segunda-feira, 18 de março de 2013

Automobilismo e Conclaves


Este ano, vivemos algo inédito nas nossas vidas. Pela primeira vez em quase 600 anos, um Papa decide abdicar em vez de esperar que a Natureza cumpra o seu destino e fique no cargo até ao final dos seus dias. A eleição do novo papa, o argentino Jorge Bergoglio, o primeiro proveniente da América do Sul, aconteceu precisamente na semana em que, no outro lado do Mundo, no circuito australiano de Melbourne, começava mais uma temporada de Formula 1.

E num pequeno exercício de memória, descobri uma coisa tremendamente interessante: existe uma coisa em comum entre a eleição de um Papa e a vitória de um carro que tenha um de dois nomes: Lotus e Renault. E com a vitória de Kimi Raikkonen em Albert Park, poderá ser um indicador de que este pode ser o vencedor do campeonato. É que sempre que a Formula 1 acontece em anos de Conclave - excepto por um - um carro Lotus ou Renault é campeã do mundo. Mais: ele vence em anos de domínio. E mesmo no ano da excepção, o nome da equipa fundada por Colin Chapman não anda longe. Ao longo das linhas seguintes, vou mostrar-vos essas coincidências históricas.

Desde que a Formula 1 começou, em 1950, houve até agora seis Conclaves Papais: 1958, 1963, 1978 (duas vezes), 2005 e agora, em 2013. E fazendo esse exercício, descobre-se que a Formula 1 passou por anos bem interessantes. Quando Pio XII morre, a 9 outubro de 1958, a temporada estava prestes a acabar e era marcado pelo duelo entre a Vanwall e a Ferrari, com os britânicos Mike Hawthorn e Stirling Moss a lutarem pelo ceptro individual. Faltavam dez dias para o GP de Marrocos para decidir tudo, mas a temporada de 1958, que foi a primeira a instituir o título de Construtores, tinha mais equipas britânicas do que italianas (Cooper, BRM, Vanwall, Connaught...) E uma delas - que tinha chegado nesse ano - se chamava... Lotus.

Cinco anos mais tarde, quando a 3 de junho de 1963, João XXIII acaba por morrer, aos 81 anos, vitima de um cancro no estômago, a pequena equipa fundada por Colin Chapman tinha alcançado o topo. Tinha feito o modelo 25, o primeiro monocoque da categoria, e tinha encontrado o seu piloto ideal, na figura do escocês Jim Clark. Quando o Conclave escolheu o Cardeal Montini para ser Paulo VI, a 23 de junho desse ano, Clark estava entre duas vitórias: uma a chuva, em Spa-Francochamps, e outra na Holanda, em Zandvoort. No final do ano, o piloto escocês iria dar a ele mesmo e à equipa os titulos de pilotos e construtores, ambos pela primeira vez.

Quinze anos depois, quando o mundo assistiu a mais do que um Conclave num ano - o primeiro desde 1605 - onde o primeiro escolhido, Albino Luciani, não viveu mais do que 33 dias como João Paulo I. E dois meses depois, em outubro, os cardeais decidiram escolher, pela primeira vez desde 1532, um papa não italiano, na figura do Cardeal Karol Woityla, ou João Paulo II. E como acontecera em 1963, era um ano de domínio da Lotus, pois foi nesse ano que Colin Chapman introduziu um carro que iria revolucionar o automobilismo  com o Lotus 79, que aplicava na perfeição os princípios da asa invertida, ou o efeito-solo.

Nesse ano, a equipa de Chapman tinha uma dupla imbatível na figura do italo-americano Mário Andretti e do sueco Ronnie Peterson. Quando aconteceu o Conclave que escolheu Luciani, a 26 de agosto, estava-se no fim de semana do GP da Holanda, onde Andretti viria a ser o vencedor, numa dobradinha com o sueco Peterson na segunda posição. Iria ser a última de sempre da equipa, antes da trágica consagração de Andretti em Monza, com o seu companheiro Peterson a sofrer o seu acidente fatal. O sueco morre a 11 de setembro daquele ano, apenas 17 dias antes de Luciani morrer, causando choque na igreja. A eleição do segundo Papa, a 16 de outubro, acontece uma semana depois do final do campeonato, no GP do Canadá, onde se viu a primeira vitória de Gilles Villeneuve, no seu Ferrari.

João Paulo II teve um longo papado, e em 2005, quando morre, a Lotus não estava na Formula 1 há dez anos. Mas, tal como em 1963 e em 1978, era um ano de mudança e de domínio de uma equipa: a Renault. O espanhol Fernando Alonso ia a caminho do seu primeiro título, e a quebrar o domínio da Ferrari. Por alturas do conclave que escolheu Bento XVI, a 19 de abril, calhou na semana do GP de San Marino (João Paulo II tinha morrido no fim de semana do GP do Bahrein, a 2 de abril), uma corrida vencida pelo piloto espanhol, após uma batalha épica pela liderança com o Ferrari de Michael Schumacher. Era a sua terceira vitória consecutiva, e por essa altura, se duvidas existissem, a Renault era o candidato numero um para ficar com ambos os títulos. E foi o que aconteceu, no final desse ano.

Quase oito anos depois, com novo conclave a acontecer na semana de inicio desta temporada, há muitas coincidências em relação ao passado. Durante este tempo, a equipa de Formula 1 da Renault, cuja sede  era em Enstone - que anteriormente tinha acolhido a Benetton - decidira sair discretamente de cena como construtor, mantendo-se como fornecedor de motores. O Grupo Genii, que decidira comprar a equipa e as suas instalações, decidira também aliar-se à Lotus, que quando teve o polémico Dany Bahar ao leme, decidira que eles iriam ficar com o nome na Formula 1, simbolizando o regresso da marca à categoria máxima do automobilismo.

E coincidência das coincidências, um Lotus-Renault foi o grande vencedor da primeira corrida de Formula 1 após um conclave papal. Tal como em 1963 e 1978, e em 1958, a data de estreia da Lotus na categoria máxima do automobilismo. E se incluirmos a marca Renault, poderemos dizer que há uma união com o de 2005. Estranhamente, parece que a Lotus tem uma "relação abençoada", mas se isto quer dizer que vão ser os candidatos ao título mundial, pode-se dizer que ainda é cedo para se pronunciar. Mas que quer o carro, quer o piloto são nomes a ter em conta neste ano que promete ser equilibrado, isso é verdade... 

1 comentário:

  1. Excelente trabalho e interessantes coincidências Speeder. Oxalá se concretize no final deste ano... rsrsrsrs!

    Apenas uma correcção: Em 1963 foi o Papa João XXIII e não o 'nosso' João XXI na pessoa de Pedro Hispano a falecer nesse ano

    Abração
    Marcel Santos

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