segunda-feira, 10 de junho de 2013

Sobre o possível fim da Playboy brasileira

Acho algo estranho nesta segunda-feira que um dos meus posts mais lidos seja um de 2010, onde se falava do... encerramento da Playboy portuguesa. A sua primeira encarnação, diga-se. Sobre essa história já foi contada e recontada, e agora temos uma nova versão onde, depois de uma falsa partida, parece que está a caminhar com as suas próprias pernas.

Contudo, desde sexta-feira passada que ando a ouvir o forte rumor que a Playboy brasileira poderá encerrar as suas atividades. Confesso que fiquei incrédulo, pois para mim, seria se algum dos grandes clubes do Rio de Janeiro ou São Paulo decidisse encerrar as suas atividades. Mas na realidade, o que acontece é que a Editora Abril, uma das mais importantes do país, está em processo de forte reestruturação após a morte do seu diretor, Roberto Civita, no passado dia 26 de maio. E o novo diretor quer cortar tudo pela raíz, livrando-se de onze revistas, incluindo... a Playboy. Sim, provavelmente uma das revistas mais icónicas em terras de Vera Cruz dos últimos 40 anos.

Uma revista que começou por ter o seu título... censurado. Quando chegou, em 1975 - uma das primeiras versões internacionais da revista fundada por Hugh Hefner - o Brasil vivia sobre uma Ditadura Militar de direita que decidia censurar tudo, quer em nome de uma "ameaça vermelha", quer em nome da "moral e bons costumes", num pais onde o corpo faz parte dos brasileiros. A "Revista do Homem" ficou com esse título até 1980, quando os ventos de abertura democrática sopravam mais fortes e aproveitando uma amnistia politica, deu-se uma "amnistia dos costumes". 

E assim, a Playboy mergulhou nos anos 80 como se de uma rebelde se tratasse. Tornou-se glamouroso e ousado falar, posar para a Playboy. Em pouco tempo, tudo que era atriz de novela não era ninguém sem que se mostrasse tal qual como veio ao mundo. Toda uma geração fez isso, por vezes mais do que uma vez, povoando todo o imaginário de toda uma geração, que fantasiava nos seus quartos ou casas de banho, á velocidade em que esfregava o seu mastro. Mas a revista era muito mais do que isso. Tinha as entrevistas às personalidades do momento, tinha as reportagens e outros assuntos do qual a Playboy americana já se tinha tornado famosa vinte anos antes, nos Estados Unidos. De uma certa forma, fazia um percurso paralelo, com resultados idênticos.

Mas com o tempo, as coisas desgastam-se. Muitos estavam saudosistas de um tempo em que não havia "panicats" ou mulheres com nomes de fruta, em que as atrizes faziam fila para ver quem estava nas páginas centrais, por um preço equivalente a uma casa, porque a circulação das revistas era bem saudável e as receitas publicitárias (e outras) valiam a pena. Só que hoje em dia, o mundo muda, e o jornalismo também. Em poucos anos, os suportes em papel desaparecerão, passarão para o digital. É certo que estando nas redes sociais ajuda muito, mas isso pode não chegar para a sobrevivência. Se calhar, também, uma coisa destas precisa de ser refrescada, não extinta.

Eu posso estar a ver isto de fora, mas creio que muitas das vezes, as publicações merecem uma "chicotada psicológica", como por vezes levam as equipas de futebol, quando despedem um treinador. Outra editora ou um grupo de "loucos" que percebam o espírito da Playboy e que a façam relançar, voltar a ter o brilho de outrora. Não é ser saudosista, mas é mais no sentido de pegar no que foi de bom e dar outra roupagem. Eu sei que é complicado, nestes tempos que correm, mas não acredito que as pessoas irão ver o fim de algo que marcou tanto uma geração de brasileiros e não esbocem qualquer reação. E caso apareça esse alguém que pegue e tente resgatar esse espírito, pode ser que haja menos "BBB" e mais classe. Sim, até no "putedo", há classe.

Espero que ela não morra no Brasil. Nem a revista, nem os seus leitores merecem tal destino.

4 comentários:

  1. Sobre o nome da revista ter sido "Revista do Homem" no tempo da ditadura, era porque não eram permitidos estrangeirismos.

    Acho que eu ainda tenho uma edição de aniversário que conta a história da Playboy no Brasil.

    No tempo do governo militar, era preciso que todas as publicações fossem enviadas para "revisão" por parte do governo, que censurava nudismos, palavras em outras línguas etc.

    Vou ver se compro a última edição da Playboy Brasil. Pode ser que ela se torne a última mesmo.

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  2. É a lenta e gradual morte dos veículos impressos frente a poderosa rede mundial de computadores.
    Os compradores desta - cara - revista já estavam conectados há algum tempo. É um publico com poder aquisitivo maior.
    E neste caso, convenhamos, se estavam conectados, mulher pelada aparece na internet até quando não queremos ver.
    Em links atrelados, pop ups, spans.

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  3. A Playboy, bem como a MTV, são vitimas de seus atrasos no mundo atual. Fora que a revista cada vez mais se atrela aos comerciais que propriamente ao que devia ser.

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  4. O progresso e a modernidade às vezes maltratam.
    Acabaram com o Jornal da Tarde e agora a Playboy do Brasil lançou seu último número.Nem se cogita de uma edição exclusivamente virtual ou de diminuir a tiragem e modificar a distribuição, talvez mantendo-a só por assinatura, Mas acredito que possa surgir uma nova fórmula para não acabarem com os veículos impressos.
    Que pena.

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