Ontem li a noticia de que o polaco Robert Kubica não estará pronto para correr no inicio de 2012 devido à sua prolongada convalescença do seu acidente em fevereiro, no rali Ronda de Andora, em Itália. Não é uma noticia surpreendente, dada a gravidade das lesões que sofreu nessa ocasião em todo o lado direito do seu corpo, mas acho que começa a ser um exagero, para não falar de uma tremenda falta de respeito e desconhecimento do que se fala, sobre as possibilidades do regresso de Robert Kubica à Formula 1.
Colocar o caixão à porta do piloto é algo que nunca farei. Primeiro que tudo porque não sou médico, segundo porque não conheço ou não tenho contacto com o piloto ou com o seu manager, o Daniel Morelli, e terceiro, os exemplos do passado muitas vezes desmentem os maus agoiros. E já houve casos bem mais graves do Robert Kubica.
Primeiro que tudo, o fato de Kubica ter avisado que não estava pronto para correr para 2012, para mim não deve ter a ver com a sua condição. Tem mais a ver com outra coisa: não quer correr mais para a Renault-que-em-breve-se-vai-chamar-Lotus. Se forem espreitar hoje a Gazzetta dello Sport, irão ler as declarações do seu manager, Daniel Morelli, que disse, primeiro que tudo, "não tinha a certeza de estar em condições para os testes de fevereiro", acusando até a própria Renault de deturpar as suas palavras.
E Morelli revela mais: "o contrato não termina no final de 2012, mas já em 31 de Dezembro pelo que, a partir de 1 de Janeiro, o Robert está livre para correr onde quiser." E remata: "Nunca falámos em 2013 nas nossas conversações com a Renault. Sempre dissemos que o atraso seria de poucos meses, nunca de um ano completo. E tenho a certeza de que o Robert vai voltar ainda mais forte do que era e ainda mais atrativo para qualquer equipa da frente. O seu único problema, atualmente, está na força muscular da sua mão, pois os músculos do antebraço ficaram muito tempo imobilizados e precisam de ser trabalhados. A sensibilidade da sua mão está excelente, o resto não nos preocupa muito - é uma questão de tempo. No final de janeiro já estará ao seu melhor nível."
Se Morelli fala disto com todos estes pormenores, é porque sabe do que diz e sabe daquilo que os médicos lhe contam nos vários diagnósticos que estão a fazer ao longo deste ano. Portanto, ele caso volte, não vai ser com a Renault-que-em-breve-se-vai-chamar-Lotus. Lembram-se de uns dias antes do seu acidente, na apresentação da equipa em Valência, de ter gozado com a situação dos nomes, afirmando que "iria correr pela Total"? Muito provavelmente estaria a dizer que não gostava daquilo que se passava naquela equipa.
Nunca foi na cara do patrão da Genii, Gerard Lopez, falando mais com Eric Boullier, que se preocupou verdadeiramente com a sua saúde nas semanas e meses depois do seu acidente. E enquanto recuperava das suas lesões, na cama do hospital, deve ter tido mais que tempo para que lhe falassem da várzea que se tinha transformado a equipa de Enstone, com as lutas para arranjar mais dinheiro e a quantidade de pilotos que andavam à volta daquela equipa, como Nick Heidfeld e Bruno Senna.
Há outra coisa que me faz acreditar na recuperação total de Robert Kubica: ele não é um ser humano qualquer. Lembro-me de um artigo escrito no final do ano passado pela Julianne Cerasoli, em que falava sobre a capacidade dos reflexos dos pilotos de Formula 1, que à partida tem de ser superiores à média do cidadão comum. E que nos testes que fizera, o piloto polaco teve as pontuações mais altas. Como ele não foi afetado na sua cabeça no seu acidente, e os nervos e tendões demoram algum tempo para recuperar, ele muito provavelmente está a treinar, nos seus exercícios diários de fisioterapia, essa sua capacidade. E pelos vistos, os médicos - que por norma são circunspectos e cauteloso - frequentemente declaram estar bem espantados com a sua capacidade de recuperação, dada a extensão das suas lesões.
Para finalizar, falo de exemplos do passado bem mais graves: Didier Pironi e Alessando Nannini. Os dois casos foram bem mais graves do que Kubica, pois falamos de membros decepados e de lesões complexas e demoradas. Entre 1982 e 86, o piloto francês da Ferrari submeteu-se mais de duas dezenas de operações para recuperar a totalidade do seu pé direito, quase decepado no acidente. Após esse tempo todo, e ainda com os seus movimntos algo presos, testou no verão de 1986 pela notava AGS, em Paul Ricard, e depois pela Ligier, em Dijon-Prenois. Pironi apenas se queixou da falta de ritmo no teste de "endurance" que a equipa fez, e parecia estar minimamente recuperado da maioria das suas funções. Mas por essa altura, o francÊs não tinha lugar nas equipas do pelotão da frente e decidiu competir na motonautica, com um final trágico.
No caso de Nannini, a sua mão ficou decepada, mas foi reimplantada após uma operação que durou mais de doze horas. Não recuperou totalmente a sua capacidade, mas isso não só não impediu que a Ferrari - que semanas antes do seu acidente recusou um contrato de um ano pela marca - lhe desse um teste em 1992, com um volante especialmente adaptado para o efeito. Já por si o impedia de voltar a um carro desses, mas não o impediu de pilotar na DTM, ao serviço da Alfa Romeo, com vitórias.
Onde quero chegar com isto tudo é que as noticias sobre a sua "morte competitiva" são claramente exagerados. Mais do que "achismos" ele mesmo, os médicos, a familia e o seu "manager" sabem bem o que se passa com ele e qual é a sua capacidade de correr. E se ele quiser esperar mais algum tempo para voltar a competir, não coloca a sua recuperação em causa. Apoenas pode ter a ver com as suas perspectivas de futuro. Olhem as especulações na Ferrari para 2013...
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