De quando em quando lá nos lembramos dos mitos do automobilismo, daqueles que viveram depressa demais e morreram demasiado cedo. Os carismáticos e rebeldes, esses não morrem nunca, como Gilles Villeneuve na Formula 1 ou Henri Toivonen nos ralis. Hoje volto a lembrar o finlandês, não tanto pelo fato de no passado dia 26 de agosto, caso estivesse vivo, teria comemorado o seu 55º aniversário natalício. É mais porque hoje surgiu no Autosport português o testemunho de um dos colaboradores mais conhecidos da revista, o britânico Martin Holmes.
O seu testemunho veio acompanhado pela fotografia que coloco aqui, e do qual ele afirma: "Poderá não ser a mais fantástica fotografia que tirei, mas é a que mais significado tem para mim". E ele justifica tal frase, dizendo que foi tirada "em Bastia, na manhã do dia em que, infelizmente, acabou por morrer no decorrer do Rali da Córsega. Esta imagem é, para mim, a mais emotiva entre todas as que me lembro de ter tirado."
Depois conta os momentos que viveu nesse já distante dia 2 de maio de 1986: "Um sentimento terrível e de grande perplexidade começou a assaltar-me, enquanto esperava, em vão, pela chegada dos carros a Croce d'Arbitro, percebendo que algo de muito preocupante tinha acontecido, principalmente quando vi, através do Collo di S. Quilico, uma pálida coluna de fumo a subir para o céu. Pouco tempo depois a rádio local noticiou que Toivonen tinha batido e, quase de seguida, que ele e o seu co-piloto, Sergio Cresto, tinham morrido.
Senti-me tal como tinha acontecido um ano antes quando Attilio Bettega tinha falecido e, sete anos mais tarde quando o mesmo aconteceu a Rodger Freeth, na Austrália. De repente os pensamentos sucederam-se num turbilhão e, para mim, a morte de Henri provocou-me uma súbita obsessão. Queria lembrar-me da última vez que tinha falado com Henri, mas não o conseguia fazer. As imagens passavam pela minha mente, retrospectivamente, mas nada conseguia fazer com que me recordasse.
Regressei ao quartel-general do rali em Ajaccio onde poderia aceder a toda a informação que necessitava sobre a vida de Henri, as consequências do sucedido e a forma como o acidente poderia afectar o desporto no seu todo.
Então alguém aumentou o som de uma televisão e o noticiário da TF1 estava a relatar o acidente. O "cameraman" focava Henri sentado no seu carro, conversando e rindo com um desconhecido, ao mesmo tempo que o flash de um fotógrafo iluminava, periodicamente, a cena. Ele estava a conversar comigo, rindo (tal como ele e os outros pilotos finlandeses sempre faziam) do tamanho ridiculamente pequeno das minhas câmaras, as câmaras "Rato Mickey", tal como Kankkunen as apelidava. Os tais flashes eram da minha câmara e a sua presença removeu, de imediato, a minha obsessão.
Esta peça jornalística fala sobre a última fotografia que tirei a Henri Toivonen, um dos mais talentosos e controversos pilotos de ralis, uma espécie de Gilles Villeneuve da "estrada". Tinha seguido a carreira de Henri desde os seus 16 anos de idade. Tinha assistido ao Rali do Ártico quando conquistou a sua primeira grande vitória, estive no carro atrás dele quando venceu o Rali do RAC em 1980. Poderá não ser a mais fantástica fotografia que tirei, mas é a que mais significado tem para mim.", concluiu.
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