Esta terça-feira, em Indianápolis, a Indy Car Series anunciou quem seriam os participantes da corrida de Las Vegas, a tal que daria cinco milhões de dólares ao piloto que conseguisse bater a concorrência regular num dos seus carros. Segundo os seus critérios, só um piloto é que está qualificado para tal: o britânico Dan Wheldon, que venceu de forma inesperada as 500 Milhas de Indianápolis. Quem está a ver isto por fora, pensa que o prémio já está dado, mas quem acompanha isto com regularidade afirma que é o desfecho lógio daquilo que todos chamam agora de "fiasco do ano". E para piorar as coisas, este anuncio é o mais recente episódio de uma série de polémicas - na pista e fora dela - que tem abalado a Indy Car Series nesta temporada.
O mais engraçado é que quando foi anunciado, as expectativas eram absolutamente as contrárias. Quando Randy Barnard, o novo diretor da Indy Car Series, tomou conta da empresa após a saída de Tony George, no final de 2010, veio com um conjunto de boas ideias para recuperar a popularidade que esta categoria teve antes da diovisão em duas séries no final de 1994 e se prolongou por catorze anos, prejudicando-se uns aos outros, enquanto que a NASCAR crescia de popularidade na televisão e nos autódromos.
E este prémio de cinco milhões para a oval da capital do jogo foi uma jogada de mestre. Quando o anuncio foi feito, a publicidade foi instantânea e todos aplaudiram. Afinal de contas, era muito mais dinheiro que dá a as 500 Milhas de Indianápolis, que sempre teve a fama de ser a corrida mais endinheirada do mundo. Assim sendo, a noticia atraiu nomes como Jacques Villeneuve e Alex Zanardi, fez interessar pilotos de outras categorias como Petter Solberg, Jean Alesi e até Kimi Raikonnen.
Mas se o comum dos mortais era capaz de fazer tudo por muito menos do que cinco milhões, até subir a um carro da Indy e correr, os pilotos profissionais só fariam isso se dessem condições para tal e competir com os outros em igualdade. E foi isso que aconteceu ao longo dos meses. Villeneuve e Zanardi disseram que correriam, desde que fosse pela Penske e Ganassi, respectivamente. Mas quer a Penske, quer a Ganassi, que são as duas equipas de ponta na Indy Car Series e lutam pelo título este ano, disseram que não iam dispensar homens e máquinas para uma coisa destas e declinaram o convite. E como as equipas disseram não, os pilotos desistiram de imediato da ideia, com o filho de Gilles a mandar a organização da Indy para aquela parte.
Com o tempo a passar, as candidaturas escassearam e os "nãos" aumentaram. Convidaram pessoal da NASCAR, mas quase todos disseram "não". Pediram a Travis Pastrana - e confesso que não ficaria admirado se tivessem feito o mesmo convite a Ken Block e Tanner Foust - mas Pastrana lesionou-se e ficou de fora. Randy Bernard estava cada vez mais incomodado e esta terça-feira, disse aquilo que todos sabem: só Dan Wheldon, o inesperado vencedor de Indianápolis, é que tentará os cinco milhões.
Só que o anuncio causou ainda mais polémica. por duas razões: a primeira é que Wheldon é o piloto de testes oficial do carro de 2012, e segundo, os pilotos que não participaram regularmente na Indy, como o sul-africano Thomas Scheckter - filho de Jody Scheckter - o canadiano Paul Tracy, o chinês Ho-Pin Tung e o brasileiro Bruno Junqueira, já vieram a público dizer que também merecem a oportunidade de correr na oval da capital do jogo e preenchem os mesmos critérios para tentar bater os regulares e ganhar os cinco milhões de notas verdinhas. E de uma certa forma, dou-lhes razão para reclamarem.
Por aquilo que vejo regularmente na Indy, vejo que ao longo desta temporada houve asneiras em pista, como o que aconteceu em Toronto e na oval do New Hampshire, onde Brian Barnhardt, o diretor de corrida, decidiu dar luz verde a uma prova na oval onde chovia e as condições eram menos que mínimas, causando imediatamente uma carambola e levando ao seu final antecipado. E a cada asneira que cometem, mais a NASCAR fica-se a rir e a receber cada vez mais pilotos nas suas categorias. E a Indy prepara-se para receber novo desaire, com o anuncio recente da mudança de Danica Patrick, um farol de popularidade na America, para a NASCAR.
Em suma: toda a gente faz tudo por dinheiro, desde que lhe providenciem os meios necessários para isso. Mas decerto que no Inferno - caso exista, claro - a secretária do Capeta deverá ter o seu cesto dos papéis infinitamente cheio das boas intenções cuja practicabilidade se demonstraram dificeis, para não dizer impossiveis. Randy Barnard e Brian Barnhardt são os mais dois recentes exemplos desse rol, mas espera-se que na próxima temporada, quando tiverem os novos bólidos, corrijam os erros e comecem a partir de 2012 de realizar a dificil tarefa de restaurar a reputação que esta categoria já teve.
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