No primeiro dia de testes em Barcelona, é engraçado ler o que se passa no mundo da Formula 1 por estes dias. E uma das minhas leituras habituais é o britânico Joe Saward. Apesar de ser uma personagem irritante, sabe dizer como ninguém o que se passa por lá. E ao ler o que as pessoas falam ou dizem, poderemos afirmar que as coisas no meio não andam bem, e que mais cedo ou mais tarde, as coisas se preparam para uma guerra. Guerra de custos, guerra de poder.
Em Munique, Bernie Ecclestone foi confrontado na passada sexta-feira com as declarações de Gerhard Gribowsky, o banqueiro alemão que ele subornou para ter os direitos televisivos da Formula 1. Em tribunal, Gribowsky - que como sabem, cumpre uma pena de oito anos de cadeia por suborno - disse que foi confrontado com duas ofertas (antes da que aceitou) para que desistisse da ideia de ficar com os direitos televisivos. A primeira, de dez milhões de dólares, foi oferecida em 2004, e sobre isso, ele avisou quer o banco, quer as autoridades policiais, do qual, ele diz, nada fizeram. Uma segunda oferta, de 80 milhões de dólares, foi feita em Singapura, mas também foi recusada.
Tudo isto acontecia numa altura em que os bancos estavam em guerra com Ecclestone e a Bambino Trust, em 2004, no sentido do controlo do negócio da Formula 1. Os tribunais decidiram a favor dos bancos, mas chegou-se a um acordo no inicio de 2005, em que ele saiu a ganhar. E pouco depois, houve o tal acordo com Gribowsky para que o controlo da dita fosse para a CVC Capital Partners, do qual Ecclestone teria liberdade para comandar, como todos sabem.
Não sei se isto será suficiente para condenar Ecclestone, mas de uma certa maneira, poderemos ver que está a ser confirmado tudo aquilo que já vimos e ele está cada vez mais em maus lençois. Agora, das duas uma: ou chega a um acordo e sai com uma pena suspensa, ou luta até ao fim e arrisca-se a ouvir um veredicto de "culpado", uma sentença e uma pesada multa. De qualquer das maneiras, parece que poderemos estar a ver o fim de Ecclestone à frente do negócio da Formula 1.
E se isso acontecer, pode ser que outra pessoa entre em ação para controlar o negócio: Jean Todt. O presidente da FIA pode andar bem caladinho, mas sabe que têm o tempo a seu favor, bem como a clássica desunião das equipas. Apesar de haver um "Grupo de Estratégia", do qual estão presentes as seis equipas mais poderosas e influentes (Ferrari, Williams, McLaren, Red Bull, Mercedes e Lotus), com poder de veyto, elas têm cada um a sua própria agenda, e a questão do momento é o controlo de custos. E depois de estes apresentarem no fim de semana de Barcelona as suas propostas de redução de custos, nomeadamente menos uma sessão de treinos livres na sexta-feira, Todt respondeu e forma dura:
"O que eles propuseram foi uma piada", começou por afirmar. "As propostas que fizeram e do qual parecem estar satisfeitos com ela só reduzem os orçamentos em dois milhões de dólares. É ridículo. Sabemos que os orçamentos dessas equipa andam entre os cem e os 400 milhões de dólares. Quando falamos sobre os custos devemos falar acerca de uma redução em 30 a 40 por cento. O que custa dinheiro são os custos com o pessoal. Eles são grandes. Eu dei algumas sugestões, e eu quero ver o que as equipes têm para dizer. Nós vamos nos encontrar com todas as pessoas e espero que eles vêm desta vez com sugestões mais sensatas.", concluiu.
Toda a gente sabe que a Formula 1 é conhecida pelo apelido de "Clube Piranha" pelo facto de os ouros fazerem tudo para dar cabo da concorrência. E aumentar os custos têm sido a arma de eleição. E sempre que alguém tenta controlar as coisas, ha briga. Podemos recordar a FOTA, que em 2009 entrou em briga com Max Mosley quando teve a mesma ideia e chegou ao ponto a dizer que iria fazer a sua própria competição. Foi nessa altura que Ecclestone entrou em ação e afastou Mosley para colocar Jean Todt no seu lugar.
Meter um "cost cap" é uma maneira de prevenir a sangria e evitar que se transforme num deserto ou numa coutada super-elitista, só com Ferraris e Mercedes, como aconteceu nos anos 30, com os Grand Prix dominados pelos carros da Alemanha nazi, e os outros a serem meros figurantes. E com Luca de Montezemolo a sugerir que as equipas possam inscrever três ou quatro carros, para compensar a falta das outras, é apenas outra maneira de dizer que "quanto menos equipas dividirmos o bolo, melhor". Afinal de contas, os que estão dentro do "Grupo de Estratégia" é apenas o tamanho ideal do bolo que recebem de Ecclestone: 600 milhões de dólares, metade dos 1,2 mil milhões de lucros que recebem todos os anos...
Em suma, eis a agitação do momento. Eu tenho a impressão de que estas coisas não terão resolução rápida. O julgamento só terminará em setembro, e as equipas já começam a ver que terão problemas com Jean Todt. Se ambas as partes não chegarem a um acordo, a repetição dos eventos de 2009 poderá ter lugar. Resta saber se terá contornos de tragédia ou de farsa.
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