1909: O COMEÇO DE UMA LENDA AMERICANA
As coisas no inicio de 1909, nos Estados Unidos - ao contrário da Europa - eram de prosperidade e explosão para a nascente industria automóvel americana. Dezenas de companhias automobilísticas nasciam um pouco por todo o lado, e as corridas de automóveis viviam um autêntico "boom", graças aos sucessos da Vanderbilt Cup e do Grande Prémio da América. Um dos sítios onde existiam várias companhias automóveis era a cidade de Indianapolis, no estado do Indiana, a meio caminho entre Cleveland e Chicago, um importante entroncamento ferroviário.
Entendendo que ter uma pista permanente poderia servir quer para proporcionar entretenimento, quer para desenvolver automóveis e os seus componentes, alguns dos principais industriais da cidade decidiram constituir a 9 de fevereiro desse ano a Indianápolis Motor Speedway Corporation. Quatro homens contribuiram para a sua construção: Carl Fisher, James A. Allison, Arthur Newby e Frank Wheeler.
Fisher, então com 35 anos, era um visionário. De Greenberg, no Indiana, e filho de um pai alcoólico e sofrendo de uma forma severa de astigmatismo na sua infância, abandonou a escola aos doze anos e tinha sido um entusiasta de ciclismo no final do século, tendo começado a abrir um loja de reparação de bicicletas em Indianápolis. Em 1904, foi aproximado por uma pessoa que tinha a patente da lâmpada de acetileno, que serviria para iluminar os automóveis à noite. Ele adquiriu a patente e com o seu sócio James A. Allison, constituiram a Prest-O-Lite, que os fez milionários e com contactos na industria automobilística, entre os quais o piloto Barney Oldfield.
Isso fez com que Fisher fizesse aquilo que foi depois considerado como o primeiro concessionário de automóveis do mundo, vendendo carros de marcas como Packard, Stoddard-Dayton, Reo, Oldsmobile, Stutz, entre outros. Para os publicitar, chegou a colocar um Stoddard-Dayton num balão de ar quente e o pairou sobre a cidade, para admiração de toda a gente. O que ninguém sabia é que tinha tirado o motor para facilitar as coisas...
Quanto a Arthur Newby, era o presidente de uma das marcas de automóveis que era construída naquela cidade, a National, e tinha começado a converter alguns dos seus modelos para as corridas automobilísticas um pouco por toda a América, como a Vanderbilt Cup e o Grande Prémio da América. Já Frank Wheeler, era o proprietário dos carburadores Wheeler-Schreiber também situados em Indianápolis.
Estes quatro homens tinha conseguido juntar 250 mil dólares para o projeto, e rapidamente, Fisher encontrou um lugar nos arredores de Indianápolis para construir o seu circuito, uma oval - na realidade, um rectângulo de quatro curvas - com duas milhas e meia de comprimento (4023 metros) que ficou completo em poucos meses depois, de março a julho de 1909. Mais de 500 trabalhadores, 300 mulas e várias máquinas ajudaram a compactar a terra que ficou completada com uma camada de asfalto misturado com brita. O projeto era a concretização de um desejo que Fisher tinha desde que visitara o circuito de Brooklands, dois anos antes.
Contudo, a prova de inauguração, a 19 de agosto, foi um desastre. A prova, ocorreu num dia de grande calor e a superficie quebrou-se, causando vários desastres. O mais grave de todos foi quando o canadiano Wilfred Bourque perdeu o controlo do seu Knox e despistou-se, causando a sua morte e a do seu mecânico, Harry Holcomb. Outro mecânico e mais dois espectadores morreram, vitimas de vários acidentes. O grande vencedor foi Louis Schweitzer, que ganhou uma medalha, mas no final, o evento foi um fracasso. Para além dos acidentes, a superficie estava arruinada e a AAA, quer tinha supervisionado o evento, decidiu que iria boicotar o evento, caso não se fizessem modificações significativas.
Sem hesitar, em setembro desse ano, Fisher foi ter com os sócios e decidiu que iria cobrir aquela superficie com tijolos. Arranjou 3,2 milhões de tijolos, vindas de cinco fábricas de Indiana, e colocou-os à volta do circuito. No final, convidou o governador do Indiana para colocar um tijolo especial, feito de ouro. Nessa altura, os habitantes locais começavam a apelidar o circuito com o nome que o tornou famoso: "The Brickyard", e os primeiros testes com a nova superficie começaram e dezembro desse ano, com os carros a alcançarem confortavelmente a velocidade de 180 quilómetros por hora, o que deixou todos felizes. E à medida que 1910 se aproximava, Fisher pensava numa grande corrida para aquela pista, capaz de atrair os melhores construtores do mundo.
(continua no próximo episódio)
Olá,
ResponderEliminarGostei muito da história. Só gostaria que colocasse antes das postagens, os links dos episódios anteriores, para podermos resgatar mais rapidamente o início das matérias !
Parabéns !!