Em cinco anos e meio e mais de 7500 posts na história deste blog, é muito raro ceder o espaço a alguém. Creio fiz isso umas quatro vezes, a última dos quais foi quando um amigo meu, escreveu a biografia do Attilio Bettega, o piloto de ralis morto na Volta à Corsega de 1985. Mas hoje, as circunstâncias foram excepcionais: tem a ver com uma corrida de Clássicos no Autódromo de Portimão, há semana e meia atrás.
As coisas aconteceram um pouco por acaso: dois amigos meus, o Pedro Branco e o Alexandre Caldeira, que vivem no Algarve, perguntaram-me numa quinta-feira à noite se poderia pedir uma credencial para a organização do Algarve Classic Festival de 2012, porque assim o Alexandre, que gosta de tirar "uns bons bonecos", poderia andar mais à vontade no "paddock". Eu acedi, julgando que no dia em que pedisse essa credencial em nome do blog (isto foi numa quinta-feira à noite) iria ser demasiado em cima da hora. Afinal, não foi. Deram-na, coloquei no nome dele e ele andou todo o fim de semana a tirar as fotos dos diversos bólidos que lá andaram, à chuva e perante bancadas vazias, o que foi pena.
Mas eu falar sobre carros de outras eras, não estando lá, seria idiota. Então, pedi ao Alexandre para me fazer um texto, para colocar aqui, já que foi testemunha das corridas, da chuva, das máquinas que deram glória a seus pilotos em eras já distantes, muitas delas antes de muitos de nós terem nascido - e não falo dos adolescentes de hoje...
ALGARVE CLASSIC FESTIVAL 2012
Esta foi a 4ª edição de um festival que permite a muitos de nós adeptos do automobilismo, conviver de perto com máquinas e, nalguns casos, pilotos que marcaram uma era.
Se nas primeiras 3 edições, o Festival contou com a colaboração do experiente Francisco Santos, este ano o Autódromo Internacional do Algarve decidiu organizar sozinho o Festival. Fruto dos tempos difíceis que assolam especialmente a Europa, o Festival este ano não apresentou um programa tão abrangente como em anos anteriores. Tal não significa porém que quem se deslocou a Portimão se tenha sentido defraudado: houve provas e carros para todos os gostos.
E, para os apreciadores, estes eventos são uma óptima oportunidade de alargar conhecimentos e “ver” história em movimento. Imagine-se um adepto, a 30 cm de um piloto (Stirling Moss) que não quis ser campeão do Mundo de F1, porque não quis sê-lo injustamente; imaginem um tiffosi dar a sua mochila (Ferrari) a um Tony Brooks para este a autografar; imaginem tocar num carro (Ferrari 512) que vale “só” 2 Milhões de Euros e terão uma pequena noção do que sente um adepto como eu.
Além do mais, passeando-se no paddock, sem grande esforço se mete conversa com os orgulhosos proprietários das máquinas. Facilmente descobrimos que o Ferrari Daytona que estamos a fotografar ostenta o patrocínio da Força Aérea Sueca e que foi utilizado para uma exibição com um jacto dessa mesma Força Aérea. Ou que o proprietário, perante dois adeptos interessados, nos pergunta se queremos ver melhor o carro, abrindo portas, mostrando o motor e tudo o que quisermos. E não é só este, mais à frente noutra box, a condutora de um belo Alfa Romeo, conta-nos que não espera grande coisa da prova porque o carro tem montado um motor “normal”, diferente do motor de origem. Histórias como estas, são todos os anos às dezenas e os 3 dias do evento não seriam suficientes para as ouvir todas.
Quanto às corridas, o resultado é sempre secundário. O prazer de ver em pista bólides tão variados, sobrepõe-se ao rigor de uma tabela classificativa. Até porque depois, entram em consideração outras variáveis: estado da viatura, a sua valia, o “coração” de quem a conduz, o clima, etc… No entanto, pela sua tenacidade e resistência, uma menção especial ao grego Leo Voyazides. Não só alinhou na maioria das provas, como as ganhou quase todas. Destaque especial para a vitória na prova rainha, os 1000 km, em que alinhou num Lola T70, anteriormente tripulado pela dupla Fittipaldi/Avallone.
Para o ano, assim o permita a conjuntura, espera-se nova edição, com mais carros, mais corridas, mais público e menos chuva. Que este ano desmotivou muita gente e fez muitos pilotos andarem em sentido diferente ao da pista e outros tomarem juízo.
Agradecimento especial ao Paulo Alexandre Teixeira que aceitou logo a sugestão de parceria.
As fotos que coloco aqui são só uma amostra do que foram as corridas naquele final de semana chuvoso de outono em Portimão. Mas só por aí, pode-se dizer que teria valido a pena a viagem.
Fez bem em ceder o espaço. É um texto digno demais. Muito bom.
ResponderEliminarParabéns.
Hermosos autos, reliquias que deben ser cuidadas como joyas, y cada tanto ser mostradas en estos festivales. Para nuestra alegría.
ResponderEliminarAbrazos!
Tá aí uma vontade: ver uma corrida desses clássicos.
ResponderEliminarPassou perto em 2009 ou 2010, de ter um corrida dos F1 Clássicos em Interlagos. Mas não vingou, infelizmente.
Abraços.