segunda-feira, 20 de julho de 2015

A equipa que mais pilotos matou foi... (Parte 1)

Nestes dias onde falamos de mais uma morte na Formula 1, depois de um longo periodo de ausência, pensa-se e observa-se a já longa lista de pilotos que pagaram o preço mais alto a fazer aquilo que mais gostavam e começa-se a pensar nas equipas em que eles guiavam quando soferam os seus acidentes fatais. Especialmente quando sabemos que a Manor-Marussia, mesmo sendo nova - apareceu na Formula 1 em 2010, como Virgin - já tem dois pilotos que sofreram acidentes potencialmente fatais, já que Maria de Villota sofreu um grave acidente em julho de 2012, com ferimentos graves e sequelas que aceleram a sua própria morte, em outubro do ano seguinte. 

Depois de uma longa pesquisa, chegou-se no final a um resultado previsível: a Ferrari é a equipa mais mortifera da história da Formula 1, dada a sua longevidade no automobilismo, tornou-se também no túmulo de diversos pilotos promissores na sua geração, bem como a alguns nomes consagrados, com os anos 50 a serem a década mais mortífera. A lenda de Enzo Ferrari, que pressionava os seus pilotos a darem o seu melhor, sempre no limite, que estes muitas das vezes passavam, com graves consequências, também passou e pesou muito nisto. E de facto, o Commendatore ficou com uma pesada reputação ao longo dos anos.

Hoje em dia, apesar da última morte já ter 33 anos, a Ferrari continua a ter essa péssima reputação, apesar da Lotus não andar muito longe da Scuderia nesta mortifera contagem, embora esta tenha apenas sete pilotos mortos com carros da marca de Colin Chapman, conhecida pela frase "Velocidade, adicione leveza".

Eis a infame lista de pilotos que perderam a sua vida ao volante de máquinas da Ferrari. O critério é simples: pilotos de Formula 1 em chassis Ferrari, sejam em testes e corridas de Formula 1, bem como noutras corridas, como de Turismos e Endurance, como as 24 horas de Le Mans.  

- Charles de Tornaco (Belgica) GP de Modena, 1953

O piloto belga De Tornaco tornou-se num dos fundadores da Ecurie Francochamps, que foi depois importador da Ferrari por muitos anos. Sempre correu pela Ferrari, tendo conseguido um sétimo lugar no GP da Bélgica de 1952, a bordo de um modelo 500. Contudo, a 18 de setembro de 1953, De Tornaco sofreu um acidente durante o GP de Modena, prova extra-campeonato. Gravemente ferido no pescoço e na cabeça, agonizou durante horas nas instalações hospitalares locais, devido à falta de socorro adequado, acabando por morrer. Tinha 26 anos.   

- Alberto Ascari (Itália) Testes em Monza, 1955.

Em 1955, Ascari, bicampeão do mundo pela Ferrari em 1952 e 53, estava a correr na Lancia, quando sofreu um acidente durante o GP do Mónaco, quando o seu carro vfalhou a travagem na Chicane do Porto e caiu à agua, sendo salvo apenas com um nariz partido. Três dias depois, estava em Monza, a assistir ao teste do seu amigo Eugenio Castelotti com um Ferrari 750 de Turismos. Por alturas da hora do almoço, Ascari pediu emprestado o capacete ao seu amigo, foi dar uma volta, despistou-se e morreu. Tinha 36 anos e curiosamente, foi a unica vez que ele não correu com o seu capacete azul-claro.

- Eugenio Castelloti (Itália) Teste em Modena, 1957

Eugenio Castelotti era visto como um sucessor de Alberto Ascari, especialmente quando ele era amigo e companheiro de equipa dele na Lancia. Acompanhou a equipa quando foi absorvida pela Ferrari e o seu desempenho era promissor, especialmente em 1955. Ao todo, conseguiu três pódios e uma pole-position, mas sem qualquer vitória.

Em 1957, Castelotti era piloto da Ferrari, e certo dia, o Commendatore tinha pedido para que estivesse presente num teste em Modena. Castelotti estava em Milão com a sua companheira, a atriz Della Scala, e confessou ter um mau pressentimento em relação a isso. Fez a viagem durante a noite e quase sem descanso, a 14 de março, foi fazer o teste com um novo modelo de Formula 1. Ao fim de algumas voltas, perdeu o controlo do seu carro, embateu fortemente contra um obstáculo e o carro voou para um palanque onde costumava estar pessoas, embora nesse dia estivesse vazio. O impacto matou Castellotti de imediato, aos 26 anos de idade.

Segundo se conta, quando Ferrari soube do acidente fatal, após o choque inicial da noticia, perguntou imediatamente pelo estado do carro. Isto chocou algumas pessoas, especialmente Piero Taruffi, que decidiu que não falaria mais com Ferrari até ao fim dos seus dias.

- Alfonso de Portago (Espanha) Mille Miglia, 1957

O nobre espanhol tinha um nome longo: Alfonso Antonio Vicente Eduardo Angel Blas Francisco de Borja Cabeza de Vaca y Leighton. Nascido a 11 de outubro de 1928, em Londres, foi um desportista completo, tendo participado nos Jogos Olimpicos de inverno de 1956, em Cortina D'Ampezzo, na equipa espanhola de bobsleigh.

Playboy e amante da velocidade, entrou na Ferrari em 1956, correndo na equipa de Endurance, mas com passagens pela Formula 1, onde conseguiu um segundo lugar no Grande Prémio da Grã-Bretanha, numa condução partilhada com Peter Collins.

No ano seguinte, continuava a correr quer nos GT's, quer na Formula 1, onde conseguiu um quinto lugar na Argentina, numa corrida partilhada com Froilan Gonzalez. Poucos meses depois, a 12 de maio, participava nas Mille Miglia, quando sofreu um acidente fatal. Estava a menos de 70 quilómetros da meta quando sofreu um furo e capotou fortemente, matando a ele, o seu navegador, o americano Edmund Nelson, e mais nove espectadores, cinco delas crianças. O seu acidente ditou o fim das Mille Miglia como corrida competitiva.


- Luigi Musso (Itália) GP de França de 1958

A Ferrari em 1958 tinha uma equipa poderosa, constituida pelo italiano Luigi Musso, os britânicos Peter Collins e Mike Hawtohrn, com as participações esporádicas de pilotos como o alemão Wolfgang von Trips e do belga Olivier Gendebien. Em Reims, quatro carros estariam presentes, os de Musso, Von Trips, Collins e Hawthorn. Estes últimos, grandes amigos, tinham acordado em juntar-se e derrotar Musso na concorrência direta.

O italiano, pressionado - aparentemente tinha altas dividas ao jogo - decidiu que iria batê-los na corrida, para ficar com o dinheiro do prémio de vitória, e foi para a frente, marcando o ritmo. Mas na nona volta, ele cometeu um excesso na curva Muzione, capotando o carro por várias vezes, e sendo cuspido. Gravemente ferido, acabaria por morrer no final do dia, aos 33 anos de idade.

A corrida foi ganha por Mike Hawtohrn, com Von Trips em terceiro e Collins em quinto, atrás de Juan Manuel Fangio, que fazia a sua última corrida da carreira. 

- Peter Collins (Grã-Bretanha) GP da Alemanha de 1958

A temporada de 1958 para Peter Collins (à direita na foto, ao lado de Hawthorn) era das melhores. Tinha vencido o GP da Grã-Bretanha, mas quem liderava o campeonato era o seu amigo Hawtohrn. Ele estava, de uma certa maneira, sob pressão para marcar pontos e vencer, pois o seu estilo de condução em Silverstone tinha sido descrita como "no limite". E o Nordschleife tinha fama de não perdoar a aqueles que erravam.

Para piorar as coisas, ele estava em conflito com Enzo Ferrari, que não gostava do seu estilo de playboy. Tinha o despedido por duas vezes naquele ano, mas tinha em Hawthorn um aliado e o seu maior defensor, e ele foi ter com Ferrari para o readmitir, que conseguiu.

Na Alemanha, ele estava no segundo posto, atrás de Tony Brooks, no seu Vanwall. A ideia era apanhá-lo e não só vencer, como também ajudar o seu amigo Hwathorn na sua luta pelo título. O duelo era intenso, só que acabou na volta dez, quando o carro voou na zona de Pflanzgarten, onde sofreu ferimentos graves na cabeça. Socorrido de imediato, viria a morrer no final do dia.

Quando Hawthorn soube do seu acidente fatal, decidiu que iria retirar-se da competição quando acabasse a temporada, tendo ou não o título mundial. Acabou por o conseguir, e iria acabar morto em janeiro do ano seguinte, também vitima de um acidente de automóvel, na Grã-Bretanha. 

(continua amanhã)

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