As noticias sobre a ida da Formula 1 cada vez mais para o Leste da Europa e para regimes no mínimo duvidosos, e as dúvidas que começam a ser cada vez mais levantadas sobre a ida à Rússia, numa altura de agitação politica no Leste da Ucrânia, começam a irritar alguns membros da Formula 1. Esta sexta-feira, Christian Horner, um dos patrões da Red Bull, irritou-se na conferência de imprensa pré-Hungria quando foi questionado sobre o facto desta ir a Sochi quando o conflito no Leste da Ucrânia e o abate do voo MH17 da Malasyan Airlines colocam dúvidas sobre a sua realização.
“Isso está a tornar-se uma conferência deprimente, porque estamos apenas nos concentrando nas coisas negativas. Olha, tem um calendário que sai em outubro e em novembro. Todos nós temos uma escolha: ou entramos no Mundial ou não. Todas as pessoas sentadas aqui são competidores e eles estão aqui porque são apaixonados por este desporto e querem competir.”, começa por dizer Horner, citado pela jornalista brasileira Evelyn Guimarães, do site Grande Prêmio.
“Todos vocês, ou a grande maioria [dos jornalistas], estarão também nas corridas. E porquê? Ou porque são apaixonados pelo desporto ou porque ganham a vida cobrindo a Formula 1, então eu acho errado tornar a Formula 1 um assunto político, quando se está no desporto”, continuou.
“Nós deveríamos falar sobre os nossos pilotos, que fizeram uma grande corrida na semana passada [referindo-se a Sebastian Vettel e Fernando Alonso]. Nós deveríamos falar da grande prova que fez Lewis Hamilton, mas tudo que fazemos é focar nas coisas negativas. E isso é preciso ser dito: é muito chato para nós nos sentarmos aqui e responder sobre isso. Que tal fazer perguntas sobre o que vai acontecer na corrida de domingo? Mas se vocês insistirem, então é melhor encaminhar as perguntas ao Bernie Ecclestone e ao Jean Todt e não às equipas”, concluiu.
Que a Formula 1 é um negócio, isso é um facto. Sempre o foi, e no passado, ignorou olimpicamente questões duvidosas como a Africa do Sul do tempo do "apartheid" (somente em 1985 é que saiu de lá, após pressão internacional) ou a Argentina e o Brasil nos tempos das ditaduras mais pesadas, entre meados dos anos 70 e inicio dos anos 80. E claro, Bernie Ecclestone sempre quis ter uma corrida de Formula 1 no outro lado da Cortina de Ferro, mostrando que o negócio (ou o dinheiro, se preferirem) é mais poderoso do que a politica.
E toda a gente sabe que, com Bernie Ecclestone, não há pruridos políticos: o negócio está feito e acabou. E o disse ao jornalista Adam Cooper esta segunda-feira. O que lhe interessa é o dinheiro e não a cor politica da pessoa que manda. E quando se sabe que Vladimir Putin quer esta corrida para colocar a Rússia no mapa, então saberemos que a corrida irá realizar-se.
Contudo, nos últimos anos, as suas atitudes de ignorar as criticas internacionais e ir para países como o Bahrein, a China, e a partir de agora, a Rússia e o Azerbeijão, demonstra a enorme dependência do petróleo, quer sejam das petromonarquias do Golfo Pérsico, quer sejam das petro-oligarquias do Leste Europeu (um GP da Europa em Baku é quase uma comédia...) começam a incomodar as pessoas. E estas atitudes arrogantes de "não mordam as mãos que vos alimentam" de Christian Horner (que algumas pessoas ainda o consideram como potencial sucessor de Bernie) não ajudam muito à reputação desta gente, que desde há muito é acusada de viver numa bolha alheia à realidade.
E as pessoas, um dia, ficam fartas disso. Os tempos futuros adivinham-se complicados.
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