Primeiro que tudo, uma declaração de interesses: torcia por Ayrton Senna. Contudo, sempre achei que Nelson Piquet era um caso à parte, mesmo nos tempos em que era criança, porque mesmo então, não desligava a TV sempre que o carro de Senna explodia ou se despistava, como acontecia nos tempos da Lotus-Renault, nos idos de 1985, 86. Nelson Piquet poderia ser uma espécie de segunda escolha para o escriba, por ser brasileiro e tal, mas ele mesmo já demonstrava, dentro e fora das pistas, que merecia por estar ali naquela elite do automobilismo.
A minha imagem mais antiga da Formula 1 vai fazer 30 anos em outubro: é a de um Piquet, no seu capacete vermelho e branco, naquela gota estilizada - provavelmente um dos mais bonitos capacetes do seu tempo - em Las Vegas, no parque de estacionamento do Ceasar's Palace, num dos muitos delírios de Bernie Ecclestone, na sua obsessão de transformar a Formula 1 numa competição americana. Era a últimoa corrida do campeonato, e tinha de bater Carlos Reutemann para ser campeão do mundo. O argentino teve problemas e Piquet foi quinto classificado, conseguindo os pontos suficientes para ser o campeão do mundo de 1981.
O que eu não sabia, na minha inocência daqueles cinco anos de idade, é que Piquet tinha uma lesão nas costelas que o impedia de correr no seu pico de forma, ou seja, aquele campeonato foi ganho em sofrimento, mas foi o primeiro que o Brasil ganhava desde os tempos de Emerson Fittipaldi, em 1974. E aquele Brasil, já descrente de um Fittipaldi que lutava para manter a sua equipa á tona, encontrava um novo herói para torcer nos seus Domingos de manhã.
Mas esse herói não era um qualquer. Era verdadeiro e politicamente incorreto. Dizia o que vinha na alma, sem almofadinhas. Falou do dinheiro que fazia rodar aquele mundo, falou da sua antipatia por Nigel Mansell, foi o primeiro a falar do "brasileirinho contra todo o mundo" na Williams, que queria Mansell campeão, mas afinal foi ele que o conseguiu, depois da sua era (seis temporadas - 1979 a 1985) na Brabham, onde a sua equipa girava à volta dele, com um carro feito para ele e um patrão que o explorava, é certo, mas lhe dava vitórias e títulos. Com Piquet, Bernie Ecclestone teve os seus momentos de glória como construtor.
O seu tricampeonato acontece na altura em que surge Ayrton Senna, que consegue conquistar os corações dos brasileiros, não só pelo seu talento nas pistas como pelo seu comportamento fora delas. Paulistano de nascimento, sempre que podia, pegava num avião e voltava a casa, ao contrário de Piquet, que vivia num iate no paraíso fiscal do Mónaco. Claro, Senna também tinha casa no Principado, mas usava mais raramente essa perrogativa. E nem toda a gente gostava das bicadas que Piquet dava a Senna, especialmente quando questionou a sua sexualidade, insinuando que era "gay". Claro, nenhum dos dois era, mas deu para correr muita tinta.
Depois da Benetton, foi para a Lotus, onde reconheceu que esteve ali a ganhar mais dinheiro do que resultados. A Benetton foi melhor, venceu mais três corridas, mas essas foram mais vitórias "caídas do Céu" do que conseguidas na luta. E ainda teve uma simbólica: venceu na corrida numero 500 da história da Formula 1, no GP da Austrália de 1990, depois de um duelo com... Nigel Mansell.
Sem Piquet, não se consegue escrever completamente quinze anos da história da Formula 1, do final dos anos 70, com os carros de efeito-solo, ao inicio dos anos 90, com os motores de 3.5 litros, passando pelos poderosos Turbo, no qual venceu dois dos três títulos mundiais. E dele surgiu uma dinastia automobilistica, com pelo menos três dos seus filhos a correrem no automobilismo, desde o karting, onde anda o filho mais novo, Pedro, até ao mais mediático de todos, Nelson Piquet Jr., ou o Nelsinho, na NASCAR americana depois de um passagem pela porta pequena pela Formula 1, passando por Geraldo, Piloto da Formula Truck.
No final, poderemos dizer, com toda a legitimidade, que foi um dos maiores do seu tempo. Portanto... Feliz Aniversário, Nelsão!
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