Que tinha garra, tinha. Com um pé suficientemente pesado para destruir os frágeis carros de Formula 1 dos anos 80 e 90, andou durante muitos anos a tentar bater as desconfianças que muitos tinham sobre ele, que duvidaram que algum dia iria vencer alguma corrida, quanto mais um título mundial. Isso foi particularmente óbvio em 1984, quando estava na sua quarta temporada completa ao serviço da Lotus.
Tinha sido o último dos protegidos por Colin Chapman, depois de Jim Clark, Jochen Rindt, Emerson Fittipaldi, Ronnie Peterson e Mário Andretti, e ele queria que progredisse por ali, mas a sua súbita morte no final de 1982 o tinha deicxado órfão numa equipa que não era muito fã do seu estilo de condução. E para piorar as coisas, nessa temporada de 1984, Peter Warr, o sucessor de Chapman na equipa, estava "apaixonado" pelo estilo de um jovem piloto que no ano anterior tinha dominado a Formula 3 britânica. Era o brasileiro Ayrton Senna, e não descansou enquanto não o teve numa equipa que secava de vitórias desde 1982.
E a imprensa britânica não era muito fã de Mansell nesse ano de 1984. Tinha todos os olhos em Derek Warwick, piloto da Renault, que esperavam ser um digno sucessor de James Hunt, pois a Grã-Bretanha não tinha um campeão desde 1976. E o último britânico a vencer corridas tinha sido John Watson, e nesse ano estava apeado da McLaren. Todos apostavam em Warwick e não davam grandes esperanças para Mansell, apesar de terem aplaudido o seu esforço (literalmente!) em levar até à meta o seu Lotus no traçado urbano de Dallas, com 40º de temperatura e o asfalto a derreter aos seus pés.
No final de agosto, na Holanda, já se sabia que um dos pilotos da Lotus iria embora, para dar lugar a Senna. Peter Warr queria um dos dois de fora, e pretendia ficar com Elio de Angelis, mais "correto" do que Mansell. Parecia que estava tudo perdido, até que Frank Williams lhe acenou com um lugar na sua equipa, já que o veterano Jacques Laffite iria voltar para a Ligier, com motores Renault. Sentindo que era provavelmente a sua última chance de mostrar alguma coisa, lá aceitou o convite. E fez bem, pois apesar das quebras do motor Honda, algumas delas provocadas por ele mesmo, conseguiu aquilo o que queria: vencer.
E venceu em Brands Hatch, na sua Grã-Bretanha, mostrando a tudo e todos que não tinham razão nos rótulos que lhe tinham colocado. Quando o fez, naquele outono de 1985, poucos sabiam que era a primeira das suas 31 vitórias e que a sua carreira seria muito mais ligada à equipa do Tio Frank do que a Lotus ou depois, entre as temporadas de 1989 e 1990, à Ferrari. "Il Leone", apesar das quebras, dos acidentes espectaculares e dos azares pelos títulos perdidos, cumpriu a sua obrigação: venceu um título mundial, conseguiu o seu lugar na história, foi para a CART e conseguiu um título e tornou-se no ídolo de uma geração, apesar do seu final de carreira pela porta pequena na McLaren. E não mexeu em nada o seu estilo de condução.
Ironia das ironias, Derek Warwick, o homem que todos os britânicos queriam ver vencer em 1984, nunca subiu ao lugar mais alto do pódio. Apanhou uma Renault em decadência, e no final de 1985, teve uma chance de substituir Keke Rosberg na Williams. Contudo, ele estava mais virado para correr na Lotus, e chegou a testar com um dos carros, mas Ayrton Senna - agora com poder de primeiro piloto - vetou o seu nome. E assim, em vez de ter um pássaro na mão, teve dois a voar, pois quando quis, já o lugar tinha sido ocupado por Nelson Piquet. Só voltou à categoria máxima do automobilismo pela Brabham, a meio de 1986, após a trágica morte de Elio de Angelis.
Daqui a uns meses falari do primeiro título mundial perdido, pois fará 25 anos sobre esse evento, e no ano que vêm, comemorar-se-á os vinte anos do seu primeiro título mundial, cujo melhor exemplo, na minha opinião, foram as multidões que invadiram a pista de Silverstone após a sua vitória no GP britânico em 1992. Feliz Aniversário, Nigel Mansell!
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