Hoje passa mais um aniversário sobre o nascimento de Bernie Ecclestone. Ao vermos que o "anãozinho tenebroso comemora 83 anos de vida, mais do que ficarmos admirados com o trabalho que fez para transformar a Formula 1 de um clube de "gentleman drivers", onde a cada fim de semana arriscávamos a ver um piloto a morrer em chamas, preso dentro de um carro de alumínio com gasolina à sua volta, a algo que está espalhado por todo o mundo, com autódromos amplos e "esterilizados", onde o poder da televisão nos permite assistir a um desporto que movimenta mais de 1500 milhões de euros anualmente, e a ter uma importância semelhante ao Mundial de Futebol e aos Jogos Olímpicos, com uma diferença: vemos a Formula 1 a cada uma ou duas semanas, vinte vezes por ano.
No passado dia 24, o Humberto Corradi fez este belo ensaio sobre Bernie, especialmente acerca dos seus tempos na Brabham, em meados dos anos 70. De como ele conseguiu equilibrar as contas naquela equipa, e principalmente, a razão pelo qual ele a vendeu, no final de 1986. Os pormenores são fascinantes, e claro, recomendo sempre a sua leitura.
Como resposta, escrevi o seguinte na caixa de comentários:
"Bernie Ecclestone foi o homem certo no lugar certo, no tempo certo. A Formula 1 atual é moldada nos seus propósitos e todos querem seguir o seu modelo. Até digo uma coisa: se não fosse ele, este campeonato já teria "rebentado" e surgido outro. Por causa das desuniões entre as equipas, por exemplo.
Bernie é um dos homens mais ricos da Grã-Bretanha, porque de uma certa forma, retêm uma percentagem das receitas para ele. Não a totalidade dos 50 por cento que a FOM (Formula One Management) fica a cada ano, mas com a parte que vai para o fundo Delta Topco, que normalmente anda pelos 17,5 por cento. Se a receita de 2013 for - vamos supor - de 1500 milhões de dólares, podemos ver a percentagem que ele ganha... teria dado para manter a Brabham e ainda levar mais algum para casa, se quisesse.
No dia em que escrevo isto, Bernie está a poucos dias de fazer 83 anos. Não sabemos quanto tempo ele têm mais de vida, mas todos suspeitamos que no dia em que não estiver mais por aqui, as coisas não serão mais o mesmo. Ficará a FIA, na figura do Jean Todt, ficarão as equipas, e personagens como Luca di Montezemolo - que cada vez mais olho como "o filho que Enzo Ferrari nunca teve" - Christian Horner ou até "Toto" Wolff, entre outros, e eles farão tudo para receber mais um pouco desse bolo.
Suspeito que os tempos a seguir serão muito agitados, apesar de haver um Acordo da Concórdia assinado até 2020, do qual sabemos muito pouco dos seus pormenores. O que é mau para uma firma que no futuro quer entrar em Bolsa.
Mas o que suspeito é que no pós-Ecclestone, algumas pessoas vão querer exercer a "vingança". E olho para a Ferrari, porque historicamente, eles sempre querem que as regras sejam feitas à sua medida, e barafustam muito para conseguir a sua parte."
De então para cá, andei a olhar de novo para a história da Brabham. E lembrei-me dos tempos pós-Bernie. Para quem já não se lembra da história, eu conto: no final de 1987, depois do fracasso do chassis BT55 no ano anterior e da partida de Gordon Murray, o seu projetista, para a McLaren, Ecclestone decide vencer a equipa e retira-a durante a temporada de 1988. Quem fica com ela é um financiador suiço, Joachim Luthi, que decide voltar a colocar na Formula 1 em 1989. Contudo, em abril daquele ano, Luthi é preso devido a evasão fiscal e fraude, e a equipa passa para as mãos da Middlebridge Group, um grupo liderando por um bilionário japonês, Koji Nakauchi.
Contudo, três anos depois, em 1992, a Brabham sai definitivamente de cena, e descobre-se um esquema de fraude fiscal e corrupção proporcionado por uma firma, a Landhurst, cujos dirigentes foram condenados a prisão pela justiça britânica. Quanto aos resultados, foram escassos: o melhor que conseguiram foi um terceiro lugar no GP do Mónaco de 1989, por Stefano Modena.
Enfim, gozemos estes últimos dias de tranquilidade.
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