quinta-feira, 18 de abril de 2013

5ª Coluna: Porque vou boicotar - outra vez - o GP do Bahrein

Esta sexta feira, os carros começarão a circular na pista de Shakir, no Bahrein. E mais uma vez, a Formula 1 vai para um sitio onde as coisas não andam calmas, bem pelo contrario. Os relatos afirmam que as coisas andam muito calmas por lá, mas é uma calma tensa. A policia está em alerta para possíveis manifestações, que têm se intensificado nos últimos dias, devido à aproximação do Grande Prémio.

Quando se pergunta o que mudou de um ano para o outro, normalmente os que lá estão dizem que houve muito pouco. É certo que durante este tempo, as duas partes decidiram entrar em negociações com vista a uma reconciliação e a uma abertura politica, mas até agora, os resultados têm sido escassos, mais devido á relutância da classe governativa em ceder, apesar dos relatórios das comissões independentes terem reconhecido que as autoridades policiais estiveram muito ativos na repressão das manifestações e na prisão dos ativistas.

Contudo, só o facto da oposição e o governo estarem em negociações foi mais do que o suficiente para que haja uma divisão entre eles sobre um possível boicote e perturbação ao Grande Prémio. Alguns grupos já disseram que não vão fazer nada, mas outros já disseram que as manifestações continuam. Uma coisa é certa: as forças policiais estão em alerta máximo e todos os elementos que fazem parte do pelotão da Formula 1 estarão devidamente seguros pelas forças policiais do reino.

Este ano, pode haver maior relaxamento por parte do pelotão da Formula 1, mas o conflito não está resolvido. É um vulcão adormecido que poderá explodir a qualquer momento, sob qualquer pretexto, porque esta questão não está resolvida. Contudo, as autoridades locais vão passar a ideia de que "tudo está bem" e podem andar à vontade. E claro, usar a Formula 1 para passar essa mensagem é uma politica do qual eu não aceito nem posso aceitar. Daí que vá boicotar de novo esta corrida. E muito provavelmente irei fazer até que haja uma resolução deste problema e não um adormecimento, esperando que expluda num outro dia.    

Claro, as pessoas dizem que a politica não é razão para que tome tal decisão, especialmente quando se sabe que existirão pessoas que vão aproveitar a ocasião para manifestar. Mas o aproveitamento politico que o governo barenita faz disto, não é politica também? Não é a família real que paga 45 milhões de dólares para ter a Formula 1 por lá? Então...

Mas se acham que a politica não é razão suficiente para boicotar, então podemos dizer que tomo esta posição simbólica em protesto pela Formula 1 atual: artificialista e sem tradição. O facto de Bernie Ecclestone levar a Formula 1 a sítios diferentes só pelo dinheiro, em circuitos pobremente desenhados pela mesma pessoa é o sinal destes tempos que vivemos. Nesse campo, poderia fazer a mesma coisa em relação a todas as corridas asiáticas, excepto o Japão, pois todos esses circuitos foram desenhados por Hermann Tilke, mas o Bahrein é um símbolo. De como é que um país tão pequeno - mais pequeno do que isto só o Mónaco - foi capaz de trazer a categoria máxima do automobilismo.

Vivendo debaixo de um enorme poço de petróleo, e com um sheikh com tiques de novo-rico (pior do que isto, só o Qatar) num circuito que é tremendamente aborrecido, e do qual se não fossem os pneus Pirelli que se esfarelam em menos de dez voltas, provavelmente seriam duas horas de sono na frente da televisão. Sim, Shakir é uma chatice pegada, e francamente, não recordo de qualquer corrida emocionante por ali.

Em resumo, apesar de haver alguns sinais encorajadores, as coisas mudaram pouco ou nada no pequeno reino do Golfo Pérsico. E creio que não estão reunidas as condições suficientes para levantar este meu boicote pessoal. É uma decisão puramente pessoal e não apelo para que me sigam. Apenas tenho as minhas razões para não falar nada sobre esta corrida. Não enquanto esta situação se resolver. Ou se Bernie Ecclestone morrer e o seu sucessor pense menos no dinheiro e mais na reputação.

2 comentários:

  1. Não discordo dos teus motivos pra boicotar, mas na parte do Bahrein em termos de tamanho e comparação com Mônaco, não foi através de meios similares que o circuito começou a figurar no automobilismo e, em dias de exigências de maior área de escape nos circuitos, reformas nos padocks etc, a o GP segue intocado (porque tradição é questão de conquistar o direito e dar um jeito de garantí-lo por muito tempo, isso pode ocorrer com qualquer circuito, basta dar tempo e dinheiro).

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  2. Não boicotarei. Até porque, na segunda feira ninguém vai nem lembrar mais do Bahrein e seus problemas.

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...