No inicio de julho de 1894, estavam inscritos 102 automóveis de vários tipos. Cada um tinha pago dez francos de inscrição, e entre os inscritos, estavam fabricantes sérios como Serpollet, Peugeot, Benz, Panhard e outros, para projetos pouco viáveis, de vários tipos de propulsão. E entre esses 102 inscritos, havia o nome que mais se destacava: o do conde Jules-Albert de Dion. Ele inscreveu um modelo seu a vapor, com quatro rodas, mas trazia atrelado a ele uma "caleche", ou seja, um atrelado com mais duas rodas e quatro lugares. Esso seria decisivo no resultado final.
Outros concorrentes se destacavam. Havia quatro Peugeots inscritos, um deles conduzido por Albert Lemâitre, um negociante de champagne numa firma que detinha em parceria com o seu irmão. O negócio tinha dado rendimentos suficientes para comprar um Type 7, e aos 30 anos (tinha nascido em 1864 em Ay, no Marne) leu o apelo de Pierre Giffard e participou na competição. No dia da corrida, levou como passageiro Adolphe Clement-Bayard, um fabricante de bicicletas.
Outro Peugeot inscrito era o de Auguste Doriot. Um engenheiro nascido em 1863, Doriot estava na marca desde 1887, altura em que tinha acabado de terminar o serviço militar no exercito francês. A sua experiência ajudou a desenvolver os primeiros automóveis na secção da marca, nomeadamente o Type 3, que para além de ter 3,5 cavalos, tinha uma caixa de velocidades de quatro marchas, mais uma para marcha-atrás. E nesse ano, tinha convencido Pierre Giffard para que desse publicidade à primeira tentativa de longa distância, entre Paris e Brest.
O carro, um Type 3, estava carregado com ferramentas, peças sobressalentes e água, e ele vinha acompanhado por um colega engenheiro, Louis Rigoulot. Saindo de Paris a 8 de setembro, acompanhando os ciclistas que faziam o Paris-Brest-Paris, o carro fazia uma média de 20 km/hora, mas a falta de potencia fazia com que Rigoulot o ajudasse a empurrar o carro nas subidas. Apesar da boa média inicial, pararam por 24 horas à conta de um problema na caixa de velocidades, reparado com a ajuda de um ferreiro. Chegaram a Brest na noite de 12 de setembro, recebidos por uma multidão de gente. Regressaram a Paris quatro dias depois, mostrando a potencialidade do automóvel para longas distâncias.
Havia algunns Panhard e Levassoir, dois deles conduzidos pelos fundadores: Paul Panhard e Émile Levassoir. Émile Mayarde também conduzia um desses automóveis.
Mas na lista dos 102 automóveis, havia carros que causavam mais mistério do que outra coisa. É certo que haviam 19 carros a gasolina e 26 a vapor, mas outros não causavam mais do que mistério. Nove deles afirmavam que tinham "gravidade" como combustão, enquanto que cinco eram propulsionados por "ar comprimido". Três deles eram "automáticos", outros tantos eram "hidráulicos", e outros três eram propulsionados por "gás". No final, a 18 de julho, 75 dos inscritos simplesmente... não apareceram.
Os restantes 27 elementos passaram por provas de qualificação, que duraram três dias, no Bosque de Boulogne. Perante muito público, os 26 carros ficaram expostos para que pudessem ser observados, e no dia 19 de julho, fizeram um percurso de qualificação de 50 km à volta do bosque, que teriam de completar em menos de três horas para serem aprovados. No final, 21 carros foram selecionados.
No dia 22 de julho, pelas oito da manhã, os 21 carros alinhavam na Porte Maillot, para fazerem um percurso que passava pelo Bosque de Bolonha, Neuilly-sur-Seine, Courbevoie, Nanterre, Chatou, Le Pecq, Poissy, Triel-sur-Seine, Vaux-sur-Seine e Meulan, na direção de Mantes. Ali, houve uma paragem para almoço, por volta do meio-dia, para depois continuarem hora e meia mais tarde, passando por Vernon, Eure, Gaillon, Pont-de-l'Arche, chegando ao 'Champ de Mars', no meio da cidade de Rouen.
Ao longo do percurso, milhares de pessoas celebravam a passagem dos condutores, curiosos com as "carruagens sem cavalos", muitos deles provavelmente a verem um pela primeira vez. A corrida foi sem incidentes, dada a média de 20 km/hora que a maior parte dos carros fazia. Nem sempre era uma corrida, por vezes era mais um passeio. Mas o primeiro a chegar ao foi De Dion, com uma vantagem de três minutos e meio sobre Albert Lamâitre, e 16 minutos e 30 segundos na frente de Auguste Doriot. René Panhard e Émile Levassoir ficaram a seguir, a 33 minutos e meio e 55 minutos e meio do primeiro.
Contudo, na terça-feira seguinte, a 24 de julho, o "Le Petit Journal" divulgou os resultados, e estes revelaram outra história: o prémio principal foi partilhado entre o carro de Peugeot e os de Panhard et Levassoir "pelo competidor cujo carro esteve próximo do ideal". O carro de De Dion tinha o atrelado, e levava o fogareiro lá dentro, contrariando as regras do jornal. Assim sendo, foi lhe retirado o primeiro lugar, mas dado o prémio de dois mil francos, graças "ao seu interessante trator a vapor, que desenvolve uma velocidade incomparável, especialmente nas subidas". O terceiro lugar, com o prémio dos 1500 francos em ouro, foi dado Maurice Le Blant, pelo seu Serpollet de oito lugares, apesar de ter sido o 15º a cortar a meta...
Lemâitre e Doriot ficaram com o "bicho das corridas" e ali tornaram-se, sem eles saberem, nos primeiros pilotos de automobilismo. Correram nos anos a seguir nas várias provas, divulgando a modalidade em França e na Europa. Ambos teriam destinos diferentes: Doriot abandonaria a Peugeot em 1902 e iria abrir a sua própria companhia, acabando por viver até 1955, a tempo de ver o seu filho Georges ter uma carreira nos Estados Unidos e ser professor de Economia em Harvard, enquanto que LeMâitre competiria até 1902, mas teria um final trágico em maio de 1906, quando matou a sua mulher, após este lhe ter pedido o divórcio, e matou-se logo a seguir. Tinha 42 anos.
Mas feitas as contas, a corrida tinha sido um sucesso comercial e de público. A publicidade ao automóvel tinha sido conseguida, e o interesse só aumentou com o passar dos meses. Tanto que surgiu logo a hipótese de efetuar novas corridas.
(continua no próximo episódio)
Os restantes 27 elementos passaram por provas de qualificação, que duraram três dias, no Bosque de Boulogne. Perante muito público, os 26 carros ficaram expostos para que pudessem ser observados, e no dia 19 de julho, fizeram um percurso de qualificação de 50 km à volta do bosque, que teriam de completar em menos de três horas para serem aprovados. No final, 21 carros foram selecionados.
No dia 22 de julho, pelas oito da manhã, os 21 carros alinhavam na Porte Maillot, para fazerem um percurso que passava pelo Bosque de Bolonha, Neuilly-sur-Seine, Courbevoie, Nanterre, Chatou, Le Pecq, Poissy, Triel-sur-Seine, Vaux-sur-Seine e Meulan, na direção de Mantes. Ali, houve uma paragem para almoço, por volta do meio-dia, para depois continuarem hora e meia mais tarde, passando por Vernon, Eure, Gaillon, Pont-de-l'Arche, chegando ao 'Champ de Mars', no meio da cidade de Rouen.
Ao longo do percurso, milhares de pessoas celebravam a passagem dos condutores, curiosos com as "carruagens sem cavalos", muitos deles provavelmente a verem um pela primeira vez. A corrida foi sem incidentes, dada a média de 20 km/hora que a maior parte dos carros fazia. Nem sempre era uma corrida, por vezes era mais um passeio. Mas o primeiro a chegar ao foi De Dion, com uma vantagem de três minutos e meio sobre Albert Lamâitre, e 16 minutos e 30 segundos na frente de Auguste Doriot. René Panhard e Émile Levassoir ficaram a seguir, a 33 minutos e meio e 55 minutos e meio do primeiro.
Contudo, na terça-feira seguinte, a 24 de julho, o "Le Petit Journal" divulgou os resultados, e estes revelaram outra história: o prémio principal foi partilhado entre o carro de Peugeot e os de Panhard et Levassoir "pelo competidor cujo carro esteve próximo do ideal". O carro de De Dion tinha o atrelado, e levava o fogareiro lá dentro, contrariando as regras do jornal. Assim sendo, foi lhe retirado o primeiro lugar, mas dado o prémio de dois mil francos, graças "ao seu interessante trator a vapor, que desenvolve uma velocidade incomparável, especialmente nas subidas". O terceiro lugar, com o prémio dos 1500 francos em ouro, foi dado Maurice Le Blant, pelo seu Serpollet de oito lugares, apesar de ter sido o 15º a cortar a meta...
Lemâitre e Doriot ficaram com o "bicho das corridas" e ali tornaram-se, sem eles saberem, nos primeiros pilotos de automobilismo. Correram nos anos a seguir nas várias provas, divulgando a modalidade em França e na Europa. Ambos teriam destinos diferentes: Doriot abandonaria a Peugeot em 1902 e iria abrir a sua própria companhia, acabando por viver até 1955, a tempo de ver o seu filho Georges ter uma carreira nos Estados Unidos e ser professor de Economia em Harvard, enquanto que LeMâitre competiria até 1902, mas teria um final trágico em maio de 1906, quando matou a sua mulher, após este lhe ter pedido o divórcio, e matou-se logo a seguir. Tinha 42 anos.
Mas feitas as contas, a corrida tinha sido um sucesso comercial e de público. A publicidade ao automóvel tinha sido conseguida, e o interesse só aumentou com o passar dos meses. Tanto que surgiu logo a hipótese de efetuar novas corridas.
(continua no próximo episódio)
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