quarta-feira, 27 de março de 2013

Jean-Marie Balestre, cinco anos depois

O calendário tem destas coisas, e eu costumo não deixar passar em claro um numero redondo: hoje comemora-se o quinto aniversário do desaparecimento de Jean-Marie Balestre, o homem que foi o presidente da FISA entre 1979 e 1991. Quem cresceu nos anos 80, não consegue esquecer esta personalidade forte e autoritária, do qual muitos juram a pés juntos que ele tinha colaborado com o ocupante nazi, nos anos 40. É verdade, ele participou, mas ele jurou depois que tinha sido um "agente infiltrado da Resistência".

Por causa disso, Balestre ficou com esse estigma até ao final dos seus dias. E não fez muito para o enxotar, temos de o admitir. Sabia que uma forte personalidade como a sua era a maneira como as coisas deveriam ser feitas, pois ele julgava que sem isso, as coisas se desfaziam numa questão de tempo. E foi ele que tomou a decisão de banir os Grupo B de ralis no dia seguinte ao acidente mortal de Henri Toivonen, na Volta à Corsega de 1986.

Mas Balestre tinha coisas boas, temos de admitir. Provavelmente, ele queria ser lembrado como um paladino da segurança nas pistas, por exemplo. Sabia que as mortes teriam de ser diminuídas ao nível que fosse próximo do zero. Sobre isso há uma foto interessante, tirada pelo Rainer Schlegelmilch, em 1968, em Rouen. Os pilotos tinham perdido Jo Schlesser, numa altura em que passavam por um mau bocado - era a terceira morte em três meses, depois de Jim Clark e Mike Spence - e se reuniram para pedir mais segurança nas pistas. Entre os pilotos, encostado a um canto, estava Balestre. 

Por esta altura, ele já tinha sido jornalista no L'Auto, e tinha ajudado a fundar a Federation Francais de Sport Automobile, a FFSA. Já estava envolvido na FIA, pois tinha sido o primeiro presidente da Comissão Internacional de karting. E com o tempo, formou as categorias de promoção, tentando envolver a industria automobilistica francesa para entrar na competição automóvel, e depois, formar pilotos para contrariar o dominio britânico na Formula 1, que nesse ano de 1968, só tinha um representante: Jean-Pierre Beltoise. Mas já lá estava a Matra, para tentar dar ao hexágono um titulo mundial de Construtores, o que conseguiram no ano seguinte.

Quando ele foi presidente, esse conflito franco-britânico veio logo ao de cima, especialmente na figura de Bernie Ecclestone, o astuto patrão da Brabham que tinha ajudado a construir uma associação chamada FOCA. Ecclestone era o senhor que não queria Turbos na Formula 1, e claro, estes (Renault e depois Ferrari) alinharam-se ao lado de Balestre. O conflito durou dois anos e terminou no primeiro Acordo da Concórdia. Isto depois das ameaças de campeonatos paralelos e boicotes às corridas, como o GP de Espanha de 1980, o GP da Africa do Sul de 1981 e o GP de San Marino de 1982.

Mas os brasileiros odeiam Jean-Marie Balestre para toda a eternidade pelo facto de ter dado o título mundial de 1989 a Alain Prost, depois de ter fechado Ayrton Senna no GP do Japão, em Suzuka. Alegando que Senna "tinha cortado a chicane" para regressar à pista - na realidade, um regulamento suficientemente ambíguo do qual ele poderia interpretar à sua maneira - ele acabou por ajudar Prost a garantir um título que de uma certa forma era já seu, mas só faltava a matemática para o confirmar. E claro, a politica apareceu pelo caminho, e isso faz com que todos odeiem essas duas personagens. De uma forma, o famoso "soundbyte" que se pode ouvir no documentário "Senna" - A minha decisão é a melhor decisão - resume tudo sobre ele.

Quis ficar até onde pôde, mas foi derrotado em 1991 pelo britânico Max Mosley. Senna "comemorou", desabafando "cobras e lagartos" sobre ele, que tinham ficado entalados nos dois anos anteriores. Mas a realidade, pelo que vemos agora, foi que em termos de organização, Mosley foi de uma certa forma um "testa de ferro" de Bernie Ecclestone, que conseguiu o que queria: controlar a Formula 1, esvaziando a FIA - que tinha absorvido  a FISA em 1993 - de poder e de finança, ficando apenas com os aspectos regulamentares.

Ainda não sei se já podemos começar a falar sobre o seu legado, mas este deveria ser um começo. 

2 comentários:

  1. Um nazista porco e um verme, mas que realmente colasborou para mais segurança na F1.

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  2. Balestre foi muito parcial no episódio do Senna, inclusive hoje eu estava assistindo a um documentário sobre a vida do Senna e tão errado estava Balestre que o próprio Ron Dennis, pela primeira e última vez contestou seu próprio piloto (Prost).

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