Com o intervalo de apenas sete dias entre Grandes Prémios, não vai haver muito que falar para além dos rescaldos da corrida de Melbourne e da antecipação da corrida de Sepang, na Malásia. Mas é lá que vai acontecer algo importante: o começo da temporada 2012 da GP2.
Ontem à tarde, li a noticia de que a Rapax, que ainda não tinha confirmado uma dupla para esta temporada, tinha anunciado a contratação do francês Tom Dillmann e o luso-angolano Ricardo Teixeira, que em 2011 tinha sido piloto de testes da Lotus - agora Caterham. Dillmann, atualmente com 22 anos, foi o campeão da Formula 3 alemã em 2010 e um ex-piloto da fileira Red Bull, e conseguiu um pódio e uma pole-position em 2011, na GP3, com passagens pela Carlin e a Addax. Um palmarés bastante melhor do que Ricardo Teixeira, que está ali por causa da sua carteira, apesar de uma temporada agradável na Formula 2, em 2010.
Com apenas um lugar por preencher, na Venezuela GP Lazarus, que substitui este ano a veterana Super Nova, faz-nos pensar um bocado a atual situação da GP2. E aparentemente, isto parece ser um reflexo da crise, pois pilotos talentosos, tirando o brasileiro Felipe Nasr, o indonésio Rio Haryanto ou o mexicano Esteban Gutierrez, não parece haver. Há mais uma grelha cheia de carteiras recheadas, graças aos dinheiros que as equipas exigem para toda uma temporada na categoria imediatamente abaixo da Formula 1.
Segundo diz a Autosport na sua edição deste mês, numa matéria sobre a descoberta de talentos no automobilismo, uma temporada de GP2 numa equipa média vale agora entre 1.5 a 2 milhões de euros, dependendo da equipa. Um contraste com o um milhão de euros que as equipas da World Series by Renault pedem aos pilotos que vão para lá - e parece ter atraído muita gente como o dinamarquês Kevin Magnussen, o brasileiro Lucas Foresti, os britânicos Sam Bird e Lewis Williamson ou o francês Jules Bianchi - e os 600 mil euros que a GP3 pede aos seus pilotos.
É por isso que pilotos como, por exemplo, o português António Felix da Costa, preferem ficar mais um ano na GP3 e tentar o título, do que "vegetar" na GP2 e provavelmente ficar apeado a meio do ano, porque o dinheiro acabou. A crise e a quantidade de carteiras recheadas de pilotos cujo talento é por vezes inversamente proporcional à quantidade de dólares, euros, ienes, rublos ou até kwanzas, fazem com que a qualidade dos pilotos que lá andam este ano seja, provavelmente, a pior de todas. Dou-vos um exemplo: acham que numa era "normal", iriamos ter dois pilotos monegascos no pelotão da GP2? Provavelmente não, apesar de Stefano Colletti (duas vitórias em 2011) e Stephane Richelmi serem bons pilotos.
Mas o que quero dizer é... esta gente toda tem talento para a Formula 1? Tirando talvez Nasr (ajudado por Eike Batista) e Gutierrez (apoiado pela Sauber e a Telmex do Carlos Slim), não. Haryanto ainda é muito novo, e os outros já andam ali há muito tempo, sem consegurem "dar o salto". E o melhor exemplo existente é o do holandês Gierdo van der Garde, que vai fazer a sua quarta temporada na GP2, depois de vários meses a ser falado para um lugar na Williams, Lotus, Caterham e até Marussia. Apesar de três vitórias em 2009, nunca teve a capacidade para disputar títulos, mesmo que seja o campeão de 2008 da World Series by Renault.
Não me admira que pessoas como Ron Dennis disse, em 2009, que não tinha visto ninguém suficientemente bom para a Formula 1, apesar de ter sido naquele ano que Nico Hulkenberg venceu o campeonato, um dos poucos campeões que o venceu no seu primeiro ano. O alemão tem talento, e já foi recompensado na Formula 1 com um lugar na Williams e depois na Force India. Mas penou em 2011 quando foi preterido na Williams por um piloto com dinheiro, Pastor Maldonado. Que por acaso, foi campeão da GP2 em 2010.
Em resumo: a GP2 está a ser cada vez mais uma máquina devoradora de dinheiro, aquilo que fez extinguir, de uma certa forma, a Formula 2, em 1984, e a Formula 3000, vinte anos mais tarde. Apesar de ser uma competição monomarca - todos os chassis são da Dallara, com motor Renault - só o fato de os pilotos terem de viajar para a Ásia, com duas passagens pelo Bahrein, para além da Malásia e Singapura, já encarece a competição, numa altura em que não há muito dinheiro para sustentar carreiras. Em contraste, a WSR e a GP3 são formulas essencialmente europeias. Será que vai ser assim por muito mais tempo?
E já agora, se quisermos ver os valores do futuro, espreitamos que categoria?
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