Há 35 anos, Le Mans viu a vitória da persistência. O concretizar do sonho de um homem, que nasceu e cresceu em Le Mans, de juntar o seu nome na lista dos vencedores. O seu nome era Jean Rondeau.
Ouvi esse nome pela primeira vez em criança, num álbum de Michel Vaillant, quando ele fabricava chassis de Formula Ford para Julie Wood, uma americana que queria ser piloto de automóveis e tentava a sua sorte na Europa. O que não sabia na altura era que a sua história era a de um sonho que raiou a obsessão, até o alcançar.
Crescendo no mundo do automobilismo, cedo meteu na cabeça que queria vencer no sitio onde cresceu a admirar os Jaguares, Ferraris, Fords ou Matras. Começou em 1976 quando construiu o projeto Inaltera, com motor Ford Cosworth. Nos anos seguintes, sofreu um bocado, primeiro quando o seu patrocinador saiu de cena, e depois quando teve dificuldades para arranjar dinheiro para construir o seu próprio chassis, mas as coisas estavam melhores em 1979, quando já tinha feito o chassis M379 e tinha pilotos como Henri Pescarolo.
Em 1980, foi ao ataque. Com a Porsche um pouco retraída depois do projeto 935, e a voltar a um chassis com mais de doze anos (o 908 versão 80), Rondeau achou que era a sua vez. Com o Ford Cosworth e com pilotos como Jean Ragnotti (sim, o piloto de ralis!), Jean-Pierre Jassaud (que tinha ganho dois anos antes com Didier Pironi no Alpine-Renault) e claro, Henri Pescarolo, foi uma luta com os carros oficiais da marca alemã para ver quem sairia vencedor. Ragnotti e Pescarolo desistiram durante a noite, quando o seu motor explodiu, mas de manhã, Rondeau e Jassaud resistiam aos ataques do carro guiado por Jacky Ickx e Reinhold Joest.
No final, duas voltas separaram Rondeau da Porsche, e ele comemorou algo inédito e unico: um piloto construtor, de Le Mans, a vencer a corrida mais dura do mundo. E depois desse feito, ninguém mais conseguiu, apesar de tentativas de pessoas como Henri Pescarolo.
Rondeau continuou nos anos seguintes a tentar a sua sorte, mas teve desilusões, quer em termos de corridas, quer quando a FIA lhe trocou as voltas. O acidente mortal de Jean-Louis Lafosse, no ano seguinte, na reta da Hunaudiéres, e em 1982, quando a FIA lhe tirou o tapete em termos de construtores, dando o título à Porsche (a sua patrocinadora, a marca de elevadores Otis, decidiu retirar-lhe o patrocínio em retaliação) fez com que deixasse de lado a ideia de construir chassis, mas não a competição.
Rondeau teve um final trágico: na antevéspera de Natal de 1985, tentava atravessar uma passagem de nível com o seu Porsche (alegadamente, ia atrás de um carro da policia...) quando foi colhido por um comboio, tendo morte imediata. Tinha 39 anos e provavelmente mais alguns anos de carreira, mas o seu lugar na história não poderia ser retirado.
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