Nos primeiros tempos do automobilismo, no inicio do século XX, os pilotos eram personagens capazes de fazer tudo, desde experimentando novas maquinas a inventando novas maneiras de pilotar e aparelhos capazes de fazer funcionar mais eficazmente. Mas não era só em quatro rodas. Também poderia ser em duas rodas... e também no ar e no mar. A personagem que falo hoje foi piloto e aviador, pioneiro em ambas as disciplinas e passando à história por duas coisas: o primeiro vencedor da Targa Flório... e o primeiro piloto de bombardeiros. Hoje vou falar de Alessandro Cagno.
Nascido a 2 de maio de 1883, em Turim, vinha de uma família de classe trabalhadora e aos 13 anos, começou a trabalhar como aprendiz na fábrica Storero, que construía carruagens, bicicletas e "omnibus". no final do século XIX, Storero tinha conseguido da Daimler alemã os direitos de construir triciclos em Itália. Rapidamente, Cagno apaixona-se pela mecânica e torna-se piloto de testes da marca e participa nas primeiras corridas na região, em Piacenza.
Isso atraiu a atenção de Gianni Agnelli, que em 1899 tinha criado a Fiat, e pediu a Luigi Storero para que criasse um departamento de competição. Assim, em 1901, ele recrutou Alessandro Cagno (então com 18 anos), ao lado de Vicenzo Lancia e Felice Nazzaro. Primeiro em corridas de montanha, depois em provas de estrada, conseguindo o seu primeiro resultado relevante no Circuito das Ardenas, em 1903, onde foi décimo classificado. Semanas antes, tinha participado na corrida entre Paris e Madrid, como mecânico de Vicenzo Lancia, onde acabaram por se retirar pelo caminho, devido a problemas mecânicos.
Em 1905, faz parte da equipa da Fiat que vai participar na Gordon Bennett Cup em França e que ameaça sériamente os franceses. Acaba na terceira posição, atrás de Felice Nazzarro e do vencedor, o francês Léon Théry.
Em 1906 sai da Fiat e passa para a Itala, outro construtor que tinha entretanto aparecido. Vai ser com eles que participará na edição inaugural da Targa Flório, uma prova construida por Vicenzo Flório nas estradas da região siciliana de Madonie. Depois de um duelo com Vicenzo Lancia, Cagno levou a melhor e venceu após nove horas e meia de competição. Participou também no primeiro Grande Prémio, em Le Mans, mas não chegou ao fim devido a problemas mecânicos.
No ano seguinte, correu no Kaiserpreis, a reposta alemã ao Grande Prémio, onde acabou no quinto posto. Também esteve na Targa Flório, onde foi quinto, e venceu a Coppa Velocitá de Brescia. Em 1908, foi terceiro na Coppa Flório, em Bolonha, 11º no Grande Prémio de França e participou no Grande Prémio da América, não chegando ao fim.
Em 1909, aos 26 anos de idade, as suas atenções são desviadas do automobilismo para a aviação. Cedo tira o "brevet" para voar e no final desse ano, em conjunto com Clovis Thouvenot e Gianni Galli, decidiram fazer a AVIS-Voisin, que construiria aviões Voisin franceses sob licença. Em 1910, constroi a primeira escola de aviação em Itália, na localidade de Pordenone, na zona do Fruli, no leste. A 19 de fevereiro de 1911, Cagno tornou-se no primeiro piloto a voar sobre Veneza, a bordo de um Farman II de 50 cavalos, e lá ficou até ao dia 6 de março, fazendo voos diários, um deles com um passageiro.
Nesse ano, voluntariou-se para participar na guerra Italo-Turca, onde não só voou nas linhas turcas, como também inventou um dispositivo para lançar bombas sobre as linhas inimigas, com alguma eficácia.
Depois de algum tempo na aviação, voltou aos automóveis, especialmente depois de ter recebido um convite da Fiat para regressar, como piloto de testes. Em 1914, participa no Grande Prémio de França (curiosamente com o numero 13...) mas não chega ao fim da corrida.
Com o rebentar da I Guerra Mundial, tornou-se piloto de testes para a aviação, quer no exército francês, quer no exército italiano. Regressa à competição em 1923, ao serviço da Fiat, onde vence o Grande Prémio de Itália na classe "voiturette". No final desse ano, aos 40 anos de idade, decide abandonar a competição.
Alessandro Cagno morreu em Turim a 23 de dezembro de 1971, aos 88 anos.
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