1904: A COMPETIÇÃO GANHA PRESTIGIO
Em 1904, não há corridas de automóveis em França, e a grande corrida do ano torna-se inesperadamente uma competição que os franceses desprezavam: a Gordon Bennett Cup. depois do sucesso que foi a edição de 1903, nas estradas irlandesas, a Alemanha quer fazer uma competição que supere as anteriores. Patrocinada pelo próprio Kaiser Guilherme II, a prova acontece em Taunus, um circuito fechado numa floresta nos arredores de Hamburgo. Marcado para o dia 17 de junho, a corrida consistia em quatro voltas a esse circuito, num total de 550 quilómetros, e as autoridades decidem proclamar esse dia como feriado, para ter o máximo de pessoas nesse circuito a apoiar os pilotos locais.
Nesta edição entram seis paises: Alemanha, a anfitriã, a França, a Grã-Bretanha, a Itália, a Belgica e a Austria. No lado alemão, a seleção resultou no vencedor do ano anterior, os belgas Camile Jenatzy e Pierre de Caters, e o alemão Fritz von Opel. A Itália era a estreante na competição, com uma seleção que consistia de três Fiats: os de Vicenzo Lancia, o de Alessandro Cagno e de Luigi Storero. No lado belga eram três Pipes conduzidos, respectivamente por Pierre de Crawhez, Lucien Hauvast e Maurice Augiéres. A Austria inscrevia dois carros, ambos Mercedes, para John Warden e Edgar Braun.
Na Grã-Bretanha, com o sucesso do ano anterior, queriam fazer uma nova corrida eliminatória em terras irlandesas, mas cedo descobriram que as facilidades concedidas no ano anterior tinha sido algo único, quase irrepetível. Assim sendo, começaram por procurar alternativas, e encontraram na ilha de Man, a meio caminho entre a Irlanda e a Grã-Bretanha. Apresentaram o projeto ao parlamento local, a House of Keys, e rapidamente foi aprovada. Na corrida de eliminação, contudo, a seleção ficou rápidamente establecida: Selwyn Edge foi o melhor, no seu Napier, seguido por Charles Jarrot e Sidney Girling, ambos em Wolseley.
No lado francês, as coisas foram mais complicadas. O Automóvel Clube de França teve de pedir diretamente ao primeiro-ministro de então, Charles Combés, para que autorizasse a realização de uma corrida nos moldes belgas. Após algum "lobby" da cada vez mais crescente e rica industria automobilistica, o governo cedeu e decidiu realizar uma corrida na região de Argonne, escassamente povoada e num circuito fechado, segundo os moldes belgas.
O circuito foi rapidamente montado e foram feitas modificações importantes, como o asfaltamento das estradas e barreiras de proteção para evitar transitos desnecessários, como barreiras de troncos. A Panhard era a natural favorita, mas eles tiveram graves problemas de sobreaquecimento e os melhores acabaram por ser Léon Thery (na foto), num Richard-Brasier, Joseph Salleron, num Mors, e Henri Rougier, num Turcat-Méry.
Inicialmente inscritos estavam a Suiça e os Estados Unidos. A primeira acabou por desistir, enquanto que a segunda tinha problemas em sua casa devido à existência de duas entidades que regiam o automobilismo no outro lado do Atlântico. A ACA (Automobile Club of America) tinha dificuldades de organização e isso fazia com que outros pensassem em fazer outra entidade que representasse melhor os seus interesses. Essa alternativa já existia em 1902, com o American Automobile Association (AAA), fundada em Chicago.
Um desses apoiantes era William K. Vanderbilt, um descendente da famosa familia novaiorquina Vanderbilt, que tal como Gordon Bennett, vivia em França há muito tempo e era um entusiasta do motores, tendo participado em algumas corridas como o Circuit des Ardennes, o Paris-Viena e o Paris-Madrid. Vendo o sucesso que estas corridas tinham na Europa, decidiu que era altura de haver algo semelhante nos Estados Unidos, no sentido de desenvolver a industria automóvel. Mas nesse ano, os americanos estavam de fora da Gordon Bennett Cup.
A corrida em si foi um duelo a três países: França, Alemanha e Grã-Bretanha. Nas duas primeiras voltas, Léon Thery era o líder, seguido muito de perto por Camile Jenatzy (a diferença nunca foi superior a um segundo!) e dos carros britânicos. Mas estes acabaram por abandonar devido a problemas mecânicos, daixando Théry e Jenatzy num duelo fratricida. O belga tudo tentou para o passar, mas Théry, então um jovem piloto de 25 anos, conseguiu resistir o que pôde, e acabou por vencer a corrida, restaurando o orgulho francês, algo ferido, e fazer com que os franceses voltassem a organizar a Gordon Bennett Cup. Para Théry e para a Brasier, esta era a sua primeira grande vitória internacional.
UM AMERICANO NAS ARDENAS
A 25 de julho, pouco mais de um mês depois da corrida alemã, 33 máquinas estavam presentes para a terceira edição do Circuito das Ardenas, onde apesar de haver muito mais público do que o esperado, dada a interdição de corridas em França, esperavam-se mais pilotos. Só havia seis Carros Leves e o resto eram pesados, com Albert Clement-Bayard, René Hanriot e Jacques Guers, todos em Clément-Bayards, Georges Teste, Henri Farman e George Heath a representarem a Panhard, Mark Mayhew num Napier, Jacques Salleron num Mors Z, Hubert le Blon, Maurice Fournier e Achille Fournier, ambos num Hotchkiss, Sidney Girling num Wolesley, Arthur Duray, num Darracq, Vicenzo Lancia num Fiat, entre outros.
A corrida começou com Duray na frente, seguido de perto pelos Panhard. Henri Farman assediava-o até que no inicio da segunda volta, conseguiu ultrapassá-lo e ficar com a liderança. No terceiro posto seguia o americano George Heath, esperando por um deslize dos dois primeiros classificados. Heath conseguiu passar esses dois e assumiu o comando na terceira volta, mas por sua vez, era ele o perseguido, neste caso, por Georges Teste. Este passou-o e assumiu o comando.
Parecia que seria ele que iria vencer a corrida, mas no meio da última volta, ele teve um furo nas rodas traseiras, que o fez correr sobre os aros das rodas. Heath aproveitou e passou para a frente, ganhando um avanço de 55 segundos sobre Teste para ser o primeiro piloto americano a vencer uma grande prova europeia.
(continua no próximo capítulo)
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