Imaginem os meus amigos brasileiros uma terra com o tamanho de metade do estado do Espirito Santo, e que têm petróleo a jorrar do seu solo e do seu mar. E com isso, concorre a todos os eventos desportivos para que todos os possam olhar para eles como se fosse o centro do mundo, enquanto que pelo meio, compra todo o talento que possa encontrar. E entre outras coisas, monta museus, constroi prédios enormes e ganha dinheiro em fazer e equipar o seu canal de televisão planetário, capaz de rivalizar com a BBC e a CNN.
Não puxem mais pelas cabeças, essa fantasia existe. Chama-se Catar (ou Qatar, se preferirem). Uma rápida pesquisa na Wikipédia demonstra que este país, independente desde 1971, têm 1,8 milhões de habitantes, dos quais 270 mil são... naturais desse sitio. É verdade: ha mais expatriados do que naturais dos estado. O estilo de vida é elevadíssimo, e em média, as pessoas ganham um salário de 8500 euros, com o desemprego a ver virtualmente inexistente. O segredo de tanto dinheiro? Nem tanto o petróleo, mas ter as maiores reservas de gás do mundo.
Mas porquê trago o país do Nasser Al-Attiyah à baila? Porque depois de conseguir tudo (mundiais de atletismo e de futebol), está a caminho de conseguir aquilo que lhe falta: a Formula 1. Alegadamente, há uma oferta de 72 milhões de euros (sim, 72 milhões!) para acolher a categoria em 2017. Provavelmente não será para ser uma corrida qualquer no calendário, mas sim para ser ou a corrida inicial, ou a final desse ano. Ainda há obstáculos pela frente até que sejam aceites, e o maior dos quais são os vizinhos. É que aparentemente, o Bahrein têm clausulas nos seus contratos que impedem de eles tenham a Formula 1 no vizinho açambarcador, apesar de há cinco anos, eles darem 60 milhões de euros para abrirem o calendário.
Como se sabe, há um circuito por lá, o de Losail, que acolhe todos os anos a jornada de abertura do Moto GP. Não é um circuito memorável e só acolhe cerca de 20 mil pessoas, e ainda por cima é corrido à noite. A acontecer, teria de ser como nos seus vizinhos: uma corrida a acontecer no "lusco-fusco", como em Abu Dhabi, ou à noite, como é Singapura (ou como foi o Bahrein no ano passado, para comemorar o décimo aniversário da sua inclusão no calendário), porque se for à tarde, teria de ser no inicio da primavera, porque no verão, com 50 graus de temperatura média, só para suicidas.
Mas o problema é que os cataris (ou qataris) estão dispostos a tudo para conseguir. Se a história de como conseguiram o Mundial de futebol de 2022 é absolutamente nebulosa (e um dos fatores para a atual descredibilização da FIFA), no mês passado, a maneira como arranjaram os jogadores para a sua seleção de andebol raiou o escândalo. Para o Mundial (do qual foram organizadores), aproveitaram as regras mais flexíveis da organização que rege o andebol mundial... e naturalizaram todos os jogadores, a troco de muito dinheiro, aproveitando o fato desses jogadores não aparecerem nas suas seleções há anos.
E assim, alguns espanhóis e sérvios trocaram de nacionalidade e levaram a seleção, do vigésimo lugar no último mundial, a uma final com a França, do qual perderem por uma diferença de três golos. E se tivessem conseguido, cada jogador iria receber... cinco milhões de dólares. Para não falar dos oitenta fãs que os qataris contrataram - com tudo pago, claro - à Espanha para os apoiar em todas as partidas.
Houve protestos - Bahrein e Emirados Árabes Unidos boicotaram o mundial - e já houve avisos de outras federações para que não tentem a mesma gracinha. O receio mais óbvio e o do futebol, dado que o Qatar não têm uma equipa à altura e nunca foi a um Mundial até agora...
Mas voltando ao automobilismo, de facto, a ideia de termos a Formula 1 por aquelas bandas é uma espécie de "cereja no topo do bolo" do qual sempre me espantei por que razão não ter aparecido mais cedo. Agora já se sabe o porquê.
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