quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Reggazzoni!


Ciao Clay!

Já passaram cinco anos desde que tu foste embora. Embora o mundo agora estaja a passar dias maus, o automobilismo até parece que nada sabe do que se passa. Está tudo como antes, embora agora não seja tanto uma luta entre a Ferrari e a McLaren, porque há agora um novo ator, que é a Red Bull. Aliás, agora vivemos o dominio de outro alemão, chamado Sebastian Vettel. Não sei se chegaste a ouvir falar dele, mas enfim, os dois últimos títulos foram dele.

Mas não é para falar sobre o que se passa por aqui que escrevo isto. Hoje vi aquele teu acidente que sofreste no Mónaco, em 1968, no qual escapaste por instinto - não, não chamo de milagre, digo instinto porque tu reagiste. Ao ver aquilo pensei para mim mesmo: 'se não tivesses sobrevivido, o que nunca teriamos visto?'

Eis o que poderiamos ter perdido se não tivesses reagido naquele dia, a aquele choque: teriamos perdido um piloto que teria entrado de rompante na Ferrari, na Formula 1, em 1970. Tinhas perdido a tua chance de correr na Scuderia de Enzo Ferrari, o sonho de qualquer piloto que fala italiano - e não só. Terias perdido a oportunidade de vencer na Catedral, em Monza, não uma, mas duas vezes, pela marca.

Terias perdido também a oportunidade de conhecer um bom piloto, um jovem austriaco que vivia de empréstimos atrás de empréstimos, que conheceste quando foste um ano para a BRM - a troco de um cheque bem gordo, cujos valores exatos levaste para a cova - e que tu ficaste impressionado com a sua rapidez e a sua técnica. Quando voltaste à Ferrari, em 1974, recomendaste-o ao Commendatore e salvaste a carreira dele, mesmo se mais tarde arruinou a tua. Sim, foste tu que nos deste a conhecer Niki Lauda ao mundo. Quem é que teria feito no teu lugar se tivesses desaparecido naquele acidente no Mónaco, antes da tua carreira de Formula 1?

E não te deixaste abater quando no final de 1976 tu perdeste o teu lugar na Ferrari e foste correr na Ensign, uma equipa quase de final de pelotão. Deste o teu melhor, foste profissional e conseguiste alguns resultados. No ano seguinte, foste para a Shadow, mas não foi muito melhor. Onde tu verdadeiramente conseguiste uma segunda vida, ou um regresso, foi na novata Williams. O Tio Frank viu-te num excelente parceiro para o Alan Jones.

Estavamos em 1979 e já tinhas 40 anos, quase dez de carreira na Formula 1. A Williams era uma equipa nova, com dinheiro fresco vindo dos árabes e tinha feito o seu primeiro chassis decente. E em Silverstone, parecia que iria ser o dia de Alan Jones. Mas depois, o motor deixou-o mal, e tu aproveitaste, rindo e sorrindo! Foi um belo regresso, Clay, e que mereceste tal coisa. E marcaste o teu lugar na história, pois foste, és e serás sempre o primeiro vencedor de um carro da Williams.

Depois, voltaste para a Ensign, querendo repetir a história. Até parecia que ias bem, mas depois... aquele acidente em Long Beach estragou tudo. Não te permitiu que tivesses um final de carreira digno, em que saísses no teu próprio pé, e nem pagaste aquele preço que muitos dos teus colegas e amigos pagaram pelo amor ao automobilismo que também tinhas. Mas não te lamentaste, seguite em frente e fizeste a tua vida, outra vez.

Em suma, depois de ver a história do Mónaco, fico com a impressão de que tiveste uma segunda vida. E agarraste-a com ambas as mãos e gozaste-a o mais que pudeste. Mesmo que os teus últimos 26 anos tenham sido numa cadeira de rodas, não mostraste sinal de arrependimento. Adoraste a vida que tiveste, foste feliz naquilo que querias fazer, correste até aos 40 anos, quando a maior parte das pessoas queria mas é a reforma. E mesmo depois daquele acidente em Long Beach, que te atirou para uma cadeira de rodas, tu continuaste a guiar, a fazer o que gostavas. Fizeste o Dakar e tudo!

Viveste 38 anos depois dessa corrida no Mónaco. Aproveitaste bem e sempre com um sorriso. E foste um exemplo para muitos.

Grazie, Clay! Dá um abraço a todos e esperemos que um dia nos cruzemos, algures nesse Grande Desconhecido...

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