quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Jules Bianchi, um mês depois



Há precisamente um mês que Jules Bianchi teve o seu acidente, que o colocou no pior dos cenários: a inconsciência. O limbo entre a vida e a morte angustia-nos a todos, os fãs e apreciadores do automobilismo, para além dos amigos e claro, dos pais de Jules, que desde então estão no Japão para acompanhar a evolução do estado de saúde do seu filho, de 25 anos e piloto da Marussia desde 2013.

O acidente foi feio, inesperado e claro, grave. Quando no dia seguinte, vimos as imagens captadas por um amador - e que por muito que a FOM tentasse apagar, não conseguiu - arrepiamo-nos por causa do impacto tão forte que levantou o trator do chão por momentos. E desde então que ele está no Hospital Universitário de Mie, com todos à espera de um milagre que, a cada dia que passa, parece não surgir.

Colocando-me nos sapatos de Philippe Bianchi, o pai de Jules, entendo-o bem. Cresceu num ambiente onde a febre da velocidade e a morte conviviam lado a lado e viu o seu pai, Mauro Bianchi, a ficar gravemente queimado em 1968, quando o seu Alpine se incendiou nas 24 Horas de Le Mans, na mesma altura em que via o seu tio, Lucien Bianchi, a sair consagrado como vencedor na mesma corrida. E meses depois disso, o tio acabou a sua vida contra um poste telefónico no mesmo local.

Com a tecnologia e a segurança existentes, tendemos a esquecer que o automobilismo continua perigoso. Já não vemos mais noticias de mortes a cada fim de semana, em provas automobilísticas um pouco por todo o mundo, já não vemos mais temporadas onde os pilotos contavam quantos amigos já tinham morrido ao longo da sua carreira. Nos anos 60, tipos como Dan Gurney ou Jackie Stewart começaram a pensar na retirada quando começaram a contar os amigos que morreram e chegaram à meia centena. Hoje em dia, esse número é um absurdo, mas o facto de as mortes no automobilismo terem chegado a um nível minimo, deu a sensação de que poderemos errar e bater, que a estrutura do carro, os cintos de segurança e o HANS nos protegerão. Isso é uma ilusão.

Um mês mais tarde, apesar de não falarmos sobre Bianchi, pensamos nele. Não nego que ganhei um hábito à noite, antes de me ir deitar, de ligar o Twitter para ver se há alguma novidade, pois por essa hora é manhã no Japão, e poder aparecer alguma coisa. Se a angustia não é boa para mim, imaginem como será para os pais dele.

Tenho a sensação de que poderemos estar a assistir a uma morte ao retardador. Falo isto porque há uns meses, em março, quando via matérias sobre o Michael Schumacher, dei de caras com a matéria de Ed Hinton, da ESPN, falando sobre os pilotos da NASCAR que sofrerem acidentes graves nos anos 80 e estiveram num estado vegetativo persistente que se prolongou até à sua morte. Hinton falou de casos como Don Williams, que em 1979 sofreu um acidente grave e ficou em coma por dez anos até morrer, ou de Rick Baldwin, que em 1997 acabou por morrer, depois de um coma com onze anos. São casos extremos, mas a NASCAR tem história de pilotos que ficaram anos dessa forma, sem que nunca tenham recuperado.

Sabemos que Schumacher, mesmo que saia do coma, têm muito trabalho pela frente, e a possibilidade de recuperação poderá nunca ser total. Mas no caso de Bianchi, mesmo passando um mês sem novidades relevantes sobre o seu estado de saúde, temo que apenas estará a adiar o inadiável. Espero estar enganado, mas temos de pensar nesta ideia. 

1 comentário:

  1. Nestes tipo de lesão, o tempo é aliado.
    Ainda há esperanças de que ele fique minimamente bem.

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...