O GP da Malásia tinha todo o potencial de ser uma excelente corrida devido ao fator "tempo", pois prometia-se que a humidade seria elevada - como se esperaria de uma zona tropical - e como a chuva iria aparecer a um horário um pouco menos habitual, ou seja, ainda mais cedo. Caso isso acontecesse, a corrida seria uma autêntica lotaria, do qual tudo poderia acontecer. A corrida teve chuva, teve interrupção, e teve retorno. E teve um vencedor inesperado, mostrando ao mundo que, se dúvidas existissem, ficaram desfeitas: a Ferrari é um mau carro, Fernando Alonso é de outra galáxia.
Mas a corrida começa com chuva. Moderada na hora do arranque, os pilotos tentaram se segurar na pista o mais que podiam nos primeiros minutos com os pneus intermédios, sem grande sucesso. Havia danças na pista, desde o toque de Michael Schumacher a Romain Grosjean, até às habituais saídas em pista em asfalto, que os permitiam voltar sem problemas. Mas após a oitava volta, o Safety Car entrava em ação, devido ao agravar das condições, do lago que se formava em algumas zonas. Pensava-se que com isso, evitasse a bandeira vermelha, mas não foi possível. Tal aconteceu na nona volta.
Quando parou a corrida, toda a gente olhou para o Céu, esperando que a chuva amainasse a tempo de ter claridade suficiente para correr. Nos 51 minutos que durou essa paragem, muitos olharam para Kimi Raikkonen para ver se iria para o paddock da Lotus - queimada na madrugada anterior devido a um curto-circuito - e comer um gelado, mas isso nao aconteceu. Kimi portou-se bem, falou com os engenheiros e concentrou-se o suficiente para depois levar o carro a um quinto lugar no final da corrida.
No meio disto tudo, um fato curioso: a Hispania - ou HRT - tinha colocado pneus de chuva no inicio e tinha rendido alguns frutos, com Narain Karthikeyan a rolar no décimo posto, e a namorar o seu primeiro ponto - ou meio ponto. Era uma curiosidade do tamanho de Marcus Winkelhock com o seu Spyker, em Nurburgring 2007, mas o suficiente para que muitos olhos se voltassem para a nanica HRT, que começava a época nesta tarde.
A corrida recomeçou uma hora e 15 minutos após o arranque, e como disse nos parágrafos anteriores, após 51 minutos de paragem. Começou com o Safety Car no primeiro posto, mas em menos de quatro voltas, o asfalto estava bom o suficiente para a corrida. E lá foram eles, com Alonso cedo a instalar-se no primeiro posto, depois de paragens desastrosas para o McLaren de Jenson Button, que começava ali o seu inferno pessoal. E também cedo se viu o Sauber de Sergio Perez. Pensava-se que aquele segundo lugar era sol de pouca dura, mas depois de para para colocar pneus intermédios, via-se que não só conseguia manter o ritmo de Lewis Hamilton, como aos poucos, começava a apanhar o ritmo de Fernando Alonso.
Atrás, no meio do pelotão, alguns pilotos mostravam-se no molhado. Bruno Senna e Daniel Ricciardo eram dois deles, mas era o brasileiro da Williams que fazia melhor, pois vinha do fim do pelotão e passava piloto atrás de piloto, chegando até à zona dos pontos mais rapidamente do que Pastor Maldonado. E aí, passa o Ferrari de Massa - mais outra prestação de pesadelo - e os Force India de Nico Hulkenberg e de Paul di Resta, para se instalar confortavelmente na zona de pontos, conseguindo aquilo que Pastor Maldonado ia conseguir em Melbourne, mas que deitou tudo a perder na última volta.
Com metade da corrida, começou-se a ver o duelo entre um Sauber bem nascido e um Ferrari mal concebido. Aos poucos, Perez diminua a diferença e parecia que a "zebra" iria acontecer: o carro cliente a bater o carro de fábrica. "Comendo" ao ritmo de um segundo por volta, era apenas o "skill" de Alonso é que mantinha o milagre de ver um carro vermelho no comando. E mesmo depois de ambos calçarem pneus "slicks", essa diferença continuava a diminuir. Perez pressionou... e a seis voltas do fim, falha a travagem e sai fora de pista. Perde a vantagem e perde a sua hipótese de vitória, mas conserva a dignidade e marcha rumo a um merecido segundo posto.
Mas apesar de tudo, o espanhol não é o unico herói do dia. Outro piloto que fala a mesma língua, mas que veio do outro lado do Atlântico merece esse epíteto: o mexicano Sergio Perez, o "Checo". A cada corrida que passa, mostra que tem o "toque dos campeões", como tem Alonso, Schumacher ou Vettel, como teve Ayrton Senna, Gilles Villeneuve, Jim Clark e Jackie Stewart. E por causa da sua corrida sólida, veloz com pneus intermédios, apanhando gradualmente Fernando Alonso na última parte da corrida, fez lembrar a muita gente, mais velha, o saudoso Pedro Rodriguez, excelente piloto à chuva e que vencera pela última vez em 1970, em Spa-Francochamps - o velho Spa, de 14 km - ao volante de um BRM.
No pódio, todos estavam felizes: Alonso, pela sua condução que o colocava nos anais da história do Cavalino - como fora a Gilles Villeneuve em Jarama, 1981, ou a Michael Schumacher em Barcelona, 1996 - e por ter salvo a cabeça de Stefano Domenicalli; Perez, pelo seu primeiro pódio da carreira, e por quase ter vencido e ter levado o velho Peter Sauber às lágrimas; e por fim Hamilton, que discretamente bateu Button em toda a linha e ter conseguido um resultado consistente, um terceiro lugar, pois Button teve uma corrida horrivel. Para esses três, a corrida de Sepang cedo não irá sair das suas memórias.
No final da corrida, Peter Windsor lembrava, via Twitter, que tudo aquilo lhe lembrava Jacarépaguá 1989, quando a Ferrari estreava a caixa semiautomática, sem que nunca o tivessem completado uma simulação de corrida nos testes de pré-época. Nigel Mansell, que se estreava na equipa do Cavalino, venceu uma corrida do qual ninguém esperava que vencesse. E estava calor nesse dia.
Com duas corridas no campeonato, Fernando Alonso é o inesperado lider do campeonato de 2012. Isso pode demonstrar o equilibrio que vai haver nesta temporada, pois Lewis Hamilton, Sebastian Vettel e Mark Webber ainda não ganharam nesta temporada. E ainda temos a Lotus e a Mercedes a ter em conta... daqui a três semanas, em Xangai, há mais.
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