Os carros da Alfa Romeo, alinhados no "paddock" de Silverstone para competir na primeira corrida de sempre do mundial de Formula 1. Se fosse uma pessoa, a Formula 1 poderia a partir de hoje colocar os papéis para a reforma. É que faz hoje 65 anos que se realizou a primeira corrida oficial do novo campeonato, no circuito de Silverstone. E vendo as coisas aos olhos de hoje, pode-se ver que aquilo representava o melhor de um mundo que saia de um conflito mundial.
Não era a primeira vez que a Comission Sportive International fazia um campeonato de pilotos. Tinha feito isso em 1933 com o campeonato europeu, juntando cinco das mais importantes provas automobilísticas, como o Grande Prémio de França, Itália, Alemanha, Checoslováquia e Suiça. Não havia construtores, porque... sejamos honestos, eram poucos e os alemães decidiram ganhar todas as corridas, graças aos Mercedes e aos Auto Union. E para quem não sabia, o sistema de pontuação era semelhante ao... da vela. O vencedor recebia um ponto, enquanto que quem desistisse nas primeiras voltas levava sete.
A 9 de setembro de 1945, no Bosque de Bolonha, nos arredores de Paris, começava a primeira corrida após a guerra, com os carros que sobreviveram à II Guerra Mundial. Eram essencialmente máquinas francesas e italianas, já que as alemãs estavam espalhadas pela Europa. Um dos Mercedes, por exemplo, estava na garagem de Rudolf Caracciola, na Suiça.
Em pouco mais de quatro anos, começou-se a elaborar um calendário razoável de corridas na Europa, e em certa medida começava-se a usar algumas das pistas que não poderiam ser usadas durante a guerra. Monza, por exemplo, tinha sido um depósito de transporte, bombardeado pelos Aliados, e só voltou a ser usado em 1948. E sitios onde a guerra não tinha passado, como a Argentina, começavam a albergar máquinas e pilotos, revelando o talento local.
Assim sendo, a CSI achou por bem relançar o campeonato com novas regras. O regulamento técnico era de 1938 e manteve-se, mas o vencedor recebia agora oito pontos, e poderiam receber mais um pela volta mais rápida. E sem as construtoras alemãs, ainda em recuperação (a Mercedes só voltaria nesse ano, mas apostou nos Turismos e na Endurance), deixou espaço para os italianos brilharem, especialmente a Alfa Romeo, como seu modelo 158, que tinha sido desenhado... em 1938. A Ferrari decidiu envolver-se, pois Enzo Ferrari queria bater o pessoal de Varese, que o tinha impedido de usar o seu nome por cinco anos quando saiu de lá, ainda em 1938. A sua sorte é que a guerra arrastou-se e quando ela acabou, o acordo tinha expirado.
E se antes da guerra, a luta foi entre alemães, agora a luta era entre italianos, com os outros meramente a observar, como os franceses da Talbot-Lago e da Gordini. E os ingleses, com a novata BRM, ainda tinham muito que aprender.
Claro que o vencedor era natural: Giusseppe "Nino" Farina, seguido pelo argentino Juan Manuel Fangio. E esses pilotos profissionais tinham tarimba: Farina estava com 43 anos, Fangio uns "meros" 39. Um dos poucos pilotos com idade mais... normal seria Alberto Ascari, que tinha 31 anos de idade nesse dia. Comparado com hoje em dia, nem é outra era, outro século. Parece ser de outro planeta. Mas a Formula 1 tinha de começar por algum lado, logo, só poderemos dar os parabéns. E que viva por muito mais tempo, pois merece.
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