O GP de Valencia foi pródigo, como sempre, de lutas entre pilotos, do qual muitas vezes terminaram em acidente. Os dois mais conhecidos foram os de Jean-Eric Vergne com Heikki Kovalainen, e o da penultima volta da corrida, entre Pastor Maldonado e Lewis Hamilton, uma luta pelo terceiro posto que terminou em choque, com ambos os pilotos a perderem a "medalha de bronze" a favor do veteranissimo Michael Schumacher, que aos 43 anos, se tornou no piloto mais velho a subir ao pódio desde Jack Brabham, que foi segundo classificado no GP da Grã-Bretanha de 1970, corrida vencida pelo lotus de Jochen Rindt e onde Emerson Fittipaldi se estreou na categoria máxima do automobilismo.
A tarde de domingo foi mais prolongada do que o normal, porque os comissários de pista se dedicaram a ver o filme da corrida, de trás para a frente e parando várias vezes para ver todos os incidentes de corrida: entre Kovalainen e Vergne, os dois incidentes de Kamui Kobayashi com Bruno Senna e depois com Felipe Massa, e para finalizar, o incidente entre Maldonado e Hamilton. E todos eles acabaram com penalizações: Vergne paga uma multa de 25 mil euros e perde dez lugares para Silverstone, Kobayashi perde cinco lugares nas duas manobras "banzai" e Maldonado perderá também dez lugares na qualificação britânica, para além da penalização de vinte segundos pós-corrida, que o fizeram perder o décimo posto a favor do seu companheiro de equipa, o brasileiro Bruno Senna.
É ótimo termos lutas na pista? Claro. É ótimo vermos ultrapassagens, mas acho sempre que tem de ser feito em segurança e sem colocar outros em perigo. No caso do incidente Vergne/Kovalainen, creio que foi mais um incidente de corrida, e as multas e penalizações foram um pouco exageradas. O próprio piloto francês pediu desculpa ao finlandês via Twitter, dizendo que o erro foi dele e foi um daqueles do principiante que ele é. Claro, isso não evita as penalizações acima referidas.
No caso de Maldonado/Hamilton, acho que aquilo foi mais um abuso, embora ache que o britânico estava na trajetória certa. Mas com pneus totalmente gastos, não tinha muitas hipóteses. E Maldonado, acho eu, é vítima da sua própria impulsividade. Fico com a sensação que não tem paciência, não sabe esperar, ainda por cima sabendo que os pneus do britânico estavam em pior condição dos dele. E por causa disso, perdeu um pódio certo. Aí, direi que mereceu as penalizações, não porque tivesse sido culpado, mas para que pense o que perdeu por "deitar fora o cérebro". Deve aprender a ser mais paciente nas corridas, fale com o Alexander Wurz para que lhe ensine a usar o cérebro.
No caso de Maldonado/Hamilton, acho que aquilo foi mais um abuso, embora ache que o britânico estava na trajetória certa. Mas com pneus totalmente gastos, não tinha muitas hipóteses. E Maldonado, acho eu, é vítima da sua própria impulsividade. Fico com a sensação que não tem paciência, não sabe esperar, ainda por cima sabendo que os pneus do britânico estavam em pior condição dos dele. E por causa disso, perdeu um pódio certo. Aí, direi que mereceu as penalizações, não porque tivesse sido culpado, mas para que pense o que perdeu por "deitar fora o cérebro". Deve aprender a ser mais paciente nas corridas, fale com o Alexander Wurz para que lhe ensine a usar o cérebro.
Isto tudo demonstra que esta geração de pilotos não foi educada a ultrapassar o seu adversário. Foram moldados para que não desistir de lutar pela posição, não impota como. E isso para mim é preocupante, pois estamos a falar da primeira geração que cresceu sem ver mortes na Formula 1. Toda a gente sabe disso desde o 1º de maio de 1994, mas essa geração está a chegar às pistas e julga que tudo isto é como na Playstation, e não é. Fiquei muito preocupado quando um um Twitter do piloto cipriota Tio Elinas, que nesta segunda corrida em Valencia, para chegar ao terceiro posto, não hesitou em colocar para fora o seu adversário, o italiano Kevin Ceccon. Para se justificar, citou Ayrton Senna após o GP do Japão de 1990, quando colocou Alain Prost fora de pista na primeira curva:
"Estamos a competir para vencer. E se não lutares por aquele nicho, aquele pedaço de pista, não és mais um piloto de corridas".
Para quem não sabe - ou já não se lembra - isso foi em resposta a uma pergunta feita por Jackie Stewart, o tricampeão do mundo escocês, numa entrevista na corrida seguinte, no GP da Australia. Ao lhe perguntar se a sua manobra na corrida anterior não era perigosa, colocando-os em risco de vida, Senna defendeu-se nessa altura - e de modo algo exaltado - da manobra na primeira curva por causa do então presidente da FISA, o francês Jean-Marie Balestre, lhe ter mexido no lugar da pole-position, uma subtileza para ajudar o seu arqui-rival Alain Prost. Mas aquele exemplo ficou na mente de muita gente, especialmente desta nova geração, que passou as manhãs e tardes de domingo na frente dos televisores. E muitos, como sabem, aprenderam a idolatrar Senna.
Só que Senna provavelmente foi para o seu túmulo desconhecendo que tinha criado, com os seus exemplos, pequenos monstros. Quer queiramos, quer não, esta jovem geração foi educada a seguir os exemplos dos seus ídolos. E os que cresceram nos anos 90 têm dois nomes na cabeça: Senna e Schumacher. Não tem Alain Prost, não tem Damon Hill, não tem Mika Hakkinen. Os seus dois maiores expoentes são pilotos que decidiram que para vencer, tinham de ser bravos, tinha de valer tudo. Escuso de vos lembrar a manobra de Schumacher a Hill em Adelaide, em 1994... A frase que Elinas citou é o exemplo desta geração: vão dar tudo para passar e tudo para vencer. Colocar fora o adversário é um incidente de corrida, porque os carros são fortes, protegem-no do embate contra a parede ou do muro de pneus.
Acho que na minha ótica, estes pilotos não só deveriam ser educados a conduzir. Também deveriam ser educados a como comportar-se em pista. O automobilismo, que eu saiba, nunca deixou de ser perigoso e como a FIA gasta neste momento muitos milhões a prevenir a sinistralidade rodoviária, não seria de mau tom se colocasse algum dinheiro de parte para aducar os pilotos que tem e aí vêm.
Quem criou o monstro foi Prost. Em Suzuka, em 1989. Senna apenas deu-lhe mamadeira vitaminada.
ResponderEliminarExcelente linha de raciocínio, mas será que a questão idade não está sendo decisiva para isso estar acontecendo?
ResponderEliminarHá mais de vinte anos, alguns pilotos chegavam na Fórmula 1 com quase trinta anos. Muito raramente chegavam jovens.
Ayrton Senna era muito afoito até o Grande Prêmio de Mônaco de 1988. Meu pai sempre diz que, depois que Senna bateu sozinho, com quase cinquenta segundos de vantagem para Alain Prost, ele mudou completamente, "acordou para a vida", digamos assim.
É verdade, Julio. Também temos essa parte importante no puzzle. Hoje em dia, nunca se viu tantos pilotos de vinte anos a chegarem à formula 1 como agora. Do passado, lembro-me de Bruce McLaren e Chris Amon, mas eram pilotos muito maduros para o seu tempo, conscientes do perigo.
ResponderEliminarAgora, como sabem ao que vão, podem bater à vontade, porque os seus carros são quase indestrutíveis. Olha o que aconteceu ao Suranovich e ao Conor Daly no Mónaco, na GP3. Eles podem "ter" estes acidentes porque os carros resistem a tudo. E não devia ser assim... deviam madurar o seu estilo de condução.
Sem contar que estes caras do passado faziam inúmeras provas antes, ou durante, as suas carreiras na F1. Isso ajudou muito a moldurar o trabalho deles dentro das corridas.
ResponderEliminarExato, Paulo. Esta atual geração tem por exemplo, um Kimi Raikkonen que tinha 23 corridas em monolugares antes de chegar á Formula 1! É bizarro, não é? Hoje em dia, há a ansiedade de colcoar um piloto na Formula 1 o mais depressa possivel. O Alguersuari já estava lá aos 19 anos, e tu ficas a perguntar se é isto que se quer no futuro: adolescentes a lidarem com carros de 800 cavalos.
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