quinta-feira, 1 de setembro de 2011

5ª Coluna: As alternativas chegaram ao automobilismo


Quer queiramos ou não, as energias alternativas estão a chegar em força ao automobilismo. Numa era onde o petróleo está a tornar-se num combustivel cada vez mais caro, mais raro e mais dificil de explorar um pouco pelo mundo inteiro, aproxima-se rapidamente aquele dia em que se tornará inviável a sua extração e conseguente transformação em gasolina e seus derivados. E como o mundo não vai ficar à espera da catástrofe, desde há muito se pesquisam as alternativas ao motor de combustão.

Desde há uns anos a esta parte que as marcas comerciais, a começar pelas japonesas, apostam nos híbridos. Toyota, Lexus e Honda já tem desde há muito tempos modelos comerciais movidos a uma combinação de motores a combustão e motores elétricos, e as restantes marcas já seguem esse rumo. Há outra alternativa, o hidrogénio, explorado pela BMW e pela Honda, mas por agora ainda fazem parte de uma minoria, e a sua percentagem nos lucros é marginal. Mas a aposta é grande e a longo prazo, como está a fazer a Renault, ao anunciar uma vasta gama de modelos elétricos.

E claro, isso já está a chegar ao automobilismo. Aos poucos, começam-se a ver projetos de carros movidos a eletricidade a fazerem alguns feitos isolados, como a Toyota, que foi buscar um chassis Radical e montou uma unidade elétrica que bateu o recorde de Nurburgring em veículos elétricos, numa marca respeitável de 7 munitos e 49 segundos. Esse é o mais recente projeto, pois já várias marcas como a Citroen a Nissan já apresentaram protótipos. E a partir do ano que vêm, um projeto elétrico aparecerá para competir nas 24 horas de Le Mans.

A FIA já começou a ver o potencial da eletricidade, e a pedido da União Europeia, decidiu criar a Formula E, cujo anuncio oficial aconteceu no passado dia 21 de agosto. Essa competição, que a entidade máxima do automobilismo quer lançar já em 2013, terá como objetivo a construção de chassis com 780 quilos de peso mínimo, e com a performance de um Formula 3. As corridas - provavelmente duas ou três por final de semana - teriam a duração de 15 minutos. Nesta altura, a FIA está a receber propostas de equipas, marcas ou firmas interessadas até ao dia 14 de outubro, e no final do ano, a equipa vencedora será escolhida para desenhar os chassis dessa nova série.

E a FIA não só tomou medidas nesse sentido. Já se sabe desde há algum tempo que há sistemas como o KERS, um sistema de recuperação de energia que é alimentado pela energia cinética feita pelas rodas dos bólidos de Formula 1, que providencia mais de cen cavalos extra por alguns segundos aos pilotos. E para 2014, Jean Todt quer que os carros de Formula 1 sejam híbridos, com eles a funcionarem de modo elétrico quando forem pelas boxes. Ross Brawn disse há uns dias que a tecnologia está a mudar e que a formula 1 tem de acompanhar, pois caso contrário "acabaremos como dinossaurios dentro de cinco ou dez anos".

Uma medida que acolhe oposição de Bernie Ecclestone, e pode ser usado como arma de arremesso no duelo que tem com Todt e a FIA. Ou seja, ele diz que é contra não porque é velho e não vive sem o barulho dos motores e o cheiro a gasolina, mas porque pode usar mais tarde para poder negociar a sua continuidade como manda-chuva da Formula 1, e como forma de evitar com que fique com uma percentagem menor dos lucros. Mas mesmo outras personagens que estão relutantes com essa tecnologia, como Luca di Montezemolo, o patrão da Ferrari, sabe que tem de abraçar a tecnologia elétrica, se não quer ver os seus clientes fugirem e o seu negócio entre em falência dentro de vinte anos.

Mas mesmo que não fosse essa a razão porque os elétricos ou outras energias alternativas não entrem na Formula 1, existe uma bem forte: marketing. Desde há mais de vinte anos que a Formula 1 é muito menos tecnologia e muito mais "marketing", pois vende-se "glamour" e não a potência dos motores. Altamente regulamentada, desde há muito que não se vê a competição na categoria máxima do automobilismo, pois há que manter um equilibrio artificial em nome daqueles que pagam para ver isso. Em suma, vemos mais modelos e atores na televisão que mecânicos. E por uma ironia amarga, a tecnologia elétrica poderá entrar e ficar na Formula 1 porque vai haver uma altura em que se tornará "amigavelmente marketável".

Em suma, aos poucos e poucos, a industria e o desporto começam a olhar para o futuro e para os desafios da tecnologia. É certo que existem obstáculos de monta, desde as centrais que o irão abastecer essa eletricidade - por muito que se construam centrais de energia solar, eolica ou outra "verde", ainda existem as centrais térmicas e a carvão, abastecidas com combustíveis fósseis, para não falar do nuclear - o maior deles todos é o do abastecimento, armazenamento e substituição das baterias elétricas. Mas toda a gente na industria e no desporto trabalha nessa solução, porque é um desafio que todos querem superá-lo. E ao ritmo que isto anda, não ficaria admirado se dentro de cinco anos, o problema da durabilidade das baterias esteja em vias de resolução.

No dia em que isso acontecer, os outros problemas poderão se resolver com maior facilidade. Trabalha-se para isso porque é o maior desafio desde século. Quer queiramos, quer não.

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