Continuando a folhear a Motorspot
de maio, dou de caras com uma secção de colunistas, liderado, claro, por Nigel Roebuck, que desfia as suas
memórias, passado e presente, do automobilismo e da Formula 1, dei de caras
sobre uma história que se conta do GP da Belgica de 1977, e sobre uma
personagem que – numa era onde se faz ou se quer fazer filmes de automobilismo
– merece um filme: David Purley.
Sim, ele foi muito mais do que a personagem que tentou salvar Roger Williamson das chamas do seu
March no GP da Holanda de 1973, também deu nas vistas quatro anos depois, em
1977, quando decidiu construir o seu próprio chassis. E porque é que Lauda tem
um apelido que o tornou famoso.
Primeiro que tudo, David Purley
era uma personagem, como dizem os ingleses, "larger than life", mais do que a vida. Ex-paraquedista, herdeiro de uma empresa
de frigoríficos, a LEC, fundada pelo seu pai, por alturas de 1976 já tinha a
fama toda por tudo que tinha feito em Zandvoort. Mas queria regressar à Formula 1,
depois de passagens pela Formula 5000, e decidiu construir na garagem de Bognor
Regis, a sua terra natal, um carro de Formula 1. Pediu a Mike Pilbeam – que desenhara o BRM 201 – que desenhasse um carro,
pediu a Mike Earle – que mais tarde
formaria a Onyx e atualmente é o dono da Team AON, que toma conta dos Ford
Focus no WTCC – que cuidasse da equipa e sem testes e simuladores, como acontece neste inicio do século XXI, lá nasceu o
chassis LEC.
A equipa teve dois motivos de
destaque na sua breve aparição em 1977. A primeira foi em Zolder, quando o GP
belga começou sob molhado e aos poucos, a pista secou, com os pilotos a irem
para as boxes, trocar pneus. Como nessa altura, tal coisa durava uma eternidade
– mais de 30 segundos – Mike Earle mandou uma mensagem nas placas a dizer para
se mantivesse na pista o máximo de tempo que pudesse, e isso o colocou, a
determinada altura… na liderança!
Com o tempo, apareceu Niki Lauda,
que o pressionou por muitas voltas, mas Purley não cedeu, incomodando até o
cerebral austríaco. Claro, isto teve efeitos na corrida, com Lauda a não chegar
à vitória – quem venceu foi Gunnar
Nilsson, na sua única vitória na Formula 1 - e Purley, no fim da corrida,
perguntou a Earle: “Quem era o idiota do carro vermelho?” Após isto, ambos tiveram
um aceso debate, onde Lauda chamou a Purley de “coelho” e este devolveu a
graça, chamando-o de “rato”. Na corrida seguinte, Purley, no típico humor
britânico, colocou um coelho ao lado do seu nome, enquanto que Lauda respondeu
colocando o nome “The Rat” no seu capacete. Depois voltou a modifica-lo,
chamando-o de “Super Rato”, pois esse era o nome que alguns dos seus amigos
chamavam a.. Emerson Fittipaldi.
Infelizmente, a aventura de
Purley teve um final abrupto na qualificação para o GP da Grã-Bretanha, quando
ele perdeu o controlo do seu carro e bateu forte no muro. Resistiu a um impacto
equivalente a mais de 179 G’s, entrando no livro dos recordes do Guiness por
ter sido a pessoa que sobreviveu a um impacto tão pesado assim.
Mas teve um
custo na sua carreira na Formula 1, e no automobilismo em geral. Incapaz de correr, apesar de ter tentado em 1979 na Formula Aurora, uma competição britânica com chassis antigos de Formula 1, passou para a acrobacia aérea e morreu na sua Bognor Regis a 2 de julho de
1985, quando perdeu o controle do seu avião. Quanto ao chassis, está exposto no
museu do automóvel elaborado por Tom
Wheatcroft, em Donington Park.
Rob Widdows tinha boas razões para recordar bem David Purley e o
seu carácter. “Os privados já desapareceram há muito da Formula 1. São ‘mavericks’,
excêntricos, uma elite à parte. Purley era um convidado regular no meu programa
de rádio ‘Track Torque’, e vinha regularmente acompanhado do seu amigo e
vizinho, Derek Bell, ou da sua namorada de então, Gail. E às vezes vinha com
ambos.
Certo dia, ele chegou tarde ao
meu programa, E Bell explicou que o motivo foi porque Purley insistiu que
queria caçar coelhos a partir da bagageira do seu Range Rover, e claro, isso
fez-os atrasar. Noutra ocasião, ele decidiu por à prova a concentração do
apresentador do programa de rádio, elevando a camisola de Gail, revelando assim
a sua parte de cima.”
Mais uma vez, era uma personagem
fora do vulgar, digna de um filme de Hollywood.
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