas horas para ver esta corrida, porque pelas circunstâncias que já sabiamos e depois pelos eventos desta tarde, merece ficar nos anais da história da Formula 1. Em menos de quinze dias, tivemos pilotos a ganharem na última volta. Não numa corrida... mas em duas.
Todo e qualquer adepto da Formula 1 gosta do GP do Canadá, porque sabe que naquele circuito onde qualquer erro é quase sinal de acidente, e também essa reputação apareceu porque nos anos anteriores, com as corridas tremendamente aborrecidas dos outros lados, a corrida canadiana sempre nos dava emoção. E ainda por cima, havia mais expectativa com os novos pneus da Pirelli e o DRS, que poderia ser usado em duas zonas, algo que era totalmente novo nesta temporada.
Portanto, já havia enormes expectativas quando a Formula 1 estava a caminho de Montreal. Mas mais houve quando os serviços meteorológicos locais anunciaram que no domingo, o tempo por aí iria ser instável, com chuva forte. E mesmo com Sebastien Vettel na pole-position, havia aquele ar de incerteza quando as horas se aproximavam para o começo da corrida. E isso se confirmou quando a pista estava alagada devido à enorme quantidade de chuva que tinha caído nas horas e minutos anteriores. E por causa disso, a corrida começou atrás do Safety Car (SC).
Quando a corrida recomeçou, Vettel foi se embora, com os outros pilotos a tentarem segurar-se na pista, esperando que as coisas pudessem melhorar, algo que não aconteceu. Mas todos se aguentavam, à excepção de um piloto que aparentemente deixou o cérebro na boxe: Lewis Hamilton. Parece que Hamilton fez deste ano a sua "Severe Brain Fade Tour" e neste incidente em particular, foi algo estouvado e calculou mal a sua tentativa de ultrapassagem ao seu companheiro de equipa, Jenson Button, e causou a sua própria eliminação. Martin Withmarsh pode ter ficado lixado da vida, mas não mostrou tal coisa quando andou a ser entrevistado pela BBC durante a interrupção da corrida.
Esse grande episódio - que um amigo meu gozou com a situação no Facebook chamando-a de "4 Horas de Montreal, prova de Endurance do Mundial de Formula 1" começou quando no inicio da volta 25, uma enorme bátega de água caiu sobre a pista. Tão forte que os comissários mostraram logo a bandeira vermelha e mandaram parar os carros na reta da meta. Ali, o mundo inteiro esperou durante mais de duas horas para saber se a corrida continuaria ou não, se o tempo iria melhorar ou não, se os pilotos iriam ficar com metade dos pontos, fazendo da corrida a primeira a ser acabada a meio desde o GP da Malásia de 2009.
Enquanto a chuva não parava, via-se a classificação. E este era algo estranha: Vettel na frente de... Kamui Kobayashi, Massa na frente de Alonso, os Force India nos lugares pontuáveis e o compenheiro de equipa temporário de Kobayashi, Pedro de la Rosa, no nono posto, à frente de Jenson Button. Uma corrida tipicamente canadiana, ou seja: esquisita.
Depois a chuva parou. Os pilotos entraram nos seus carros e arrancaram sob Safety Car, que ficou mais algumas voltas na pista, demasiadas para os espcetadores que viam tudo pelo live streaming da BBC, já que - até os brasileiros! - a Rede Globo preferiu passar para o futebol, esse ópio do povo, que derrete os cérebros dos responsáveis de qualquer canal televisivo mundial. E quando a corrida retomou em todo o seu esplendor, mais alguns toques, especialmente Fernando Alonso a Jenson Button, onde o piloto espanhol rodou e abandonou na hora, enquanto que button caminhava lentamente para as boxes, com um furo na roda frente-esquerda. E mal sabiamos que essa via sacra iria ter final feliz...
Mais SC e viamos Massa a tentar passar Koba, o Mito. E um pouco atrás, o velhadas Michael Schumacher a fazer maravilhas na pista molhada, tal como tinha feito no GP da Coreia do Sul do ano passado, demonstrando que é na chuva onde se pode vislumbrar algum do seu talento de antigamente. E depois do SC recolher às boxes, vimos Schumacher a passar Massa e Kobayashi, a atacar e a passar Webber, Heidfeld e Petrov, quando Nico Rosberg nem se via, tocado pelos Force India de Adrian Sutil ou de um Jenson Button em recuperação, que o fez furar e atrasar.
Depois, a chuva parou, a pista secou e uma linha se formou, suficientemente para fazer com que os carros calçassem pneus secos. Schumacher chegou a beijar o primeiro lugar, mas depois descobriu que não tinha carro para tal. E atrás, Button "comia" um piloto a seguir a outro, ganhando dois segundos à concorrência, liderada pelo imperturbáel e inalcançável Sebastian Vettel.
Mas com o final a aproximar-se e a corrida a chegar ao limite das duas horas, a emoção aumentava, com Button a chegar ao segundo posto, depois de se livrar de Mark Webber e Michael Schumacher numa só curva. Button batia constantemente o recorde da volta mais rápida, sendo dois segundos mais rápido que Vettel, pressionando-o nas voltas finais de forma a que ele cometesse um erro. E assim foi, na última volta. Não na última curva, como aconteceu a JR Hildebrand em Indianápolis, mas numa travagem na Curva 7, deslizando o carro e indo para a gravilha, voltando depois à pista, mas perdendo o primeiro lugar.
E assim, quase caido do céu e depois de uma via sacra, onde esteve envolvido em dois acidentes e sofrido um furo, Jenson Button conseguiu ser o vencedor inesperado do GP do Canadá. Para muitos que torcem o nariz por um piloto que não é nem carne, nem peixe, mas que anda na sua 12ª temporada na categoria máxima do automobilismo, este rasgo de génio numa corrida de raiva é inteiramente merecido por parte de Button, que conseguiu pressionar o até-ali-quase-invencivel Sebastien Vettel na sua última oportunidade. E mesmo sabendo que aquela vitória poderia ser temporária (o seu incidente com Alonso iria ser investigado pelos comissários), ele a merecia.
Atrás, via-se que Mark Webber conseguira ficar com o lugar mais baixo do pódio, batendo Michael Schumacher num combate de quase anciãos (Webber fará 35 anos em agosto) e atrás, num "combate de morte pelo sexto posto" Felipe Massa conseguia bater, por milimetros, Kamui Kobayashi. Uma pequena vitória numa corrida que poderia ter sido da Ferrari, mas não foi.
No final, os fãs de automobilismo ficaram contentes. Num fim de semana em que os dois primeiros classificados das 24 Horas de Le Mans acabaram com menos de 15 segundos de diferença, os eventos de Canadá deram mais uma boa publicidade ao automobilismo. E depois de saber como é que os Formula 1 se comportam na chuva com DRS e pneus Pirelli, cada vez mais me convenço que Deus, caso exista, deve deixar que o espirito de Gilles Villeneuve desca ao seu circuito que tem o seu nome sempre que a formula 1 vá correr por lá. Caso essa seja a verdade, então desejo que essa urucubaca continue até ao final dos tempos...
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