"OS CHARLATÃES", OU O COMEÇO DO DOMÍNIO DA PEUGEOT
No final de 1910, a Peugeot estava em reflexão, depois de ter sido superado pela Hispano-Suiza em algumas das grandes provas desse ano, entre os quais a Taça das Pequenas Viaturas, em Boulogne. Para piorar as coisas, um dos seus pilotos, o italiano Giuseppe Giuppone, tinha morrido na véspera da corrida de Boulogne, deixando um vazio dificil de preencher. Ao ser batido em casa, no seu próprio quintal por um adversário vindo de um país sem qualquer tradição automobilística como a Espanha (apesar de o designer dos motores ser suiço...), a Peugeot achou por bem entrar em reflexão e ver o que é que tinham de fazer para voltar às vitórias.
A ideia partiu de um dos pilotos, Jules Goux. Terceira geração de trabalhadores na marca francesa, Goux decidiu que a melhor solução seria o de criar um departamento de competição, separado do departamento de construção dos carros de série. Quer Goux, quer o seu comapnheiro Boillot, eram engenheiros de formação e sabiam desenhar e testar carros como ninguém, mas achariam que se tivessem uma pequena equipa a seu lado, com um conjunto de engenheiros dedicados totalmente à competição, teriam mais e melhores hipóteses de triunfo nas grandes corridas.
A ideia à partida, era arriscada e vista com desprezo por alguns dos funcionários da fábrica, que achavam que eles não teriam a capacidade de fazer tal coisa, e cedo foram apelidados de "Charlatães". Goux, mesmo assim, apresentou a ideia a Robert Peugeot, o então presidente da marca. Este ouviu-os e fez-lhes uma contra-proposta: tornar-se-iam independentes, em vez de serem empregados, com um contrato fixo para construírem um protótipo, a um preço fixo de quatro mil libras. Goux e Boillot aceitaram, e logo a seguir, recomendaram a contratação de Paolo Zucarelli, que tinha saído da Hispano-Suiza, depois de esta ter tido a sua crise, quando Marc Birkigt, o projecionista, e Louis Pilleverdier, o dirigente (era o representante da marca em Paris), forçando a marca a abandonar a competição.
Cedo se juntaram o próprio Pilleverdier e um engenheiro suiço, Ernest Henry, com experiência no desenho de motores, pois tinha desenhado motores de barco para Lucien Picker.
Para se proteger, Robert Peugeot decidiu oferecer o mesmo contrato a um jovem engenheiro de origem italiana, Ettore Bugatti, que apesar da sua juventude, tinha sido piloto no inicio do século e com uma enorme intuição para a engenharia. E assim o desafio estava lançado: o que fizesse o melhor carro produziria para a marca, sob contrato. Os dados estavam lançados e o melhor iria vencer, para beneficio dos franceses.
As coisas começaram a melhorar em 1912, mas o duelo decisivo acontece nesse ano, quando ambos os protótipos são testados numa corrida lançada. Bugatti consegue 160 km/hora, mas os "Charlatães" são melhores, alcançando os 184,6 quilómetros por hora. E o segredo do sucesso era o seu motor: 7,6 litros, de quatro cilindros, dupla árvore de cames à cabeça, quatro valvulas por cilindro e câmaras de combustão hemisféricas. Ao todo, o motor tinha 148 cavalos a 2200 rotações por minuto, 20 cavalos por litro, contra os 13 do seu maior rival, o Fiat S74, que tinha... 14100cc e 190 cavalos.
Com o contrato assinado, o primeiro grande teste de fogo foi com o regresso do Grande Prémio, em Dieppe. Com Goux, Zucarelli e Boillot presentes, e contra a armada Fiat, as coisas não correram muito bem para para os dois primeiros, devido à ignição quebrada do italiano e a desclassificação de Goux, porque reabasteceu fora da zona de boxes. Mas a Peugeot tinha tinha levado para ali um novo sistema de reabastecimento e de troca de pneus, que facilitava as coisas e Boillot, o carro sobrevivente, diminuiu a diferença e aproveitou o azar do melhor Fiat, que era o de David Bruce-Brown. E apesar de no final ter tido um problema na caixa de velocidades, Boillot venceu, devolvendo o prestigio da França no automobilismo e criado um novo herói nacional. Os "Charlatães" tinham vencido e convencido, primeiro a firma, e agora, o automobilismo.
O futuro era dourado para a Peugeot e provaram-no em 1913: a convite de Carl Fisher, dois carros foram para Indianápolis para correr contra os melhores americanos e a corrida foi ganha por Jules Goux, que teve um recepção de herói quando regressou a França. Mas mais tarde, quando se prepararam para o Grande Prémio do ACF, em Amiens, a tragédia voltou a abater-se na equipa. Tal como em 1910, com Giuppone, o italiano Paolo Zucarelli estava a testar para a corrida quando se apercebeu tarde demais de uma carroça na estrada. O embate foi inevitável e Zucarelli teve morte imediata.
A corrida foi um duelo entre Goux, Boillot e o Delage de Albert Guyot, com trocas de lideranmça entre os três pilotos. Boillot teve um problema de radiador, parou nas boxes e teve de fazer reparações, deixando oa liderança para Guyot, mas este atropelou o seu mecânico quando este saiu do carro cedo demais para trocar um pneu. Ele voltou ás boxes, e viu Boillot recuperar a liderança e ganhar pela segunda vez consecutiva, elevando-se ainda mais à categoria de herói nacional e colocar a marca nas bocas do mundo.
Os "Charlatães" tinham conseguido: a Peugeot era, no final de 1913, a melhor marca do mundo em pista.
(continua no próximo capitulo)
A ideia partiu de um dos pilotos, Jules Goux. Terceira geração de trabalhadores na marca francesa, Goux decidiu que a melhor solução seria o de criar um departamento de competição, separado do departamento de construção dos carros de série. Quer Goux, quer o seu comapnheiro Boillot, eram engenheiros de formação e sabiam desenhar e testar carros como ninguém, mas achariam que se tivessem uma pequena equipa a seu lado, com um conjunto de engenheiros dedicados totalmente à competição, teriam mais e melhores hipóteses de triunfo nas grandes corridas.
A ideia à partida, era arriscada e vista com desprezo por alguns dos funcionários da fábrica, que achavam que eles não teriam a capacidade de fazer tal coisa, e cedo foram apelidados de "Charlatães". Goux, mesmo assim, apresentou a ideia a Robert Peugeot, o então presidente da marca. Este ouviu-os e fez-lhes uma contra-proposta: tornar-se-iam independentes, em vez de serem empregados, com um contrato fixo para construírem um protótipo, a um preço fixo de quatro mil libras. Goux e Boillot aceitaram, e logo a seguir, recomendaram a contratação de Paolo Zucarelli, que tinha saído da Hispano-Suiza, depois de esta ter tido a sua crise, quando Marc Birkigt, o projecionista, e Louis Pilleverdier, o dirigente (era o representante da marca em Paris), forçando a marca a abandonar a competição.
Cedo se juntaram o próprio Pilleverdier e um engenheiro suiço, Ernest Henry, com experiência no desenho de motores, pois tinha desenhado motores de barco para Lucien Picker.
Para se proteger, Robert Peugeot decidiu oferecer o mesmo contrato a um jovem engenheiro de origem italiana, Ettore Bugatti, que apesar da sua juventude, tinha sido piloto no inicio do século e com uma enorme intuição para a engenharia. E assim o desafio estava lançado: o que fizesse o melhor carro produziria para a marca, sob contrato. Os dados estavam lançados e o melhor iria vencer, para beneficio dos franceses.
As coisas começaram a melhorar em 1912, mas o duelo decisivo acontece nesse ano, quando ambos os protótipos são testados numa corrida lançada. Bugatti consegue 160 km/hora, mas os "Charlatães" são melhores, alcançando os 184,6 quilómetros por hora. E o segredo do sucesso era o seu motor: 7,6 litros, de quatro cilindros, dupla árvore de cames à cabeça, quatro valvulas por cilindro e câmaras de combustão hemisféricas. Ao todo, o motor tinha 148 cavalos a 2200 rotações por minuto, 20 cavalos por litro, contra os 13 do seu maior rival, o Fiat S74, que tinha... 14100cc e 190 cavalos.
Com o contrato assinado, o primeiro grande teste de fogo foi com o regresso do Grande Prémio, em Dieppe. Com Goux, Zucarelli e Boillot presentes, e contra a armada Fiat, as coisas não correram muito bem para para os dois primeiros, devido à ignição quebrada do italiano e a desclassificação de Goux, porque reabasteceu fora da zona de boxes. Mas a Peugeot tinha tinha levado para ali um novo sistema de reabastecimento e de troca de pneus, que facilitava as coisas e Boillot, o carro sobrevivente, diminuiu a diferença e aproveitou o azar do melhor Fiat, que era o de David Bruce-Brown. E apesar de no final ter tido um problema na caixa de velocidades, Boillot venceu, devolvendo o prestigio da França no automobilismo e criado um novo herói nacional. Os "Charlatães" tinham vencido e convencido, primeiro a firma, e agora, o automobilismo.
O futuro era dourado para a Peugeot e provaram-no em 1913: a convite de Carl Fisher, dois carros foram para Indianápolis para correr contra os melhores americanos e a corrida foi ganha por Jules Goux, que teve um recepção de herói quando regressou a França. Mas mais tarde, quando se prepararam para o Grande Prémio do ACF, em Amiens, a tragédia voltou a abater-se na equipa. Tal como em 1910, com Giuppone, o italiano Paolo Zucarelli estava a testar para a corrida quando se apercebeu tarde demais de uma carroça na estrada. O embate foi inevitável e Zucarelli teve morte imediata.
A corrida foi um duelo entre Goux, Boillot e o Delage de Albert Guyot, com trocas de lideranmça entre os três pilotos. Boillot teve um problema de radiador, parou nas boxes e teve de fazer reparações, deixando oa liderança para Guyot, mas este atropelou o seu mecânico quando este saiu do carro cedo demais para trocar um pneu. Ele voltou ás boxes, e viu Boillot recuperar a liderança e ganhar pela segunda vez consecutiva, elevando-se ainda mais à categoria de herói nacional e colocar a marca nas bocas do mundo.
Os "Charlatães" tinham conseguido: a Peugeot era, no final de 1913, a melhor marca do mundo em pista.
(continua no próximo capitulo)
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