"Se um homem não conseguir olhar para o perigo e enfrentá-lo, deixa de viver. Se o pior acontecer, é porque o chamaram para pagar o preço da felicidade em vida".
Graham Hill, 1929-75.
Desde que comecei este blog, foram raros os acidentes fatais que assisti, mas vi muitos sustos e falei deles. Mas quando acontecem, a minha sensação é, para além da amargura e tristeza subjacentes, o enorme vazio que sentes quando ouves a noticia oficial, de que apesar de teres o melhor carro do mundo, que te protege contra grandes choques, e de teres as equipas médicas mais bem apretechadas para este tipo de emergências, não se pode fazer nada por esse piloto.
E sabes o pior muito antes deste ter acontecido, quando tu ouves aquele silêncio ensurdecedor das autoridades oficiais, do qual não abrem a boca por nada deste mundo. Isso é porque primeiro vão avisar os familiares próximos, e depois os amigos mais chegados, como é a Indy, que muitos deles se comportam como uma familia. E pelo que vi na transmissão da ABC, muitos deles já estavam a chorar copiosamente ainda antes do anuncio oficial. E juntando dois mais dois, pensas que o pior aconteceu: um piloto pagou o sacrificio supremo pelo seu amor ao automobilismo.
E para piorar as coisas, quando vês o video que coloco no post mais abaixo, notas que aquelas imagens "onboard" são provavelmente são os seus últimos momentos de vida. E depois, quando vi aquela entrada de ar arrancada e uma marca preta no seu capacete, lembrei-me imediatamente dos eventos de Brands Hatch, em julho de 2009, quando Henry Surtees, por um azar tremendo, leva com o pneu de Jack Clarke e teve morte imediata numa corrida de Formula 2. E o irónico é que ele, o filho de John Surtees, tenha sido vítima, quando o seu pai foi um dos sobreviventes de uma era mortal, onde até grandes pilotos como Jim Clark e Jochen Rindt, pagaram o preço mais alto.
Dan Wheldon tinha 33 anos, deixa mulher e dois filhos, e ele estava a correr em Las Vegas para ver se ganhava o prémio de cinco milhões de dólares. Sim, era um dos que corria ali em part-time nesta temporada, depois de ter ganho inesperadamente as 500 Milhas de Indianápolis deste ano, após J.R. Hildebrand ter batido no muro na última curva da última volta da corrida. Ainda por cima, o acidente aconteceu precisamente seis anos depois da sua conquista do título da então IRL. E era também o piloto de testes do carro de 2012, que iriam substituir estes carros.
Agora, os pilotos da Indy, a chorar baba e ranho, vão dar cinco voltas em bandeiras amarelas em sua honra. Pode ser um bonito gesto, mas para mim era desnecessário e criticável. Pode até ter partido deles, mas se fosse piloto, não entrava mais. E isto é mais um exemplo de que, por muito que se faça em termos de segurança, o automobilismo nunca será cem por cento seguro. E os pilotos, claro, sabem esse risco.
Mas não deixa de ser triste ver uma morte no automobilismo. É um desporto que adoras, e qualquer acidente mortal é uma facada no coração. Ars lunga, vita brevis, Dan.
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