terça-feira, 22 de abril de 2014

Os Pioneiros: Capitulo 11, a primeira Taça Gordon Bennett

(continuação do capitulo anterior)

1900: A PRIMEIRA COMPETIÇÃO ENTRE NAÇÕES...


No final de 1899, o americano James Gordon Bennett Jr, um "media mogul", dono do New York Herald e entusiasta dos automóveis e da competição, decidiu promover no Automobile Club de France (ACF) a ideia de uma competição entre nações para saber quem seria o melhor, e assim impulsionar a industria automobilística um pouco por todo o mundo. Para isso, doou um troféu de prata e perguntou ao ACF se estaria disposto a organizar a primeira edição desta competição. O ACF respondeu positivamente, e marcou uma competição entre Paris e Lyon, que iria acontecer a 14 de junho de 1900.

Bennett, americano de nascimento, tinha sido educado em França no inicio dos anos 60 do século XIX sentido de herdar depois do império jornalístico criado pelo seu pai, James Gordon Bennett Sr. Assim aconteceu um 1868, na mesma altura em que, para aumentar as vendas, decidiu financiar a expedição de Henry Stanley para descobrir David Livingstone e mapear o percurso do Rio Congo. Contudo, Bennett Jr. tinha também se apaixonado por França e passava longas temporadas no país, enquanto que o "Herald" continuava a prosperar e a ser um dos jornais americanos mais populares.

Sempre foi um entusiasta de coisas novas. Tinha estabelecido um troféu para o iatismo, com considerável sucesso, e em 1895, quando soube do estabelecimento da primeira corrida "pura", entre Paris e Bordéus, ele e outro americano, William K. Vanderbildt, decidiram dar algum dinheiro para enriquecer o "prize money" daquela corrida.

Com o acordo de uma corrida entre nações, logo estabeleceram-se as regras. Cada nação poderia inscrever um máximo de três carros, estes tinham de ser construídos nos seus países, e o vencedor tinha o direito a receber a competição no ano seguinte. Para identificar os seus países, estableceu-se um código de cores: azul para a França, branco para a Alemanha, amarelo para a Bélgica, verde para a Grã-Bretanha e vermelho para os Estados Unidos. 

Contudo, em França, houve alguma contestação à ideia, pois na altura, era a nação mais desenvolvida nessa área, com várias marcas - Panhard, Mors, Bollée, Peugeot - a construírem chassis competitivos, algo que outros países teriam imensas dificuldades em construir um automóvel. Para piorar as coisas, quando a ACF decidiu eleger os seus pilotos para a Gordon Bennett Cup, decidiu promover entre os seus membros uma votação secreta. Os selecionados foram Fernand Charron, René de Knyff e Leonce Girardot, todos eles pilotos que usavam Panhards nas suas competições. Ora, a concorrência não gostou e protestou. A Mors foi ainda mais longe e anunciou que iria levar um dos seus carros, guiado por Pierre Levegh, para correr contra os Panhard. 

Os únicos países que participaram na edição inaugural foram a Bélgica, que decidiu inscrever um Schnoek-Bolide tripulado por Camile Jenatzy, a Alemanha, que colocou um Benz tripulado por Eugen Benz, filho de Karl Benz, e dois Winton americanos, tripulados por Alexander Winton e Anthony L. Riker.


... QUE ESTEVE QUASE PARA NÃO ACONTECER


Antes de acontecer a competição, várias corridas iriam acontecer um pouco por toda a França, não só corridas entre cidades, como as primeiras provas em circuito. A 18 de fevereiro, em Melun, aconteceu a "Corrida do Catálogo", onde os participantes de seus categorias desfilariam num circuito fechado para a ocasião, e em abril, outra corrida entre cidades acontecia, entre Paris e Roubaix, aconteceu um incidente que colocou tudo em dúvida. Na entrada de uma curva em 90 graus, um grupo considerável de pessoas, entre os quais o comissário de policia De Bos e a sua mulher, assistiam à luta de dois pilotos por um lugar quando aconteceu o acidente. Martin, o primeiro piloto, chegou à curva depressa demais, enquanto que Dorel tentou passá-lo por dentro, mas a manobra não resultou, com ambos a terem uma colisão e os carros a rolarem para a multidão. Várias pessoas ficaram feridas com alguma gravidade, entre os quais a senhora De Bos, que sofreu uma fratura numa perna.

Dois dias depois, o governador civil de Seine-et-Oise decidiu banir as corridas na sua região, e logo a seguir, o secretário do Interior, senhor Demagny, emitiu uma circular para os restantes governadores franceses no sentido de submeter à sua apreciação quaisquer pedidos para a realização de corridas. Basicamente, dependia de uma pessoa a realização ou não de provas automobilísticas, o que resultaria num banimento virtual de toda a competição automóvel no país.

A reação foi forte. A industria automóvel e o ACF tentaram convencer de que a decisão era absurda, e em poucas semanas, acompanhados pela indignação da população e de uma campanha na imprensa, o banimento foi levantado. Para melhorar as coisas, a perna da senhora de Bos curou-se e uma pequena prova de automóveis aconteceu sem incidentes de maior. Assim sendo, a 12 de junho, tudo estava pronto para que acontecesse a primeira edição da Gordon Bennett Cup.


A VITÓRIA NATURAL DA FRANÇA 


Dos sete carros inicialmente presentes, cinco estiveram à partida, mais o Mors extra-oficial de Levegh. Um dos Winton americanos, guiado por Riker, não ficou pronto a tempo, enquanto que o Benz alemão tinha problemas de pneus e acabou por não alinhar à partida. Asim sendo, somente os três Panhard de Charron, Girardot e De Knyff, o Schnoek de Jenatzy e o Winton de Alexander Winton estavam presentes à partida da corrida.

Nos primeiros quilómetros, o lider era... Levegh. De uma forma embaraçosa para os organizadores, o Mors tomou a dianteira, com a distância a aumentar para cerca de meia hora sobre os Panhard. Atrás, surgiram os primeiros problemas quando De Knyff desistiu devido a uma avaria na sua caixa de velocidades. Charron tinha dificuldades depois do seu eixo traseiro se ter dobrado quando passou por um rego de água, obrigando o seu mecânico a deitar óleo sobre as correntes para poder prosseguir. Girardot, o outro francês presente tinha problemas com o sentido de direção, e perdeu-se perto de Orleans, descendo na classificação.

A meio do caminho, Levegh começou a acusar problemas mecânicos, onde embora conseguisse repará-los, o tempo perdido foi mais do que sufuciente para permitir a aproximação, e posterior ultrapassagem de Charron, no seu Panhard. Apesar dos problemas, ele estava bem encaminhado para a vitória quando a menos de 17 quilómetros da meta... o desastre acontece. Numa descida a mais de cem quilómetros por hora, um enorme cão atravessa-se à sua frente e ambos colidem. O pobre animal teve morte imediata e o seu corpo acabou esmagado contra a coluna da direção. Sem controlo, o carro saiu de estrada, atravessou um pequeno lago e fez um pião.

Charron e Fournier, o seu mecânico, tentaram colocar o carro a trabalhar, mas a bomba de água tinha o suporte partido, e tinha de ser acionada manualmente para manter a circulação de água. Assim sendo, nos quilómetros finais, Fournier tinha de se revezar entre deitar o óleo na corrente e bombear a água. Mas conseguiram chegar a Lyon como vencedores, conseguindo um tempo de nove horas e nove minutos. Pouco depois chegou Levegh, enquanto que Leonce Giaradot passou a meta cerca de uma hora depois.

Contudo, eles foram os únicos a chegar ao fim nesta competição. Jenatzy sofreu um acidente sem consequências, mas o carro ficou irrecuperável. Mas para piorar as coisas, pouca gente esteve em Lyon para assistir à chegada de ambos os carros. A imprensa não ficou impressionada com a vitória dos carros franceses e o facto de tão poucos carros puderam participar, Em suma, pareceu ser um fracasso. Mas o ACF poderia voltar a organizar a corrida em 1901, e provavelmente melhorar mais alguns aspectos desta competição.

(continua no próximo capitulo)

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