Confesso que muito me ri com os seus disparates e do seu característico bigode, mas também tive pena de, por vezes, das suas corridas terem acabado mal, especialmente em algumas onde dominou por completo e a mecânica não colaborou, ou quando o pneu rebentou quando não devia, como aconteceu em Adelaide, em 1986.
Nigel Mansell, o nosso aniversariante do dia, foi profusamente lembrado nas redes sociais, especialmente por parte dos brasileiros. É certo que foi o "saco de pancada" de Nelson Piquet, com o brasileiro a levar a melhor por duas vezes, contra uma equipa que estava centrada nele. Contudo, Piquet foi mais matreiro, aproveitando a brutalidade que o piloto que viveu na ilha de Man dava aos seus carros. Foi essa matreirice que lhe deu o seu terceiro título mundial, quando ele se lesionou na qualificação do GP do Japão.
Contudo, apesar dos azares, Mansell teve dias gloriosos. A sua primeira vitória, em Brands Hatch, em 1985, como que calou todos os que tinham dúvidas sobre se algum dia iria vencer uma corrida e do qual fez com que Peter Warr, da Lotus, o dispensasse após a temporada de 1984, para dar lugar a Ayrton Senna. Mansell dali partiu para a temporada de 1986 que todos se lembram, e quando três anos depois rumou para a Ferrari, que apostava quase cegamente na caixa semiautomática, que se quebrava a cada vinte quilómetros e que nunca tinha sido testada numa simulação de corrida.
Pois bem: foi um milagre, mas Mansell conseguira o feito de vencer na sua corrida de estreia pela Scuderia, no Brasil, no prestes a ser extinto Autódromo de Jacarépaguá. Ele, que tinha sido a derradeira escolha de Enzo Ferrari ainda vivo. E algum tempo depois, na Hungria, foi hábil e genial o suficiente para conseguir passar Ayrton Senna na luta pelo primeiro lugar, quando ambos se vieram à frente do Onyx de Stefan Johansson.
Mas na Ferrari também sofreu, especialmente com Alain Prost. Porque era outro manhoso: fazia forma a que as reuniões fossem em italiano, apesar de começarem em inglês. Mansell, que nunca se deu o trabalho de aprender outras línguas, se via perdido quando faziam isso. Para ele, os outros falavam grego ou quechua. Foi por isso que no final de 1990, depois de ter anunciado a sua retirada, que foi atraído pela oferta irrecusável de Frank Williams para voltar a guiar para ele.
Teve os seus grandes dias e teve "severe brain fades" - Estoril 89 e 91, Suzuka 90 são três excelentes exemplos - mas em 1992, aos 39 anos, conseguiu por fim o seu título. Numa máquina que venceu todoas as outras por esmagamento. Com um companheiro de equipa mais "inofensivo" como era Riccardo Patrese, praticamente dominou como quis e alcançou a vitória a cinco corridas do fim do campeonato. Comemorou como merecia comemorar, viu o seu público, o adorado publico inglês, que o chamava de "Red Five" "Our Nige" ou "The Lion" dar as homenagens que tanto merecia.
O chato é que depois tentou prolongar a carreira para além da do seu limite. Venceu em 1994, aos 41 anos, e foi depois para a McLaren, mas ele não cabia no carro e não se esforçava para se melhorar. Achava que todos tinham de ir à sua maneira e não se modificar para acompanhar os tempos. Era uma nova era e os adversários ora estavam retirados, ora mortos, e ele era um "ultimo dos moicanos" demasiado deslocado daquela realidade, dos novos pilotos que dominavam: Michael Schumacher, Damon Hill, Mika Hakkinen. Não soube ir quando deveria ter ido, o que foi pena para a sua carreira.
Apesar de tudo, conseguiu o seu lugar na história, e isso ninguém lhe tira. Feliz Aniversário, "Leão"!
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