Acabo de saber agora, apesar de ter acontecido ontem. Carrol Shelby, uma das lendas do automobilismo americano, o homem que ajudou a Ford a vencer em Le Mans em 1966 com o GT40, e que pouco antes tinha construido o AC Cobra, entre muitos outros, morreu esta quinta-feira aos 89 anos, em Dallas, no Texas. Shelby estava internado desde há algum tempo com uma pneumonia, que segundo o site Jalopink, poderá ter apanhado em novembro do ano passado, em Las Vegas, numa convenção da SEMA, quando foi abraçar Linda Vaughn, outra lenda automobilistica desses tempos, e também conhecida pelo seu belo busto...
Nascido a 11 de janeiro de 1923 em Leesburg, no Texas, foi um rapaz franzino com problemas de saúde. Começou muito cedo a conduzir, começando num Willys, ainda antes de acabar o liceu, em 1940, antes de paticipar na II Guerra Mundial como piloto de testes e instrutor de vôo na US Army Air Corps, em aviões como o B-17 e B-25. No final da II Guerra, sendo dispensado do Exército, decidiu criar galinhas na sua Texas natal, com a sua mulher e os seus três filhos. Certo dia, algo aborrecido, decidiu que iria tentar a sua sorte nos automobilismo. E assim descobriu uma carreira.
Quem já leu o livro "Como uma Bala" (Go Like Hell no original), de A.J. Baime, pode ter uma ideia de como Shelby conseguiu contribuir para o fim do dominio da Ferrari em Le Mans, que aconteceu em 1966 no circuito de Le Mans. Desde a ambição vingativa de Henry Ford II, após o Commendatore Enzo Ferrari ter rasgado o contrato de aquisição da sua marca pelo gigante americano. E que como Shelby ajudou a marca de Detroit a bater a marca de Modena, após alguns anos de tentativas frustradas. Uma das grandes citações dele vem desse tempo, quando se identifica como: "O meu nome é Carrol Shelby e a 'performance' é o meu negócio".
Mas há algumas coisas interessantes sobre ele. Uma delas é como o seu fato de competição não era mais do que o seu fato de trabalho como criador de galinhas, porque certo dia estava tão atrasado para uma corrida que levou o que tinha vestido. E surpreendentemente, venceu! Aos poucos, Carrol Shelby torna-se num dos maiores pilotos do seu tempo, tornando-se capa da Sports Ilustrated - apesar de nunca ter guiado nas 500 Milhas de Indianápolis, por exemplo. Guiando carros como o Allard, Shelby deu o salto para correr internacionalmente. E isso inclui oito participações na Formula 1, sendo o melhor um quarto lugar no GP de Itália de 1958, a bordo de um Maserati 250F da Scuderia Centro Sud. Contudo, ele correu no carro de Roy Salvadori, e os pontos não foram atribuidos.
No ano seguinte, participou na aventura da Aston Martin na categoria máxima do automobilismo, num carro de motor à frente, numa era em que todas as marcas já tinham colocado os seus motores atrás do piloto. O resultado é que foi um fracasso. Mas nesse ano, conseguiu algo inédito: ao lado de Salvadori, Shelby venceu as 24 Horas de Le Mans, o segundo americano a fazê-lo, um ano depois de Phil Hill.
Pouco depois, problemas médicos o obrigaram a abandonar a suia carreira de pilotos. Vendo que tinha alcançado o sucesso que queria, Shelby aceitou a decisão e decidiu preparar carros. Funda a Shelby American em 1961 e no ano seguinte, consegue a licença para importar carros da marca AC, substituindo os motores Bristol por uns mais americanos, V8 da Ford. O resultado é o AC Cobra, um dos carros mais marcantes do seu tempo. E claro, começou a cimentar a reputação de Shelby e a atenção da Ford, que agora estava na disposição de dar uma lição a Enzo Ferrari no terreno que ele dominava: as 24 Horas de Le Mans.
Shelby concentrou a atenção mo modelo GT40 depois de ter feito o seu projeto seguinte, o Daytona Coupé, em 1964, do qual foram feitos apernas seis modelos. Esse carro venceu as 12 Horas de Sebring em 1965 - uma corrida onde teve um período de chuva tropical que inundou partes da pista! - e as 24 Horas de Daytona, batendo até os GT40. Na Europa, ganhou o Tourist Trophy e as 24 Horas de Le Mans, na classe GT. Quando esse carro começou a ganhar corridas, concentrou-se no projeto dos GT40 graças à ajuda de pilotos como Bob Bondurant, Jim Hall e especialmente, o britânico Ken Miles.
Por fim, depois de muitos esforços e mais de um milhão de dólares gastos pela marca de Detroit, a Ford venceu em 1966, graças a um triunfo neozelandês, com o carro a ser guiado por Chris Amon e Bruce McLaren, com uma chegada em parada, com o segundo classificado a ser a dupla Dennis Hulme e Ken Miles. Este último detestou tanto a "maracutaia" que andou mais devagar de propósito. Dois meses depois, num teste no circuito de Riverside, Miles sofre um acidente mortal, testando uma nova versão do GT40.
Após o sucesso de Le Mans, a Ford capitalizou isso em modelos de estrada, especialmente os "muscle cars", como o Ford Mustang. Versões como o 350 e o 502 "Boss" têm o dedo de Shelby. A associação com a Ford terminou em meados dos anos 70, mas depois voltou em 2003. Pelo meio, trabalhou com a Chrysler, graças a um ex-executivo da Ford, Lee Iacocca. Através da Dodge, fez várias versões dos modelos da Chrysler existentes, desde o Omni até ao Daytona. No inicio da década de 90, ajudou a elaborar e a construir o supercarro Viper.
Com a saída de Iacocca da Chrysler, Shelby continuou a fazer o AC, até que a Ford voltou a contactá-lo para que voltasse a fazer parte da lenda, especialmente depois da marca ter resolvido fazer uma nova versão do famoso Ford Mustang, que recuperasse o espirito do primeiro. E Shelby preparou, tal como tinha feito nos anos 60, novas versões do 350 e do 502 Boss, para uma nova geração de adeptos, bem como o novo GT40, agora lançado para a estrada.
Antes, já era uma lenda americana. A partir de agora, faz parte da história do automobilismo. Ars lunga, vita brevis.
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