Sempre que posso, falo de Mark Donohue, um excelente piloto dos anos 60 e 70 cuja versatilidade ficou patente nas várias vitórias e vários titulos que conseguiu, quer na Trans-Am, quer na Can-Am, com o monstruoso 917-30 de 1973, com mais de 1200 cavalos, um dos carros mais potentes de sempre em competição. O seu dominio foi tal que o chamaram de "Can-Am Killer", porque simbolizou o final de uma era. Afinal de contas, foi o último campeonato antes do primeiro choque petrolífero...
Em dia em que se comemora mais um aniversário da sua morte, colidi com mais um testemunho de alguém que conheceu e privou algum tempo com ele, ou seja, Peter Windsor. Cada vez mais vale a pena ir ao blog dele, onde consegue contar, sempre que pode, os seus testemunhos de um passado muito rico, mais de 35 anos de vivência nos "paddocks" da Formula 1.
Neste post em particular, fala-se sobre o GP da Alemanha de 1975, e a crónica que escreveu sobre essa corrida, onde o mau estado do asfalto fez com que alguns concorrentes desistissem devido aos furos que sofreram. Depailler, Pace, Lauda, todos eles foram vitimas disso, numa corrida onde o vencedor foi o Brabham de Carlos Reutemann - a sua unica vitória do ano - e onde Jacques Laffite deu a Frank Williams o seu primeiro sabor da glória com um dos seus carros.
O que isto tem a ver com Donohue? Pois bem, foi por causa de um furo que o piloto americano sofreu o seu acidente fatal na corrida seguinte, em Zeltweg. Saindo da ultra veloz Hella-Licht, a primeira curva depois da meta, bateu um poste e atropelou alguns comissários de pista, um deles fatalmente. Mas o americano sofrera uma pancada com a cabeça devido a um poste e sofrera um edema cerebral que só foi detectado horas depois. Levado para o hospital de Graz e operado, entrou em coma e morreu três dias mais tarde, aos 38 anos. Tempos depois, a sua víuva processou a Goodyear, alegando que tinha sido um defeito de fabrico que causou o seu acidente mortal. O processo durou sete anos e a marca foi obrigada a pagar uma indemnização avultada.
Nessa altura, Windsor escreveu isto em tributo ao americano:
"Quando conheci Mark Donohue pela primeira vez, em 1974, no circuito de Watkins Glen, fiquei espantado. Aqui estava um homem que admirava imenso, cuja carreira tinha seguido desde os seus dias na CanAm, quando guiava um Lola - um homem que para mim, personificava o cliché de 'superstar' - ali estava, nervoso e escondido perante uma barragem de admiradores seus compatriotas. Não fazia parte da bem oleada máquina da Penske, que ganhava tudo. Mark Donohue, a Super-Estrela, aparentava ser não mais do que um mero apaixonado por corridas.
Durante a temporada seguinte, à medida que Mark adaptava-se a uma nova forma de correr, a novos circuitos e paises, comecei a conhecê-lo melhor. Numa viagem até Bandol, vindo do aeroporto de Nice, falou sobre os problemas que estava lidando neste seu primeiro ano completo na Formula 1: "A minha relação com Roger (Penske) é bastante diferente daquela que tinha nos primeiros anos', disse. 'Roger é uma pessoa que quer resultados. Não está interessado nos problemas que temos pela frente e como os resolver'.
Quando, mais tarde naquele ano, Mark me levou a passear no Nurburgring no seu amado Porsche Carrera, falou sobre não ter alguém 'que tivesse um carro na sua mente'. Donohue corria numa boa equipa, mas a Penske F1 não tinha um engenheiro com quem pudesse realmente comunicar. Contudo, estava confiante que estava a fazer as coisas bem feitas, mas sabia que não era um grande piloto: todos os seus feitos na sua carreira foram o fruto de trabalho honesto, trabalho bem feito. Se estivesse a não fazer progressos na Formula 1 ele iria encontrar alguém que aliviasse do fardo de guiar, gerir e desenvolver um carro de Formula 1 ao mesmo tempo.
Acredito que Donohue iria ganhar corridas dali a um ou dois anos. Essa combinação iria dar frutos, e na sua carreira, iria fazer jus com a sua "Unfair Advantage". E o seu palmarés como piloto ficaria ainda mais impressionante... como se as suas vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis, TransAm, CanAm, e Sports Car não fossem nada impressionantes.
Mark Donohue não era só um excelente piloto, um engenheiro brilhante ou um atleta em forma e altamente motivado. Era também um homem encantador - o seu ar de rapaz ajudava a isso - e apesar do glamour e a vida fácil que sempre esteve ao seu alcance, caso quisesse isso, perferiu ser pura e simplesmente um amante das corridas. Não necessitava de vir para a Formula 1, pois já tinha feito mais do que suficiente na sua carreira, mas a oportunidade apareceu e a tentação foi grande.
Assim, Donohue atravessou o Atlântico, e os livros de história dirão que não conseguiu. Mas acho que foi bem sucedido, pois a sua dedicação e preserverança foram um excelente exemplo para todos."
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