Tive conversas com pessoas que falaram com pessoal que estava em Grenoble e disseram para esperar o pior no caso do ex-piloto alemão. Não no sentido de "morte cerebral", mas sim a ideia de se tornar um vegetal. Contei isso no passado dia 28 de janeiro aqui neste blog e fui atacado e acusado de "especulador", afirmando que deveria esperar pelos comunicados oficiais, que tinha cedido aos rumores dos jornais sensacionalistas, etc, etc. Como não sou mentiroso nem aldrabão, apontei os sitios onde existem as insinuações do estado de saúde de Schumacher, nomeadamente uma declaração de um dos médicos do Hospital de Grenoble, e a interpretação do
Dr. Gary Hartstein, o ex-medico da Formula 1, que fez sobre essas declarações. E como sabem, foi devastadora:
"
O medico afirmou: 'não creio que evacuamos dois hematomas e está feito. Michael têm hematomas por toda parte, à esquerda, à direita, no centro'. Diabos. Sabem, o 'meio' é onde acontecem todas as coisas importantes: consciência, excitação, controle da pressão arterial, respiração, deglutição, etc. E a esquerda - bom, isso é geralmente a linguagem, etc."
O neurocirurgião, intencionalmente ou não, pintou um quadro neurológico bastante catastrófico.
Primeiro, deixe-me dizer que é ALTAMENTE improvável (honestamente, até digo impossível) que o Michael que conhecemos voltará. E acho que, caso aconteça o impossivel, ele teria de ser considerado um triunfo da resistência física humana, e dos cuidados neurointensivos modernos, se Michael for capaz de voltar a andar, a alimentar-se, a vestir-se, e mantér elementos significativos da sua personalidade anterior."
E aqui, não estou a especular. Estou a opinar. E vale o que vale. Se não querem acreditar nisto, o problema é vosso.
Podem ler o post original por aqui.
Depois de ter sido criticado e destes terem me apontado o dado quando mal ouviram as primeiras noticias sobre os médicos que o começaram a tirá-lo do coma, e de terem noticiado que ele "piscou o olho" e reagiu a estímulos, gritando "
Viste? Estás errado!" a melhor coisa que tinha de fazer era remeter-me ao silêncio. Não tanto no sentido do "
quem cala consente", mas no sentido de deixar que o Tempo, esse grande Mestre, fizesse o que tinha a fazer. E duas semanas depois, os rumores não tinham acalmado, pelo contrário: primeiro, que as reações do Schumacher eram mínimas, e nesta terça-feira, que ele tinha contraído uma pneumonia, e que foi por isso que tinha sido interrompido o processo de "despertar" do coma.
Como é óbvio, não estou em Grenoble, mas deixa-me dizer uma coisa, e isto pode demonstrar um pouco o jornalismo que temos nos nossos dias, e o tipo de ser humano que somos. Imaginem que têm uma informação importante e em primeira mão, mas que te pedem para não te contar. Tu prometes dizer "sim" e tentas fazer tudo para não contar, nem mesmo à tua mulher - ou marido - amigos, filhos, cães, gatos, etc. Mas vai haver sempre um momento, um episódio, em que vais contar a alguém - seja filho, mulher, melhor amigo, etc - mas depois dizes a ele ou ela: "
não contas a ninguém, ouviste?", e essa pessoa promete isso. Mas essa pessoa depois conta a alguém mais íntimo, com a frase do costume, até que calha a um bom amigo teu, que por acaso é jornalista - não interessa de que tipo. Um "
lapsus linguae", um desabafo, uma conversa com os copos não resistem aos melhores segredos, porque é assim o ser humano.
E é por isso que critico fortemente o tratamento pelo qual está a ser feita a filtragem das novidades sobre o estado de saúde de Michael Schumacher por parte da sua assessora,
Sabine Kehm. É certo que cada pessoa têm o seu direito à vida privada, mesmo em situações de grande gravidade como esta. Sei que houve situações de perfeito abuso por parte de jornalistas sem escrúpulos, como aquele que invadiu o hospital, disfarçado de padre, em busca do "
exclusivo perfeito". Condeno veementemente esse tipo de abusos, mas quero que tenham em conta que - e a família deveria saber disso - ele também é uma personalidade pública, e existem milhões de pessoas que estão legitimamente preocupadas com o seu estado de saúde. E quando oiço novamente a mesma "cassete" como a que ouvi esta tarde de Grenoble, já estou pelos cabelos e sinto que andam a gozar com a minha cara. Tratar o público desta forma, por muito que não seja essa a intenção, sinto que o tratamento é desprezível. E isso, como têm verificado, não ajuda. Bem pelo contrário.
Este tipo de noticias, do género "
nada de novo na frente ocidental", para citar o título do famoso livro de Erich Maria Remaque, fazem lembrar o secretismo das noticias que normalmente eram dadas sobre o estado de saúde de um líder qualquer da antiga União Soviética, de Cuba ou da Alemanha do Leste. Creio que uma leitura honesta e transparente do seu estado de saúde seria o suficiente para que debelassem quaisquer debates, rumores e "
teorias da conspiração" sobre o seu estado vindos de jornais, blogs, Twitters, etc. E considero que o tratamento feito por ela nestas semanas peca por ser demasiado fechado, seco e generalista. E isso, na minha opinião, não ajuda em nada, mesmo sabendo que em casos destes, a recuperação de um paciente com lesões cerebrais é longa e penosa. Isto, se recuperar.
Em jeito de conclusão no
"caso Schumacher", cheguei à conclusão de que a melhor maneira é acreditar no que dizem os neurologistas, que mesmo respeitando o segredo médico existente e afirmando constantemente a velha frase "
cada caso é um caso", dizem unanimemente o seguinte: não acreditam no regresso do velho Schumacher, afirmando que algo nesse sentido seria considerado um milagre da Medicina moderna. E francamente, o silêncio dos médicos de Grenoble e "
o que não se diz dos comunicados oficiais" é mais revelador do que os lugares comuns daquilo que a Sabine Kehm anda a dizer, qual - volto a afirmar - cassete já gasta.
Costuma-se dizer no jornalismo que "
No news is good news", mas há excepções. Especialmente no automobilismo, onde a fama é a contrária: "
No news is bad news". Lamento, mas não acredito em milagres. E começo a não acreditar nas informações oficiais. Mas isto sou eu.